quarta-feira, 30 de maio de 2018

O TREM (The Train), 1964


Provavelmente o último filme de ação filmado em preto e branco e inimaginável que fosse ele filmado em cores pois perderia muito da impressionante atmosfera de realismo que exibe. Legítimo tributo à Resistência Francesa propõe a questão se a arte vale mais que vidas humanas. A princípio não para o inspetor ferroviário Paul Labiche (Burt Lancaster) que se recusa a participar de uma célula que deverá sabotar o transporte por trem de centenas de valiosas pinturas que, mais que obras de arte, formam um legado cultural francês. Nos últimos dias da ocupação alemã na França o coronel nazista Von Valdheim (Paul Scofield), obcecado por arte, faz de tudo para levar o acervo de um museu para a Alemanha e para isso precisa de Labiche, mas este se convence da importância de reter as pinturas. Esta foi a derradeira vez que Burt Lancaster se envolveu na produção de um filme e após três dias de filmagens despediu o diretor Arthur Penn chamando John Frankenheimer que realizou uma extraordinária aventura de guerra. Filmado em locações na França, as sequências de ação com trens em movimento são admiráveis com Lancaster, aos 51 anos de idade, dispensando dublês em uma de suas mais adequadas e espetaculares atuações. Brilhante também Paul Scofield como o oficial alemão e no elenco em pequenos papeis Jeanne Moreau, Michel Simon e Suzanne Flon. “O Trem” é um desses raros casos de filmes que entretêm pela movimentação e emocionam pelo tema abordado. 9/10




domingo, 27 de maio de 2018

O SABRE E A FLECHA (Last of the Comanches), 1953


Produzido pela Columbia este western foi dirigido por André De Toth, húngaro que nos anos 50 se especializou no gênero, dirigindo nada menos que dez faroestes, seis deles com Randolph Scott. “O Sabre e a Flecha” é um dos melhores westerns de De Toth, mesmo porque ele teve nas mãos um elenco sem grandes estrelas e contando uma história que o cinema já vira em 1943 no filme de guerra “Sahara”, de Zoltan Korda. Esta versão conta como o pelotão da Cavalaria liderado pelo rude e experiente Sargento Matt Trainor (Broderick Crawford) e reduzido a seis homens atravessa uma região inóspita em plena seca e com os índios hostis fortemente armados e chefiados por um cacique sanguinário chamado Black Cloud (John War Eagle). Com médio orçamento e 85 minutos de duração “O Sabre e a Flecha” é repleto de ação e intensas sequências dramáticas, resultando num excelente filme. Broderick Crawford, aos 42 anos e já entrando na péssima forma física que o caracterizaria até o final de sua carreira, não poderia ter sido uma escolha menos adequada para liderar o elenco mas supera esse fato com interpretação forte, característica sua. Barbara Hale representa o lado humano e moderador do sargento. As excelentes sequências de ação são fruto do trabalho de Yakima Canutt como diretor de 2.ª unidade. 7/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.



sexta-feira, 18 de maio de 2018

NAS TRILHAS DA AVENTURA (The Hallelujah Trail), 1865


Este western comédia é lembrado como um dos grandes fracassos comerciais do gênero. Produzido ao custo de sete milhões de dólares para ser exibido em ‘road show’ (apenas em cinemas lançadores, com prólogo e intervalo musicais), foi lançado com 165 minutos de duração imaginando-se que repetiria as intermináveis gargalhadas de “Deu a Louca no Mundo”. O público pouco se interessou e o que é pior, riu menos ainda das dificuldades passadas pelo Coronel Gearhart (Burt Lancaster) tentando mediar os interesses de diferentes grupos por uma caravana de 40 carroções transportando whisky. A viúva Cora Massingale (Lee Remick) lidera a Liga da Temperança que quer evitar que a bebida chegue a Denver City, enquanto tribos de índios, mineradores e o Exército são os demais litigantes pelo carregamento que pertence a Frank Wallingham (Brian Keith). A primeira parte do filme poderia ser toda excluída pois as sequências movimentadas e engraçadas acontecem apenas na parte final e Martin Landau como chefe índio é quem mais faz rir. Produção acidentada, teve, entre outros problemas, a morte do dublê Bill Williams. Burt Lancaster é muito, mas muito melhor como ator sério e não está à vontade nesta comédia cujo ponto alto é a trilha musical de Elmer Bernstein. O diretor John Sturges afirmou que este filme foi o maior erro de sua carreira. 7/10




quarta-feira, 16 de maio de 2018

CIDADE AMEAÇADA, 1960


Quando havia mais policiais que bandidos na cidade de São Paulo, os poucos criminosos logo ganhavam notoriedade e vulgos. Foi o que aconteceu com Antonio Rossini, apelidado como ‘Promessinha’, marginal branco que aos 20 anos já havia praticado pelo menos 40 assaltos ao lado do comparsa ‘Jorginho’ (Jorge Tavares). Preso, Promessinha empreendeu cinematográfica fuga do DEIC, o prédio da Polícia Civil na capital paulista, em 1958. A história interessou aos produtores de filmes e logo um roteiro ficou pronto com Promessinha se tornando ‘Passarinho’ (Reginaldo Faria) e Jorginho virou ‘Militão’ (Milton Gonçalves), acrescentando-se romance com a namorada de Passarinho interpretada por Eva Wilma. O sensacionalismo da imprensa ficou a cargo do cínico repórter policial vivido por Jardel Filho. No suavizado roteiro Passarinho quer deixar a vida de bandido, se casar com a namorada e se tornar homem de bem. Este terceiro filme de Roberto Farias mostra um extraordinário domínio do diretor das sequências de ação com o cerco policial aos bandidos, quase sempre debaixo de forte aguaceiro. Primorosa a fotografia de Tony Rabatoni que deve ter causado admiração no Festival de Cannes, onde o filme concorreu à Palma de Ouro em 1960. Roberto Farias bem podia conter os atores que mal conversam, expressando-se sempre aos gritos, à exceção da maravilhosa Eva Wilma, excelente como Terezinha. 7/10





