Para esta comédia romântica Billy Wilder contou com um trio de artistas que havia acabado de receber o prêmio Oscar: Humphrey Bogart, em 1952; Audrey Hepburn e William Holden, ambos em 1953. Isso significava sucesso garantido e foi o que aconteceu porque o público correu para ver a reunião desses astros. Porém, nem tudo foi fácil para Wilder que teve que lidar com a irascibilidade de Humphrey Bogart, desgostoso por não ter sido a primeira escolha para interpretar o magnata Linus Larrabee, já que o diretor queria Cary Grant. Entre outras grosserias, certo dia Bogart perguntou a Billy Wilder se ele tinha filhos e o diretor respondeu que tinha uma filha de dois anos de idade. Bogart então perguntou se havia sido essa filha de Billy que havia escrito um diálogo que Bogart detestou. Para piorar as coisas Bill Holden, Audrey Hepburn e Wilder entenderam-se maravilhosamente, sempre festejando nos camarins. Audrey está graciosa como Sabrina a filha do motorista da riquíssima família Larrabee cujos negócios estão nas mãos de Linus porque o seu irmão mais novo, David Larrabee (Holden), é um playboy que vive se casando e se divorciando, isto até se apaixonar por Sabrina que por sua vez sempre fora apaixonada por David, o patrão estroína. Ocupadíssimo dirigindo as empresas, Linus não pensa em se casar, mas sucumbe também aos encantos de Sabrina que termina por escolher Linus, embora os espectadores torçam para que ela volte para David. Esta comédia romântica pouco faz rir e tem raros momentos com diálogos mordazes como Billy Wilder gosta e a melhor frase é quando Sabrina diz que Linus mais parece um agente funerário. Certamente essa frase foi criada por Wilder que escreveu o roteiro com Ernest Lehman e o autor da história original Samuel Taylor. Com a cara amarrada o filme todo, chapéu, guarda-chuva e pasta na mão, Bogart é um perfeito agente funerário. Vingança cruel de Billy Wilder! As escolhas erradas de Bogart e Holden (louro como Alan Ladd) deixaram uma certeza: nenhum dos dois nasceu para comédias. Linda, elegante e jovial, Audrey Hepbrun consegue não apenas que os dois irmãos se apaixonem por ela, mas todos que a veem na tela, fazendo valer a pena assistir a este filme de Billy Wilder. - 7/10
domingo, 29 de junho de 2025
sábado, 7 de junho de 2025
AMOR NA TARDE (LOVE IN THE AFTERNOON)
A história de Ariane, jovem parisiense estudante de música clássica que se apaixona por um homem sedutor muito mais velho que ela, já havia sido levada ao cinema na França por duas vezes nos anos 30. Em 1957 Billy Wilder decidiu refilmá-la e escolheu Audrey Hepburn, então aos 28 anos para ser a nova Ariane. O diretor imaginava Cary Grant como par romântico de Audrey, mas devido aos compromissos Cary não pode aceitar, o mesmo acontecendo com Humphrey Bogart, segunda opção. O papel acabou nas mãos de Gary Cooper que aos 57 anos aparentava bem mais que isso e a comédia romântica rodada em locações em Paris tinha tudo para não dar certo. Só que Billy Wilder escreveu o roteiro com seu novo parceiro I.A.L. Diamond e o elenco tinha, além de Audrey Hepburn, Maurice Chevalier, ambos luminosos. Chevalier é o detetive particular especializado em descobrir adultérios, especialmente de esposas, e Ariane é a sua filha cujo passatempo é bisbilhotar nos arquivos do pai. Um dos clientes do detetive é um marido disposto a matar um norte-americano rico, homem de negócios que quando está em Paris dorme com a esposa desse cliente. Flannagan é bonitão, Audrey se sente atraída por ele e acaba por salvar sua vida. Os dois passam a se encontrar, sempre à tarde, até que o pai de Ariane descobre com quem sua filha está se encontrando e pede ao maduro conquistador para ele se afastar de Ariane. Acontece que o sedutor acabou seduzido pela jovem, com quem fica no final. A história, bem ao gosto de Billy Wilder, propicia toda amoralidade e cinismo que são as marcas do diretor-roteirista e ainda que os momentos engraçados não cheguem a provocar muitos risos, o filme é agradável de se ver. E isso porque Audrey está maravilhosa e Chevalier esplêndido. Notável o trabalho do cinegrafista William C. Mellor que fez o possível e o impossível para disfarçar o ar de cansaço de Gary Cooper. A canção ‘Fascination’ toca quase o filme todo, inclusive pelo quarteto de ciganos que são uma excentricidade do sedutor Flannagan para ajudar a criar o clima necessário para o amor. A melhor piada de “Amor na Tarde” foi Billy Wilder ter colocado como o marido traído o ator John McGiver e, como um dos casos de Flannagan, Audrey Young Wilder, que não é outra senão a esposa de Billy na vida real. Humor típico do genial Billy Wilder. 7/10
Billy Wilder e sua esposa Audrey Young Wilder
domingo, 2 de fevereiro de 2025
A CALDEIRA DO DIABO (PEYTON PLACE)
