terça-feira, 30 de maio de 2017

PERVERSA PAIXÃO (Play Misty for Me), 1971


Consagrado como ator de sucesso e com sua produtora Malpaso dando lucro seguidamente, Clint Eastwood entendeu que era hora de passar à direção. Com “Perversa Paixão” Clint iniciou uma igualmente vitoriosa carreira como diretor, fazendo o que bem entendeu com a história de Jo Heims sobre uma mulher obsessiva que persegue e complica a vida de um disc-jockey. Para interpretar a maníaca que é um misto de Bette Davis com Joan Crawford, Clint escolheu Jessica Walter e o próprio Clint ficou com o papel do DJ. Este thriller tem ótimos momentos que mostram que uma relação efêmera e aparentemente normal pode ter consequências imprevisíveis, na linha de “Atração Fatal” realizado em 1987. “Perversa Paixão” somente não é uma estreia perfeita porque Clint abusou um pouco das paisagens de Carmel-by-the-Sea, onde ele morava, além de inserir uma longa sequência documentando o Festival de Jazz de Monterey. Quebra também o ritmo do filme um clip musical com Roberta Flack interpretando a linda canção “The First Time I Ever Saw Your Face”. A maravilhosa “Misty” de Errol Garner só é ouvida ao final neste filme que é todo de Jessica Walter. Filmado em um mês e tendo custado 750 mil dólares, o filme deu um lucro de dez milhões de dólares. Assim era o completo homem de cinema Clint Eastwood. 7/10





Direção: Clint Eastwood / Elenco: Clint Eastwood - Jessica Walter - Don Siegel - John Larch - Clarice Taylor - Donna Mills - Irene Hervey - James McEachin - Britt Lind - Duke Everts

quinta-feira, 25 de maio de 2017

BRAVURA INDÔMITA (True Grit), 1969


“Bravura Indômita” obteve grande sucesso de público mesmo sem ser um western superior no nível dos melhores de John Wayne. E o Duke recebeu, finalmente, o Oscar de Melhor Ator mesmo sem ter tido uma atuação portentosa como teve em “Rio Vermelho” e “Rastros de Ódio”. O Oscar premiou uma das mais brilhantes carreiras que um ator poderia ter e “Bravura Indômita” é um filme que merece ser visto especialmente pela fantástica sequência do confronto entre Rooster Cogburn (Wayne) e quatro bandidos. Num espaço aberto Rooster avisa que vai prender Ned Pepper (Robert Duvall) e este debochadamente responde: “Você é confiante demais para um homem gordo e caolho...”. O delegado então grita: “Prepare-se seu desgraçado” e prende as rédeas de seu cavalo com os dentes e com um rifle em uma das mãos e um revólver na outra galopa em direção ao quarteto também armado arremetendo como se fosse um cavaleiro medieval num daqueles torneios clássicos. Esse momento é um dos mais marcantes entre os tantos westerns do Duke e se tornou instantaneamente antológico no gênero. Mesmo com toda grandiosidade da sequência o filme de Hathaway só emociona pela presença de John Wayne. 7/10





Direção: Henry Hathaway / Elenco: John Wayne - Kim Darby - Glen Campbell - Robert Duvall - Strother Martin - Jeremy Slate - Dennis Hopper - Jeff Corey - H.W. Gim - James Westerfield - Ken Renard - John Doucette - John Pickard - Elizabeth Harrower - Edith Atwater - Alfred Ryder - John Fiedler - Hank Worden - Ron Soble - Carlos Rivas - Stuart Randall - Myron Healey - Boyd 'Red' Morgan


segunda-feira, 22 de maio de 2017

O BEIJO DA MORTE (KISS OF DEATH), 1947


Ainda que não fosse um ótimo filme policial, “O Beijo da Morte” teria inegável importância por sido a estreia no cinema de Richard Widmark. E que estreia!!! Páreo duro para James Cagney que nunca imaginou rolar uma senhora com cadeira de rodas e tudo escada abaixo. Além de Widmark interpretando ‘Tommy Udo’, este filme é notável por ter sido o primeiro policial a ser filmado nas ruas de Nova York, sugestão do diretor Henry Hathaway e que contribuiu para sua maior autenticidade. Victor Mature se vê forçado a fazer delação e para seu azar denuncia justamente o ‘Risadinha’ que é inocentado e parte para a vingança. O roteiro de Ben Hetch-Charles Lederer é um notável estudo de delação e como a polícia transforma alguém em delator. O chefe de polícia Brian Donlevy diz em certo momento que ‘delatar é um crime que pode ser praticado para o bem ou para o mal’, justificando o enredamento de Mature. Richard Widmark recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por seu desempenho como ‘Tommy Udo’ e Victor Mature, dentro de seus limites, contradiz mais uma vez quem zombava dele como ator. 8/10





