terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

BEIJA-ME IDIOTA (Kiss me, Stupid), 1964


Esta é a mais corrosiva comédia de Billy Wilder criticando desta vez o casamento com a costumeira mordacidade dos enredos que Billy escrevia em parceria com I.A.L. Diamond. E foi também o maior fracasso comercial da carreira do cineasta vienense graças ao ‘C’ (de ‘Condenado’) que o filme recebeu da Legião Católica de Decência. Inconformada porque o filme mostra que o pecado do adultério pode ser compensador, a Legião proibiu que católicos o assistissem. Azar de quem deixou de ver Zelda (Felicia Farr) a esposa do professor de piano (Ray Walston) cair nos braços do famoso cantor e inveterado conquistador Dino (Dean Martin). Isto apesar de Zelda (Felícia Farr) ser substituída pela garçonete Polly, a Pistoleira (Kim Novak) que passa a noite com o enciumado pianista nesta transgressiva farsa. Peter Sellers chegou a filmar por seis semanas como o marido ciumento, até que teve um ataque cardíaco cedendo o papel para o sem graça Walston numa participaçãol que ninguém faria melhor que Jack Lemmon. Dean Martin está esplêndido se autoparodiando e Kim Novak nunca esteve mais bonita e desejável. A música de George Gershwin com versos atualizados por seu irmão Ira Gershwin completa o superior e injustiçado filme de Billy Wilder. 8/10






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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

RELÍQUIA MACABRA [O FALCÃO MALTÊS] (The Maltese Falcon), 1941


No mesmo ano em que Orson Welles estreou com o ruidoso “Cidadão Kane”, John Huston fazia também seu primeiro filme e igualmente a ‘Kane’ um marco cinematográfico. Levada às telas pela terceira vez, a história “O Falcão Maltês” de Dashiell Hammett não prometia mais que apenas outro policial rotineiro, mas “Relíquia Macabra” foi muito além disso. Com roteiro também de Huston que praticamente transcreveu a novela de Hammett sobre a busca de uma estatueta valiosíssima que rodava pelo mundo desde o século XIV, o diretor realizou um filme que se tornou instantaneamente influente. O estilo noir ainda não existia como tendência, mas John Huston criou, sem malabarismos de câmara ou iluminação, um clássico que teve a feliz escolha de Humphrey Bogart para interpretar o cínico, violento, homofóbico e amoral detetive Sam Spade. Na disputa pela preciosa relíquia Spade se defronta com um trio inesquecível de vilões formado por Sidney Greenstreet e Peter Lorre, ambos latentemente homossexuais, e mais o psicótico Elisha Cook Jr. Mentirosa, fria e distante da comum mulher fatal Mary Astor completa o esplêndido elenco do filme que elevou Bogart à condição de astro. 9/10





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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

LA DOLCE VITA, 1960


Revisto 30 anos após seu lançamento este filme de Federico Fellini não causou o mesmo impacto pois o mundo havia mudado bastante em três décadas. Em 1960 o Vaticano tentara proibir sua exibição, declarando-o, através de seus jornais, um filme blasfemo, um verdadeiro sacrilégio, tendo sido banido em alguns países católicos. Assistido quase 60 anos depois esta realização de Fellini mostra-se atemporal e universal em muitos aspectos que não aqueles que chocaram ao mostrar o hedonismo, a devassidão e a frivolidade retratada na Roma dos anos 60. Sem nenhuma pretensão de inovação cinematográfica, “La Dolce Vita” criou uma nova forma de fazer cinema, com um tipo de narrativa onde aparentemente nada acontece mas que magicamente envolve o espectador. É a atmosfera felliniana que seduz e conduz aos simbolismos que seu filme contém, à crítica social e à futilidade de comportamento. Não há uma trama estabelecida e o único personagem central é o do jornalista Marcello, através de quem a sardônica prosa de Fellini dividida em sete episódios transcorre por quase três horas sem jamais cansar o espectador. Marcello Mastroianni revelou-se com este filme um dos grandes sedutores do cinema e ao mesmo tempo um admirável ator. Ao lado de “Amarcord” as obras-primas de Fellini. 10/10





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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

