quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

RÉQUIEM PARA UM LUTADOR (Requiem for a Heavyweight), 1962


Qual a melhor interpretação de Anthony Quinn no cinema? Difícil responder entre tantos excepcionais trabalhos, mas, como ‘Mountain Rivera’, Quinn teve atuação extraordinária. Escrito como teleplay por Rod Serling e exibido na TV em 1956 (com Jack Palance como Rivera), este filme de apenas 85 minutos narra a decadência de um pugilista e como funciona o submundo da chamada ‘Nobre Arte’. Após 17 anos enfrentando pesos-pesados, Mountain Rivera luta contra o jovem Cassius Clay (Mohamad Ali, ele mesmo) e um golpe em seu olho encerra sua carreira. O grandalhão Rivera tem o rosto desfigurado, sua fala não tem articulação normal e ele tenta, sem sucesso, outra atividade. Seu empresário (Jackie Gleason) está encrencado com mafiosos e para salvá-lo Rivera termina envergonhado como índio num ringue de luta-livre. Próximo da força do clássico “Punhos de Campeão”, de Robert Wise, o maior problema desta estreia de Ralph Nelson no cinema é a inconvincente presença da assistente social tentando ajudar Rivera. Além da notável atuação de Anthony Quinn, o filme tem as ótimas presenças de Gleason, Mickey Rooney e da sempre brilhante Julie Harris. Quinn trabalhou neste filme num intervalo de dois meses das filmagens de “Lawrence da Arábia”. – 8/10





sábado, 8 de fevereiro de 2020

ULYSSES (Ulisse), 1954


Kirk Douglas exultou quando foi convidado para filmar na Itália uma aventura de capa-e-espada, gênero no qual seu amigo (e rival como astro) Burt Lancaster fazia muito sucesso. Mais ainda porque a história seria baseada na Antiguidade Clássica, mais precisamente na “Odisséia”, o poema escrito por Homero e ele Kirk interpretaria Ulysses, o herói grego. Nada menos que sete roteiristas trabalharam na adaptação para contar como Penélope (Silvana Mangano) passou dez anos esperando pelo marido Ulysses que, desde a guerra de Tróia, não mais retornou para Ítaca, onde era rei. Ulysses enfrentou tempestades, canto de sereia, o gigante Polifemo (cíclope de um só olho), um campeão de luta grega, caiu nos braços da bruxa Circe, se enamorou de uma princesa, perdeu a memória e enquanto isso vários pretendentes queriam desposar Penélope, entre eles Telêmaco (Anthony Quinn). No dia do casamento de Penélope com Telêmaco, Ulysses reaparece e toma seu lugar. “Ulysses” é um dos precursores do ‘Peplum’, gênero que dominaria o cinema italiano de 1958 a 1964 e Kirk Douglas parece ser o único a levar o filme a sério com uma interpretação transbordando de energia e vibração. Silvana Mangano interpreta dois papeis, ambos com a mesma expressão apática. Anthony Quinn aparece por minutos, infelizmente. 6/10





sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

O NONO MANDAMENTO (Strangers When We Meet), 1960


História bastante ousada para o fim da década de 50, tempos em que o cinema ainda não discutia abertamente o tema ‘adultério’. Larry Coe (Kirk Douglas) é um arquiteto que se apaixona por Margareth ‘Maggie’ Gault (Kim Novak). Ambos são casados e têm filhos mas o casamento dela vai mal, enquanto ele se deixa levar pela paixão que logo também domina Maggie. A ação se passa num subúrbio de classe média de Los Angeles e Coe está construindo uma casa para um escritor bem sucedido (Ernie Kovacs) em Bel-Air, onde moram os milionários. À medida que a casa toma forma aumenta o amor adúltero entre o arquiteto e Maggie. Eve (Barbara Rush), a esposa de Coe, descobre a traição e ele se vê diante do dilema de manter o casamento ou tentar uma nova vida com Maggie. Os melodramas atraíam multidões nos anos 50 e Douglas Sirk era cultuado como mestre do gênero. Estranhamente este excelente filme coproduzido pela Bryna de Kirk Douglas e dirigido por Richard Quine foi mal recebido pela crítica e é um dos menos conhecidos do grande ator. No entanto a história é bem narrada e envolve inteiramente o espectador crescendo magnificamente em seu final. Kirk Douglas intenso como de hábito, Kim Novak com boa atuação dentro de seus limites artísticos e Barbara Rush é quem brilha como a esposa enganada. Ninguém faz melhor um tipo canalha que o ótimo Walter Matthau. 8/10





domingo, 2 de fevereiro de 2020

DÁ-ME UM BEIJO (Kiss me Kate), 1953


Poucos são os filmes dos quais podem ser listadas dez razões para serem assistidos. “Dá-me um Beijo”, musical dirigido por George Sidney é um deles. Eis dez motivos: 1) É uma peça clássica de Shakespeare transformada em musical. 2) As canções são todas do genial Cole Porter. 3) Ann Miller está mais esfuziante e bonita que nunca (ah, que pernas!). 4) A simpatia e o vozeirão de Howard Keel. 5) A graça e a bela voz de Kathryn Grayson. 6) James Whitmore e Keenan Wynn impagáveis como gângsteres. 7) O jovem Bob Fosse apresentando seu talento a Hollywood. 8) Carol Haney dançando com Bob Fosse. 9) Os magníficos cenários medievais da peça. 10) É um musical da Metro. E ainda há a interessante trama: Cole Porter escreve um musical baseado em “A Megera Domada” e quem vai interpretar ‘Petruccio’ é Fred Graham (Howard Keel) enquanto ‘Katherine’ é Lilli Vanessi (Kathryn Grayson). Fred e Lilli são divorciados e a apresentação os reaproxima mesmo transferindo suas animosidades pessoais para os personagens. Canções inspiradíssimas de Cole Porter e coreografia admirável de Hermes Pan transmitem irresistível alegria. Além do talento do grande elenco que sabe cantar e dançar há um número engraçadíssimo com James Whitmore e Keenan Wynn. “Dá-me um Beijo” é desses filmes que nos deixa tristes quando termina, mais ainda porque esse gênero maravilhoso estava com os dias contados. 10/10