Diretor: 

sábado, 20 de maio de 2017

VIAGEM AO CENTRO DA TERRA (Journey to the Center of the Earth), 1959


Os afortunados jovens que leram Júlio Verne quando crianças viram com alegria essas aventuras chegarem ao cinema. Em 1959 foi a vez de “Viagem ao Centro da Terra” virar filme numa produção da 20th Century-Fox com James Mason (o Capitão Nemo de “20 Mil léguas Submarinas”) liderar a expedição às profundezas da Terra. Os leitores de Júlio Verne por certo estranharam a presença de alguns personagens como a vivida por Arlene Dahl e o Conde Saknussen como vilão que não estavam no original de Verne, enquanto o sobrinho do Prof. Lindenbrook passou a ser o jovem aluno interpretado por Pat Boone. O roteiro de Charles Brackett e Walter Reisch quiseram com as alterações dar um tom mais cinematográfico à história e, a despeito de algumas coincidências forçadas como o encontro da mensagem num prumo dentro de uma lava, o filme dirigido por Henry Levin é um agradável entretenimento. Há de tudo na fascinante descida da expedição que chega à Atlântida e se defronta com répteis pré-históricos, uma floresta de cogumelos e até ‘o encontro das forças magnéticas dos polos’. A música de Bernard Hermann é extraordinária e a bem cuidada fotografia não disfarça o excesso de papel pedra nas cavernas nesta simpática sci-fi que teve um remake em 2008. 7/10






Diretor: Henry Levin / Elenco: James Mason - Arlene Dahl - Pat Boone - Peter Ronson - Thayer David - Diane Baker - Alan Napier - Ivan Triesault - Ben Wright - Alan Caillou - Mary Blady - John Epper - Edith Evanson - Robert Adler

quinta-feira, 18 de maio de 2017

DIABO A QUATRO (Duck Soup), 1933


Nada se compara se o assunto é humor aos Irmãos Marx e “Diabo a Quatro”, o melhor de seus filmes comprova isso. Nesta completamente amalucada comédia o quarteto está no melhor de sua forma, ainda que Zeppo Marx colabore quase nada para o turbilhão de gargalhadas provocadas por seus irmãos. Ao se tornar presidente da Libertônia, o ‘estadista’ Groucho sofre espionagem por parte de Chicolini e Pinky, agentes enviados por Louis Calhern, da vizinha Sylvânia. Só mesmo uma guerra para colocar fim às sandices dos três, mas se os Irmãos Marx são desatinados em tempos de paz, imagine-se do que são capazes numa batalha. Gags se sucedem durante toda a história de Bert Kalmar e Harry Ruby, com diálogos surrealistas de Arthur Sheekman e Nat Perrin, com Groucho, Harpo e Chico levando à tela números que trouxeram dos palcos do teatro Vaudeville. Leo McCarey assina a direção como se fosse possível dirigir os infernais irmãos e exemplo disso é a incrível sequência do espelho com os três caracterizados como Groucho de tal forma que não se distingue quem é quem. Nada do sentimentalismo poético de Chaplin ou Keaton e por isso mesmo únicos na irreverência e no absurdo das situações. 9/10




Diretor: Leo McCarey / Elenco: Groucho, Chico, Harpo e Zeppo Marx - Margaret Dumont - Louis Calhern - Raquel Torres - Charles Middleton - Edgar Kennedy - Edwin Maxwell - Verna Hillie  Leonid Kinskey

terça-feira, 16 de maio de 2017

SANGUE DE PANTERA (Cat People), 1942


Depois de Orson Welles quase quebrar a RKO com seus três filmes (“Cidadão Kane”, “Soberba” e “It’s All True”), o estúdio deu oportunidade a Val Lewton para produzir um filme intitulado “Sangue de Pantera”. Realizado com orçamento reduzido e com direção do francês Jacques Tourneur, o filme alcançou inesperado sucesso de crítica e público e esse êxito possibilitou a Val Lewton produzir outros oito filmes no gênero terror na RKO. Essa série fez dele um dos nomes mais importantes desse tipo de película que assusta o público. Diferentemente do que até então se fazia, especialmente no ciclo da Universal, “Sangue de Pantera” não tem monstros, castelos ou outros clichês, mas sim a sutil sugestão que igualmente leva ao terror. Em Nova York uma moça sérvia acredita em uma lenda de seu país, segundo a qual mulheres se transformam em felinos assassinos caso se apaixonem. E Irena Dubrovna (Simone Simon) é uma delas, jamais consumando sexualmente seu casamento. Com meros 72 minutos o filme de Tourneur com excepcional fotografia explorando luz e sombra só não é melhor pelo inconvincente triângulo amoroso. A relação da mulher-pantera com o psicanalista é provocantemente sensual. Lewton produziu em 1944 a continuação “A Maldição do Sangue da Pantera”, com direção de Robert Wise. 8/10





