quinta-feira, 30 de abril de 2020

O FINO DA VIGARICE (Caccia Alla Volpe), 1966


Vittorio De Sica, realizador de inúmeros grandes filmes renegou esta comédia mesmo sendo a mais engraçada que tenha filmado, incluídas aquelas com Sofia & Mastroianni. Peter Sellers no auge de sua carreira, ele que sempre gostou de interpretar diversos personagens dentro da mesma história vive Aldo Vanucci (a ‘Raposa’ do título), um mestre dos disfarces. Para desembarcar na Itália um enorme carregamento de ouro que ele Vanucci e sua desastrada quadrilha roubaram no Cairo, ele se transforma em ‘Federico Fabrizzi’, diretor de cinema. O decadente ator norte-americano Tony Powell (Victor Mature) é o astro do filme numa hilariante autoparódia. Ninguém poderia imaginar como Mature se tornaria engraçado pelas mãos de De Sica, muito, mas muito mais que o próprio Peter Sellers, de quem rouba o filme. Baseado em texto original escrito por Neil Simon e que contou ainda com a ajuda de Cesare Zavattini no roteiro, “O Fino da Vigarice” só não é mais divertida porque De Sica se perde um pouco quando a comédia busca ação ao invés dos diálogos sarcásticos. Em uma das melhores tiradas Mature pergunta o que é neo-realismo e a resposta é: ‘filmar com pouco dinheiro’. Irreverência maior sobra para críticos que enxergam arte onde ela não existe durante a exibição do filme de Federico Fellini, ops, digo Fabrizzi. Akim Tamiroff e Lando Buzzanca no elenco e uma ponta de De Sica. 8/10





quinta-feira, 23 de abril de 2020

SONHOS DE UM SEDUTOR (Play it Again, Sam), 1972


Woody Allen esta comédia para o teatro e depois ele mesmo roteirizou para o cinema e onde a protagonizou. Curiosamente Allen deixou de dirigir este filme que iria ser determinante em sua carreira pois ele nunca mais abandonaria o tipo neurótico e apaixonado por cinema que criou. Quem dirigiu foi Herbert Ross mas toda a comédia é puro woodyalleniana contando como Allan Felix (Woody Allen), um crítico de cinema que já assistiu dezenas de vezes “Casablanca”, imagina a presença de Humphrey Bogart (Jerry Lacy) para ajudá-lo a resolver sua intrincada vida amorosa. Felix foi abandonado pela mulher (Susan Anspach) e se envolve com Linda (Diane Keaton), a esposa de seu melhor amigo (Tony Roberts), tudo sob medida para que ele, num final que parodia seu filme preferido, possa dizer a Linda as frases que Bogart/Dick disse a Ingrid Bergman/Ilsa ao vê-la partir de Casablanca. Woody e Allen que então viviam juntos repetiram os personagens que criaram na Broadway e fazem rir o tempo todo, ainda que Woody seja mais engraçado com o que fale que tentando de modo histriônico a comicidade física. O ‘Bogart’ deste filme nem sempre tem o ‘timing’ e as falas ideais mas nada disso impedem que “Sonhos de um Sedutor” seja a melhor das comédias nostálgicas. Imperdível para os fãs de “Casablanca’, para os fãs de cinema em geral e para os fãs ou não de Allen. 9/10




