domingo, 25 de agosto de 2019

AS DUAS FACES DA FELICIDADE (Le Bonheur), 1965


Este cultuado filme da cineasta francesa Agnès Varda é um paradoxo: quis ela fazer um filme que rescendesse a total simplicidade e, no entanto, o resultado é de uma mal disfarçada afetação. O uso (exagerado) de bosques primaveris ao som da música de Mozart onde uma família desfruta de momentos de lazer intenta mostrar a singeleza da felicidade. É lá que o carpinteiro François (Jean-Claude Drouot) ama sua esposa, a costureira Thérèse (Claire Drouot). Moram em Fontenay e, em viagens a trabalho a Vincennes, François se envolve com Émilie (Marie-France Boyer) com quem divide seu amor. Ou melhor acumula amor, como ele pretende ao contar à esposa a infidelidade. Thérèse comete suicídio e François e Émilie juntam-se, os filhos pequenos mal percebem a troca de mães e vão todos passear... nos floridos bosques ao som de Mozart. Tudo é simples e rápido demais, a ponto de Varda não aprofundar a súbita paixão e, pior ainda, surpreender com o gesto trágico da esposa traída deixando no mundo duas crianças pequenas. Mas não há tempo para tristeza já que a felicidade logo retoma seu lugar. O desenvolvimento linear de “Le Bonheur” parece incomodar a cineasta que sem cerimônia insere cortes e edição rápidas que contrastam com a presumida leveza do filme. A curiosidade é que Jean-Claude Drouot, Claire e as crianças eram uma família na vida real. 6/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Sebá Santos.




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