Diretor: Jacques Tourneur / Elenco: Simone Simon - Kent Smith - Jane Randolph - Tom Conway - Elizabeth Russell - Jack Holt - Alan Napier - Alec Craig - Henrietta Burnside - Theresa Harris - Mary Halsey - Dot Farley

sexta-feira, 12 de maio de 2017

JUSTICEIRO IMPLACÁVEL (Rooster Cogburn), 1975


A improvável e tardia reunião de John Wayne e Katharine Hepburn resultou num marcante encontro cinematográfico entre os dois veteranos astros. Isso aconteceu em um filme que visava aproveitar o sucesso que o Duke havia obtido com seu personagem Rooster Cogburn, com uma nova aventura do xerife caolho e beberrão de “Bravura Indômita”. Aquilo a que chamam ‘química’ funcionou esplendidamente não só porque Kate é uma excepcional atriz e Wayne ficou inteiramente à vontade com ela, mas porque contaram com um roteiro com diálogos memoráveis de autoria da bela Martha Hyer. Esposa do produtor Hal B. Wallis, Martha foi creditada estranhamente como ‘Martin Julien’ e a história cruza a caçada do xerife a um grupo de bandidos com o desejo de vingança de uma missionária que teve o pai assassinado pelo mesmo bando. Nitroglicerina e uma metralhadora Gatling numa jangada são ingredientes neste western cujo clímax é o duelo dentro de um rio. Claramente é lembrada a personagem de Katharine Hepburn em “Uma Aventura na África” mas as citações bíblicas todas com prontas respostas nas deliciosas discussões de Kate e Duke tornam o filme encantador. Apenas menos cativante que o carinho que nasce entre Rooster e a missionária. 8/10





Diretor: Stuart Millar / Elenco: John Wayne - Katharine Hepburn - Richard Jordan - Anthony Zerbe - Strother Martin - Richard Romancito - John McIntire - Paul Koslo - Jack Colvin - John Lormer - Warren Vanders - Tommy Lee - Mickey Gilbert - Lane Smith - Jerry Gatlin  Chuck Hayward - Gary McLarty

quarta-feira, 10 de maio de 2017

A PONTE DO RIO KWAI (The Bridge Over the River Kwai), 1957


Maior sucesso de bilheteria de 1957, varrendo a mesa de Oscars com sete prêmios, “A Ponte do Rio Kwai” e um daqueles chamados grandes filmes que passam longe de ser uma obra-prima. Nesta sua primeira experiência em superproduções David Lean fez um filme com tudo que o público gosta de ver mas também com inúmeros pecados que ao final reduzem a dimensão deste épico. Engenheiros japoneses são incapazes de construir uma ponte e o tirânico coronel nipônico é incompetente para dirigir os trabalhos no canteiro de obras. Mas o coronel inglês após muito sofrer nas mãos do inimigo conclui a empreitada. É a vitória do inquebrantável heroísmo inglês que se impõe à crueldade oriental durante a II Grande Guerra. A ponte, porém, deve ser sabotada por um comando formado por quatro homens e... seis atraentes filipinas num cenário quase sempre paradisíaco. De uma séria reflexão sobre coragem e loucura o filme de Lean passa a uma mediana aventura com final patético. Certo que há um belo suspense antes que se escute pela última vez a marcha “Colonel Bogey”, assim como há a magnífica interpretação de Sessue Hayakawa e o bom desempenho de Alec Guinness. O cínico e namorador personagem do mariner William Holden é praticamente irrelevante. 7/10






Diretor: David Lean / Elenco: Alec Guinness - William Holden - Sessue Hayakawa - Jack Hawkins - Geoffrey Horne - André Morel - James Donald - John Boxer - Peter Williams - M.R.B. Chakrabandhu - Percy Herbert - Harold Goodwin - Keiichiro Katsumoto - Ann Sears - Vilaiwan Seeboonreaung - Ngamta Suphaphongs - Heichachiro Okawa

