sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ENTRE DEUS E O PECADO (Elmer Gantry), 1960


Três são os principais personagens deste drama que aborda convicções religiosas. O primeiro um charlatão carismático (Burt Lancaster) que se aproveita da necessidade que as pessoas têm de serem conduzidas pela fé. Depois a pregadora evangélica (Jean Simmons) que acredita no poder da sua pregação e mesmo em sua capacidade de ser instrumento divino. Por fim o jornalista ateu (Arthur Kennedy) que relata com fidelidade em seus artigos o que vê ocorrer naquela tenda religiosa. Baseado na obra homônima de Sinclair Lewis, este filme de Richard Brooks debate exemplarmente essas questões sem tomar partido, permitindo que o espectador tire suas conclusões do que é a fé e como ela pode ser manipulada por espertalhões como ‘Elmer Gantry’. Lancaster está excepcional como o hipócrita, beberrão e mulherengo que se apaixona por Jean Simmons e que acaba enganado pela prostituta vivida por Shirley Jones. Esta se esforça para que se esqueça seus suaves personagens de “Oklahoma” e “Carrossel”, enquanto Jean Simmons (então esposa de Brooks) está mais adequada como a ingênua ‘Sister Sharon’. O final excessivamente moralista para este filme onde quase todos são amorais o impede de ser uma obra-prima. De qualquer modo, um dos mais corajosos filmes de seu tempo e que não perdeu a atualidade. 9/10 - Cópia gentilmennte cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.





sábado, 16 de setembro de 2017

O SELVAGEM (The Wild One), 1953


Baseado em um fato ocorrido em 1947, Stanley Kramer produziu este filme sobre o comportamento dos motociclistas que andavam em grupo. Escolheu Marlon Brando para interpretar o líder dos BRMC (Black Rebels Motorcycle Club) que estampavam nas costas dos blusões de couro uma caveira e dois pistões, com Brando pilotando uma Triumph Thunderbird. Entre tantos grandes filmes que fez em sua primeira década como ator, foi como o pouco articulado e rude ‘Johnny’ que Brando mais foi lembrado, tendo sua figura equivocadamente identificada com a própria rebeldia. E isto numa produção barata, dirigida pelo húngaro Laslo Benedek, filme que se transformaria no maior propulsor da formação dos bandos de motociclistas nos EUA e fora deles. Kramer nunca abriu mão da polêmica e o violento para seu tempo “O Selvagem” provocou muitas discussões, não faltando quem o considerasse incentivador da violência e vandalismo, tanto que foi proibido na Inglaterra, onde só foi exibido em 1964. Conciso e bem realizado em seus 79 minutos de duração “O Selvagem” chegou junto com a explosão do rock’n’roll e Brando é até comportado perto de Lee Marvin em sua curta presença como ‘Chino’, este sim, retrato bem acabado do espírito dos assemelhados aos Hell Angels. A inexpressiva Mary Murphy é quem atrai Marlon Brando. 8/10




quinta-feira, 14 de setembro de 2017

SEDUZIDA E ABANDONADA (Sedotta e Abbandonata), 1964


Após o sucesso e os prêmios conquistados com “Divórcio à Italiana”, Pietro Germi voltou a dirigir seu sarcasmo aos costumes da arcaica Sicília. Com “Seduzida e Abandonada” Germi foi menos refinado que no filme anterior e mais cruel ao satirizar as questões de honra que determinam os comportamentos daquele ‘paese’. Em certo momento desta tragicomédia um personagem diante de um mapa da Itália tampa com a mão a Sicília e diz que aquilo não é a Itália. Este filme de Germi conta as desventuras da jovem Agness (Stefania Sandrelli) de 16 anos que é seduzida pelo namorado da irmã. O pai da infelicitada quer o reparo da honra a qualquer custo e a honra não é mais que a preservação das aparências numa interminável sequência de situações que oscilam do drama à farsa por vezes picaresca. Entre os abomináveis e divertidos códigos de honra está aquele que o sedutor se recusa a casar com a jovem por ele seduzida por haver ela cedido aos seus desejos, tornando-se por isso indigna de ser sua esposa. Saro Urzi (premiado em Cannes) domina todo filme com soberba atuação como o típico bruto siciliano contrastando com a delicadeza da bela Stefania Sandrelli. Único pecado do filme é ser um tanto longo demais. 9/10