domingo, 27 de outubro de 2019

O INCIDENTE (The Incident), 1967


Esta modesta produção dirigida por Larry Peerce é uma apavorante viagem filmada quase inteiramente dentro de um vagão do metrô de Nova York. Já de madrugada 14 passageiros são aterrorizados por dois marginais (Tony Musante e Martin Sheen) que se divertem ameaçando-os e agredindo-os, impedindo a saída do vagão. Ninguém escapa da sanha dos criminosos e o líder (Musante) usa de pervertida psicologia para, um a um, desmoralizar a todos. Entre as vítimas estão um homossexual,um viciado, casais negros, brancos e idosos e até dois jovens soldados do Exército. A selvageria da dupla instala o pavor e faz com que os passageiros revelem seus problemas pessoais e verdadeiras personalidades. O diretor Peerce dirige com habilidade fazendo crescer minuto a minuto o desespero não só dos passageiros mas também do espectador numa tensão que explode com um final angustiante e catárquico. O elenco composto por jovens atores praticamente desconhecidos como Beau Bridges e Musante, além de Martin Sheen e Donna Mills em seus primeiros filmes. São coadjuvados por veteranos com participações marcantes, especialmente as de Jan Sterling, Gary Merrill e do negro Brock Peters.  Drama violento que pode não agradar a todos mas que é quase perfeito. O ‘quase’ fica por conta da facilidade com que os dois delinquentes são abatidos ao final. 9/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Sebá Santos.




quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A NOIVA ESTAVA DE PRETO (La Mariée Était em Noir), 1968


François Truffaut era tão apaixonado pelo cinema de Alfred Hitchcock que, depois de consagrado, decidiu fazer filmes para homenagear o Mestre do Suspense. Este é seu filme mais hitchcockiano mas está longe de ser uma homenagem lisonjeira. No dia de seu casamento Julie Kohler (Jeanne Moreau) vê seu marido ser morto por um tiro disparado acidentalmente em uma brincadeira entre cinco homens. Eles desaparecem sem deixar vestígios, mas Julie descobre quem eles são e onde estão, assassinando-os cada um de modo diferente. Essa vingança fria e racional é o problema maior do filme que não explica como a viúva chega aos cinco homens. À parte o roteiro incoerente, pouca coisa funciona a contento e o filme de suspense simplesmente não tem suspense. O final que pretende ser surpreendente é totalmente previsível. Truffaut só consegue agradar quando cria um personagem (um alter-ego seu) que se apaixona por sua modelo (a própria Jeanne). La Moreau, uma atriz minimalista em suas expressões quase sempre ressentidas e pessimistas, carrega o filme com seu charme irresistível, especialmente quando três de suas vítimas descobrem seus encantos. O elenco de coadjuvantes tem nomes conhecidos que atuam sem maior brilho.  Bernard Herrmann, compositor das trilhas de Hitchcock, cuidou da música e Raoul Coutard da cinematografia. 5/10


terça-feira, 15 de outubro de 2019

EM FAMÍLIA, 1971


Este tocante drama sobre a velhice e, por extensão, sobre o egoísmo dos filhos diante de seus pais recebeu muitos prêmios e depois, imerecidamente, o esquecimento. Um casal de idosos (Rodolfo Arena-Iracema de Alencar) não pode mais pagar o aluguel da casa onde moram e, sem ter para onde ir, se alojam em diferentes casas dos filhos, uma em cada cidade. São tantos os problemas que vão surgindo que a mãe acaba indo para um asilo enquanto o pai é mandado para Brasília, separados depois de toda uma vida juntos e sem que seus quatro filhos façam maior esforço para os ajudar. Baseado em romance e peça teatral dos anos 30, a adaptação para nossa realidade foi feita por Oduvaldo Viana Filho em parceria com Paulo Porto, este também diretor. Ferreira Gullar colaborou no roteiro deste perfeito retrato de situações que são comuns em muitas famílias e no qual a música de Egberto Gismonti realça o clima de melancolia que permeia o filme um tanto teatral. Porém as externas de “Em Família” formam um rico documento mostrando aspectos de uma São Paulo que não existe mais, especialmente o bairro do Canindé e suas ainda irreconhecíveis Marginais. Elenco homogêneo com comoventes interpretações de Fernanda Montenegro, Rodolfo Arena e Iracema de Alencar, coadjuvados pelas ótimas Anecy Rocha e Odete Lara. Último filme de Procópio Ferreira, divertido em cada fala e olhar nos únicos momentos engraçados da história. 8/10