domingo, 7 de maio de 2017

FÚRIA SANGUINÁRIA (White Heat), 1949


Nos anos 30 Hollywood produziu memoráveis filmes de gângster com James Cagney estrelando muitos deles. Na década seguinte o filme noir tomou conta das telas e a estrela de Cagney foi ofuscada apesar de seu Oscar de Melhor Ator por “A Canção da Vitória”, um drama musical. Eis que em 1949 Raoul Walsh realiza a mais notável mescla entre o filme de gângster com o policial noir, dirigindo justamente James Cagney, com quem trabalhara em “Heróis Esquecidos” dez anos antes. Em “Fúria Sanguinária” James Cagney é Cody Barrett, ladrão psicopata que só confia em sua própria mãe que o influencia e orienta em suas ações criminosas numa relação edipiana. O excelente roteiro leva Cody Barrett à prisão e posteriormente a um grande assalto a uma refinaria, roubo que só não se concretiza porque Barrett confiou num agente disfarçado. Raoul Walsh era um mestre em filmar sequências de ação e “Fúria Sanguinária” permite a Cagney extravassar seu temperamento explosivo num filme literalmente explosivo no qual parece que todos que estão ao redor do doentio Cagney serão vítimas dele. Certamente seu mais incrível desempenho. Negativa apenas a participação de Edmond O’Brien como o agente, que não convence como alguém capaz de enganar Cody Barrett. 10/10







Diretor:

quinta-feira, 4 de maio de 2017

CONTRASTES HUMANOS (Sullivan's Travels), 1941


Preston Sturges escreveu e dirigiu este filme que homenageia aqueles que fazem rir, como faziam Charles Chaplin e Ernest Lubitsch, especialmente citados indireta e diretamente. Para isso Sturges conta, já em tempos de II Grande Guerra, a história de um diretor que não quer mais fazer filmes vazios e sim usar o cinema como ‘meio sociológico e artístico que modele a dignidade e sofrimento humano’. E John L. Sullivan, o diretor, decide viver temporariamente como pobre, experiência que muda sua visão sobre como fazer filmes. A princípio “Contrastes Humanos” parece uma daquelas comédias de Frank Capra, mas a rapidez e mordacidade dos diálogos criticando a indústria do cinema não deixa dúvidas que é Sturges quem está no comando. Da comédia que faz referência até às comedy capers de Mack Sennett e Hal Roach, “Contrastes Humanos” passa para o mistério com o desaparecimento de Sullivan e chega ao drama vivido num sistema prisional com direito a um número musical com Paul Robenson. Tudo para Sturges concluir que rir é o melhor remédio neste filme cultuadíssimo em que Joel McCrea está magnífico. Preston Sturges faleceu aos 60 anos em 1959, mesmo ano em que Billy Wilder legou ao mundo “Quanto Mais Quente Melhor”, filme que certamente Sturges gostaria de ter feito. 8/10






Diretor: John Sturges / Elenco: Joel McCrea - Veronica Lake - William Demarest - Robert Warwick - Porter Hall - Margaret Hayes - Franklin Pangborn - Robert Greig - Eric Blore - Almira Sessions - Esther Howard - Torben Meyer - Paul Robenson - Jan Buckingham - Al Bridge - Jimmy Conlin - Robert Winkler - Roscoe Ates - Pat West - Richard Webb - Frank Moran - Charles Moore

terça-feira, 2 de maio de 2017

AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD (The Adventures of Robin Hood), 1938


O mais querido filme de capa-e-espada, ou de aventuras de modo geral, continua sendo “As Aventuras de Robin Hood”, a 2.ª investida do cinema sobre o lendário fora-da-lei que dominava as florestas de Sherwood. Houve uma antes com Douglas Fairbanks e outras depois (uma delas com Kevin Costner) mas apenas a produzida por Hal B. Wallis para a Warner Bros. teve Errol Flynn como o intrépido, petulante, acrobático e simpático ator australiano no ápice de sua forma física e irresistível carisma. Não bastasse a presença de Flynn, Olivia de Havilland é uma encantadora Lady Marian e das inúmeras parcerias que fizeram juntos em nenhuma outra foram mais convincentes como na paixão que envolve Robin e Marian. Conta-se que William Keighley dirigiu as sequências na floresta (primorosas) sendo substituído por Michael Curtiz nas não menos eletrizantes sequências filmadas em estúdio. Difícil dizer quais as melhores, ainda que o duelo entre Flynn e Basil Rathbone seja inesquecível até porque Basil podia ser tão maligno quanto esgrimava admiravelmente. Completa este filme a esplendorosa trilha musical de Erich Wolfgang Korngold, uma das mais prodigiosas deste ex-menino prodígio austro-húngaro. 10/10





Diretores: William Keighley e Michael Curtiz / Elenco: Errol Flynn - Olivia de Havilland - Claude Rains - Basil Rathbone - Eugene Pallette - Alan Hale - Patric Knowles - Herbert Mundin - Una O'Connor - Montagu Love - Ian Hunter - Melville Cooper - Ray Spiker - James Baker - Howard Hill - Harry Cording - Sam Jaffe - Lester Matthews - Ivan Simpson - Kenneth Hunter - Robert Noble - Janet Shaw