ERA UMA VEZ NO OESTE (C'Era una Volta il West), 1968


Depois da bem sucedida artística e comercialmente ‘Trilogia dos Dólares’, Sergio Leone entendeu que chegara a hora de lembrar ao mundo que sua criatividade não conhecia limites. Com “Era Uma Vez no Oeste” o diretor italiano pretendeu mostrar a chegada da civilização ao Velho Oeste realizando um filme majestoso e deslumbrante. Atingiu seu objetivo pois nenhum outro western se compara a “Era Uma Vez no Oeste” quanto a impressionar pelo lirismo elegíaco de suas imagens. Reconhecido tanto por sua inventividade quanto por seus excessos, Leone não dosou devidamente seu estilo ao conceber uma grande ópera-western. Esta suprema teatralização do gênero mereceria ser creditada como um filme de Sergio Leone e Ennio Morricone pela importância da música do genial maestro-compositor da qual as imagens não podem ser dissociadas. Preocupado em fazer excessivas referências aos westerns norte-americanos que tanto reverenciava, por vezes o roteiro denuncia que a preocupação de Leone era menos com a história e mais com as possibilidades dos elaboradíssimos maneirismos de seu estilo.  Claudia Cardinale está mais linda que nunca compensando sua limitação como atriz dramática. Henry Fonda perfeito como o cruel vilão e Charles Bronson faz de tudo para que se esqueça que Harmônica foi imaginado para Clint Eastwood. 8/10 - Resenha completa no blog http://westerncinemania.blogspot.com.br/






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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A PRINCESA E O PLEBEU (Roman Holiday), 1953


Dalton Trumbo escreveu, em 1949, uma história diferente mas que lembrava Cinderela ao contrário. Uma princesa que se apaixona por um simples jornalista, história que o próprio Trumbo roteirizou antes de se tornar um dos ‘Dez de Hollywood’. O projeto acabou nas mãos de William Wyler que, em 1953, cansado de tantos filmes dramáticos queria filmar algo mais leve e foi para Roma rodar “A Princesa e o Plebeu”. Gregory Peck é o jornalista e a novata em Hollywood, aos 23 anos de idade e belga de nascimento, Audrey Hepburn é a princesa que cansada da rotina burocrática foge do palácio onde está hospedada em Roma e vive 24 horas distante do conforto da realeza. Wyler realizou uma das mais adoráveis comédias românticas do cinema e revelou ao mundo uma atriz por quem todos se apaixonaram. A graça, a elegância, a discreta sofisticação, o charme irresistível e a beleza de Audrey somaram-se ao seu admirável talento como atriz. Gregory Peck está magnífico como o jornalista que muda seus planos ao se descobrir apaixonado pela princesa e méritos para William Wyler que comprova mais uma vez ser um excepcional diretor de atores. Audrey recebeu o Oscar de Melhor Atriz, bem como o roteiro de Dalton Trumbo e “A Princesa e o Plebeu” fez enorme sucesso. Daqueles filmes que mereciam ser em cores para melhor se ver Audrey e Roma. 9/10






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domingo, 12 de fevereiro de 2017

CURVA DO DESTINO (Detour), 1945


Um filme norte-americano é selecionado para preservação na Biblioteca do Congresso se ele tiver significação cultural, histórica ou estética. Pois “Curva do Destino”, uma produção baratíssima da pequena Producers Releasing Corporation (PRC), produtora mais lembrada por suas séries de westerns-B, obteve essa honraria que só grandes clássicos conseguem. Dirigido pelo austro-húngaro Edgar G. Ulmer, “Curva do Destino” é um dos mais perfeitos exemplos de autêntico filme noir com seus 68 minutos de duração permeados pelo fatalismo comum ao gênero. Narrado em primeira pessoa pelo irritadiço e pessimista anti-herói (Tom Neal), “Detour” traz a impressionante caracterização da mulher fatal, cruel e opressiva (Ann Savage). O personagem de Neal faz uma série de opções erradas, ilógicas mesmo e típicas de quem vive um pesadelo, o que o leva ao desvio do título original. Numa das melhores frases do excepcional roteiro de Martin Goldsmith, Neal diz que para onde quer que vá o destino lhe aplicará uma rasteira. Estilo visual e narrativa magníficos com destaque para as interpretações de Neal e Ann Savage, esta perto de quem Phyllis Dietrichson (Barbara Stawyck) é até suave. 8/10





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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

NUNCA AOS DOMINGOS (Pote kin Kyriaki), 1960


Nada indicava que aquele diretor chamado Jules Dassin, perseguido pelo macarthismo e que se exilara na Europa, faria uma das mais encantadoras comédias do cinema. Da filmografia de Dassin constava dramas e policiais sombrios mas seu sonho era dirigir a história que escrevera sobre uma cativante prostituta, algo que naqueles tempos era fora de cogitação. Casado com a atriz grega Melina Mercouri, ela era a meretriz perfeita que saciava a fome de amor de quase todos os homens do porto de Pireus, a qualquer hora de qualquer dia da semana, menos nos domingos. Esse dia Ilya reservava para assistir às tragédias gregas que para ela tinham sempre um final feliz, fosse “Édipo-Rei” ou “Medéia”. E a felicidade de Ilya era completada pelo prazer que proporcionava a sua numerosa clientela, até que um norte-americano que está em busca da ‘verdade da vida’ consegue entristecer a radiante Ilya. O tema de “Nunca aos Domingos” discute se a Filosofia, a moralidade e as artes em geral podem por si só tornar alguém feliz, concluindo que não. A música de Manos Hadjidakis é magnífica e a música-tema foi a primeira canção estrangeira a ser premiada com o Oscar. Dassin está maçante como o antipático turista que se mete na vida de Ilya, mas Tito Vandis (Jorgo) só brilha menos que a adorável, sedutora e maravilhosa Melina. 9/10