segunda-feira, 14 de maio de 2018

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR (Some Like it Hot), 1959


Este filme de Billy Wilder é muito justamente considerado a melhor comédia de todos os tempos e tantas décadas após sua realização só aumenta a certeza que jamais perderá essa primazia. Isto porque não é fácil fazer um tributo às notáveis ‘screwball comedies’ com uma história que nostalgicamente relembra os filmes de gângsteres, brinca com o travestismo, tem romance e ainda música. Tudo temperado com um roteiro em que cada diálogo supera o anterior em malícia, mordacidade e contém a dose certa de vulgaridade, aquela vulgaridade que as plateias discretamente ou não adoram ver e ouvir. Eterno provocador, Wilder transforma dois músicos que testemunham um massacre em Chicago em fugitivos dos gângsteres, terminando eles em uma orquestra só de mulheres. Joe (Tony Curtis) vira Josephine e Jerry (Jack Lemmon) passa a ser Daphne. Enquanto Josephine se apaixona por Sugar (Marilyn Monroe), Daphne é cortejada por um velho milionário (Joe E. Brown) e as gargalhadas irrompem a cada sequência. Marilyn é uma caricatura dela própria, mas uma deliciosa caricatura que passa longe do ridículo. Tony Curtis faz esplendidamente três personagens, mas são de Jack Lemmon os mais hilariantes melhores momentos, entre eles a frase famosa ‘ninguém é perfeito’ dita por Joe E. Brown. George Raft interpreta a si próprio e diverte assim como Nehemiah Persoff, o gângster inimigo. Desses filmes para se rever ao menos uma vez por ano. 10/10





sexta-feira, 11 de maio de 2018

CAN-CAN (Can-Can), 1960


Estreando em 1953 este musical com canções de Cole Porter ficou mais de dois anos em cartaz na Broadway e até que demorou para ser levado ao cinema. Quando isso aconteceu Frank Sinatra e Shirley MacLaine eram dois dos maiores nomes nas bilheterias norte-americanas e o sucesso do filme parecia certo. Mas não foi. Custou seis milhões de dólares, foi lançado como ‘road show’ com 142 minutos de duração e, à época, não agradou nem ao público e nem à crítica. No final do século XIX, quando a dança ‘can-can’ foi proibida por ser considerada lasciva e atentatória aos bons costumes, advogados e juízes parisienses se envolvem com a dona de um cabaret (MacLaine) no qual o can-can é a maior atração. Muitas das canções do musical da Broadway foram excluídas do filme mas em compensação quatro outras maravilhosas músicas de Cole Porter foram utilizadas, o que por si só já seria suficiente, ainda mais cantadas por Sinatra. Mas, além disso, o filme tem também belíssimos números de dança (a briga dos rufiões é o melhor deles) e alguns bons momentos de comédia, especialmente as sequências de tribunal. Claro que o final é forçado, com Sinatra ficando com Shirley MacLaine quando esta deveria terminar nos braços de Louis Jourdan e o filme é um tanto longo demais, além de MacLaine e Sinatra não convencerem como parisienses. Mesmo assim vale a pena assistir. 7/10




quinta-feira, 10 de maio de 2018

VÍTIMAS DA TORMENTA (Sciuscià), 1946


VÍTIMAS DA TORMENTA (Sciuscià), 1946 – Um dos marcos iniciais do neo-realismo, este drama de Vittorio De Sica é um doloroso retrato do pós-guerra. Passado na devastada Roma mostra as adversidades sofridas por dois meninos engraxates (shoeshines), da perda da inocência até a tragédia final. Os meninos se envolvem com contrabandistas e terminam em um sombrio reformatório de onde escapam mas já não são os mesmos pequenos sonhadores do iluminado início do filme. Pasquale e Giuseppe, os personagens principais, são interpretados por Franco Interlenghi e Rinaldo Smordoni, crianças descobertas por De Sica e portanto atores não profissionais, se bem que Interlenghi teve bem sucedida carreira como ator. Menos comovente que “Ladrões de Bicicleta” e “Umberto D”, os filme seguintes de De Sica, este “Vítimas da Tormenta” recebeu um Oscar Honorário para filme estrangeiro (ainda não havia a categoria de Melhor Filme realizado no exterior). Fracasso na Itália, teve grande repercussão na Europa e Estados Unidos, sendo recebido como obra-prima inicial do neo-realismo. O autor Tristano Torelli inspirou-se no filme de De Sica para criar, com desenhos de Renzo Barbieri, ‘Sciuscià’, a primeira história em quadrinhos neo-realista e que no Brasil foi lançada pela Editora Vecchi, em 1950, com o título ‘Xuxá’. 9/10