quinta-feira, 16 de abril de 2020

LÚCIA McCARTNEY, UMA GAROTA DE PROGRAMA, 1971


Não fosse chamado de ‘Cinema Novo’, este movimento bem poderia ser denominado ‘Cinema do Oba-Oba’. Com uma ideia nem sempre boa na cabeça, uma câmera na mão, alguns poucos atores e muitos amigos e... vamos fazer um filme. Rubens Fonseca havia iniciado sua brilhante trajetória como contista e escritor e ‘Lúcia McCartney’ era um de seus contos mais conhecidos. Foi esse conto que David Neves decidiu filmar com roteiro do próprio autor. Lúcia McCartney (Adriana Prieto) é uma garota de programa que, ao som de canções dos Beatles conhece um industrial paulista por quem se apaixona loucamente. Ele a deixa e o conto é emendado com outro chamado ‘A História de F.A.’ no qual um advogado (Paulo Villaça) resgata uma prostituta a pedido de um diplomata. O problema é que nada funciona na história confusa e insossa. Para ajudar Albino Pinheiro, que foi muita coisa na vida, menos ator, e inúmeros convidados com participações inoportunas completam o filme que não perde uma sequência sequer para lembrar que o diretor é fã de Jean-Luc Godard. Adriana Prieto, falecida aos 24 anos é bonitinha e só e Paulo Villaça é a melhor coisa da película, ainda que repetindo o tipo característico de cafajeste que sempre levou à tela. A cena de luta é risível e tampe ou ouvidos para partes da trilha musical. 3/10



quinta-feira, 9 de abril de 2020

AS DIABÓLICAS (Les Diaboliques), 1955


Alfred Hitchcock bem queria filmar o livro “Celle qui n’était plus”, mas Henri-Georges Clouzot chegou antes e realizou o suspense mais hitchcockiano do cinema. Em quase duas horas que não permitem ao espectador respirar direito, Clouzot conta como Christina (Vera Clouzot) e Nicole (Simone Signoret), duas professoras amigas, decidem assassinar Michel (Paul Meurisse), o violento e despótico marido de Christina. Após consumar o assassinato, uma série de situações estranhas passam a ocorrer o que leva Christina ao desespero até que ela não mais suporte o medo e a culpa. Como o próprio Clouzot pede ao final de “As Diabólicas”, mais não se pode dizer sobre o desfecho deste filme, desfecho que é decepcionante e incondizente com o admirável desenvolvimento ao longo do thriller. Poucas vezes a morbidez atingiu tamanho grau e é uma pena que o roteiro dissipe o lesbianismo que existe no livro e é levemente insinuado no filme. Afinal era 1955 ainda. Simone Signoret é magnífica e Paul Meurisse excelente, enquanto a atriz brasileira Vera Clouzot quase coloca a perder o trabalho e dedicação do esposo-diretor que se esforça ao extremo para ressaltar sua participação. Sucesso de público e crítica, este é um dos grandes filmes de suspense que o Mestre Alfred nunca cansava de elogiar e que foi muito imitado. Hollywood fez uma versão com Sharon Stone. 9/10




sexta-feira, 3 de abril de 2020

KING KONG (King Kong), 1933


Nos tempos em que o cinema se especializou em assustar o espectador com criaturas, vampiros e monstros diversos, um filme conquistou o público, a crítica e até hoje se conserva como o clássico dos clássicos do gênero. Ele é “King Kong” que, mesmo com todas as imitações e refilmagens caríssimas que se seguiram e a moderna tecnologia cinematográfica conserva-se insuperável. Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack co-dirigiram e os efeitos especiais da equipe de Willis O’Brien permanecem surpreendentes ao contar como um gorila gigantesco é aprisionado nas Índias Orientais e levado por um delirante produtor de filmes para Nova York. Lá seria exibido como a ‘8.ª Maravilha do Mundo’, mas acontece que o monstro se apaixona por uma jovem atriz, se enraivece com o ambiente à sua volta, leva a moça consigo e com ela escala o Empire States Building. Do ponto mais alto do edifício o monstro é morto não sem antes demonstrar a afeição pela bela. A imagem da sequência final, no recém-inaugurado Empire States é uma das mais marcantes do século e da história do cinema neste filme que emociona geração após geração. Lançado no pico da recessão, “King Kong” foi sucesso absoluto nos cinemas de todo o mundo. Fay Wray, Robert Armstrong e Bruce Cabot são os intérpretes principais coadjuvando o cativante gorila. A trilha musical de Max Steiner é simplesmente magistral. 10/10