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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

MEIAS DE SEDA (Silk Stockings), 1957


A guerra fria entre USA e URRS prosseguia e cada contendor usava as armas que podia. O cinema era uma das formas de os norte-americanos atacarem e em 1957 Hollywood realizou uma sátira mordaz ao regime soviético com a comédia musical “Meias de Seda”, refilmagem do clássico “Ninotchka” com Greta Garbo. Se no filme de 1939 havia o texto irresistível de Billy Wilder e Charles Brackett, em “Meias de Seda” há música, dança e Paris para ‘corromper’ Ninotchka e o trio de enviados de Moscou. Como poderiam eles resistir à dança, à música e à Cidade-Luz, mais ainda se a música for de Cole Porter e Fred Astaire estiver dançando. Cole Porter não estava no habitual estado de graça, mas “All of You” vale por todas as demais canções. Esse clássico foi interpretado por Fred Astaire que se despediu da dança no cinema com este filme, aos 58 anos de idade. Mas para compensar Cyd Charisse está maravilhosa, dançando como nunca e exibindo o mais lindo par de pernas que o cinema já viu, além de fazer um inesquecível (e até onde possível) strip-tease. Tente reconhecer ‘M’ (Peter Lorre) divertidíssimo saltitando com seus olhos esbugalhados ao som da deliciosa “Siberia”. Rouben Mamoulian dirigiu o “Meias de Seda”, seu último filme. 8/10




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domingo, 5 de fevereiro de 2017

ALMA TORTURADA (This Gun for Hire), 1942


Enganam-se aqueles que acreditam que “Shane” foi o mais importante filme da carreira de Alan Ladd. Em 1941, depois de dez anos tentando em vão uma boa oportunidade no cinema (apareceu até em “Cidadão Kane”) Ladd foi contratado pela Paramount para ser coadjuvante num filme feito para Veronica Lake. Logo nas primeiras tomadas o diretor Frank Tuttle percebeu que o personagem do assassino de aluguel ‘Raven’ deveria ser expandido e Veronica passou para o segundo plano, assim como Robert Preston e Alan Ladd domina o filme como o frio psicopata, numa interpretação primorosa, que jamais repetiria. O enorme Laird Cregar faz um tipo acovardado  e divertido, roubando todas as cenas em que aparece. Concebido para ser um filme B, ao custo de 500 mil dólares, “Alma Torturada” é um policial noir com ritmo, atmosfera e ação perfeitos nos seus 80 minutos de duração. Rendeu mais de 12 milhões de dólares em seu lançamento, catapultando a carreira de Alan Ladd. A Paramount reuniu a dupla Lake-Ladd por mais três vezes especialmente porque faziam um par perfeito ela com seu 1,51m de altura e ele 1,63m. Curiosamente ambos faleceram aos 50 anos de idade, tendo os dois sérios problemas com o alcoolismo. 8/10






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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

PAT GARRETT & BILLY THE KID (1973)


Sam Peckinpah já havia dado ao gênero western duas obras-primas com “Pistoleiros do Entardecer” (1962) e “Meu Ódio Será Sua Herança” (1969). A expectativa com “Pat Garrett & Billy the Kid” era que Peckinpah completasse com outro grande filme uma espécie de trilogia sobre o fim do Velho Oeste falando de William Bonney, personagem lendário cuja vida Hollywood nunca cansou de explorar. Criando com seu temperamento explosivo os costumeiros problemas durante as filmagens, tudo se agravou durante a produção com o então alcoolismo incontrolável de Peckinpah.  O esperado filme mostrou-se incoerente, repleto de situações e personagens que pouco tem a ver ou contribuem para a coesão do enredo e envolvimento do espectador. Há, como não poderia deixar de ser, uma ou outra sequência que denunciam o talento de Peckinpah, mas é pouco, mesmo na versão que a Turner lançou como sendo a ‘director’s cut’, com 115 minutos de duração. Peckinpah se esqueceu de Billy the Kid e se concentrou no drama pessoal de Pat Garrett, esplendidamente vivido por James Coburn. Um número enorme de formidáveis atores coadjuvantes são desperdiçados em pontas insignificantes e Bob Dylan, autor da bela trilha sonora musical tem uma insuperavelmente bizarra atuação. 6/10





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