Em 1956, aos 32 anos de idade, a escritora Grace Metalious escandalizou os Estados Unidos com o lançamento de seu livro “Peyton Place”, obra que continha capítulos contendo incesto, suicídio, abuso sexual, homicídio e desnudava a falsa moralidade de uma pequena cidade norte-americana, justamente Peyton Place, microcosmo da própria América. Depressa a 20th Century-Fox adquiriu os direitos de filmagem e lançou, em dezembro de 1957, o melodrama com o mesmo título do livro e, repetindo o sucesso das livrarias, o público fez enormes filas para assistir o filme que no Brasil se chamou “A Caldeira do Diabo”. Em 1957 Hollywood ainda não havia se livrado das amarras da censura e o roteiro de “Peyton Place” foi bastante atenuado ao tocar no conjunto de temas do livro, muitos deles tabus no cinema. Mesmo assim o filme dirigido por Mark Robson foi taxado, entre outros adjetivos, de ‘abominável e massacrado por parte da crítica, enquanto alguns críticos viram qualidades no drama que na tela teve a duração de 157 minutos para contar os episódios que se entrelaçavam na pequena cidade. Visto quase 70 anos depois, “A Caldeira do Diabo” mais se assemelha aos novelões televisivos e mesmo assim prende a atenção do espectador. A síntese do filme é o conflito de gerações com pais querendo direcionar a vida de seus filhos adolescentes sendo que eles pais são mais problemáticos que os jovens. O destaque fica para as excelentes interpretações da estreante Diane Varsi, e dos ótimos Hope Lange e Arthur Kennedy secundados pelo excelente elenco no qual destoa somente Lee Phillips. “A Caldeira do Diabo” recebeu nove indicações para o Oscar não sendo premiado em nenhuma das indicações. Sucesso de bilheteria ficou atrás do blockbuster “A Ponte do Rio Kwai” que por sua vez arrebatou sete prêmios da Academia. Em abril de 1958 a filha de Lana Turner assassinou o amante de sua mãe, o gângster Johnny Stompanato, crime que gerou inesperada publicidade extra para “A Caldeira do Diabo”. - 7/10
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Lana Turner com Lee Phillips e com Diane Varsi |
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Diane Varsi com Russ Tamblyn e com Lana Turner |
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Hope Lane; Hope Lange e Lorne Greene; abaixo Mildred Dunnock e Arthur Kennedy |
terça-feira, 17 de dezembro de 2024
SANGUE DE BÁRBAROS (THE CONQUEROR)
Poucos filmes na história de Hollywood foram tão massacrados quanto “Sangue de Bárbaros”, apontado por muitos críticos como um dos piores filmes de todos os tempos. Isso não se deve ao fato de essa versão sobre a vida de Gengis Khan ser inteiramente desprezível, mas sim porque quase tudo deu errado nesta produção da RKO e de seu boss na época, o excêntrico Howard Hughes. Uma superprodução de quatro milhões de dólares (muito dinheiro em 1954) jamais poderia ser dirigida por alguém como Dick Powell que estreava na direção, porém problema maior foi o roteiro escrito por Oscar Millard com diálogos que pareciam terem sido extraídos dos saudosos seriados sci-fi dos anos 30/40 os quais o Imperador Ming, lá no Planeta Mongo, expressaria com solene prazer. Visivelmente constrangidos os intérpretes principais (Susan Hayward, Pedro Armendáriz, Agnes Moorehead e John Hoyt) dizem suas falas fazendo força para não rir. O único que levou o filme a sério foi John Wayne, exemplo de profissionalismo, mesmo após descobrir o ridículo em que caíra, procurou fazer o melhor que podia, o que, no caso de Wayne, seria pouco para salvar este épico. Hughes, Powell e Millard imaginaram um ‘Temujin’ (Gengis Khan) vivido por Marlon Brando que em “Viva Zapata” usara um bigode mais mongol que mexicano. Cogitado, Brando sabiamente recusou a proposta que foi oferecida a John Wayne que entendeu que aquele filme estava mais para um western, apenas que passado na Ásia no século XII. Wayne aceitou o desafio que quase unanimemente é considerado seu pior desempenho no cinema. O pobre Dick Powell teve ainda que administrar o ego de Susan Hayward, a troca de diretores de fotografia que foram quatro, o calor sempre acima de 40 graus, e contando pelo menos com um John Wayne mais colaborativo que nunca. E mal sabiam todos da triste fama que envolveria “Sangue de Bárbaros”, filmado em Utah, onde no ano anterior (1953), o governo norte-americano havia detonado nada menos que onze bombas nucleares, causando uma radiação que ninguém imaginava que seria tão trágica. Dos 220 artistas e técnicos envolvidos na filmagem, 91 faleceram de algum tipo de câncer, entre eles Dick Powell, Wayne, Susan, Armendáriz, John Hoyt e Agnes Moorehead. Nas movimentadas cenas de ação envolvendo mongóis contra merkitas e tártaros é impossível saber quem é quem e o que mais se vê são quedas de cavalos (dezenas e dezenas deles) com um John Wayne pesado demais. No filme Temujin (Wayne) se apaixona por Bortai (Susan) que é filha do tártaro Kumlek (Ted de Corsia). Temujin lidera os mongóis na luta contra os tártaros, saindo vitorioso e tornando-se Gengis Khan. O incrível roteiro se encerra com um final esdrúxulo com Jamuga (Pedro Armendáriz), irmão de Temujin, implorando por sua própria morte. Agnes Moorehead e Ted de Corsia conseguem se salvar com boas interpretações. Howard Hughes só lançou “Sangue de Bárbaros” dois anos depois, em 1956 e o filme foi grande sucesso de público alcançando mais de nove milhões de dólares de renda. Segundo se conta, Hughes, em sua conhecida reclusão, assistia “Sangue de Bárbaros” repetidamente, provando que não estava mesmo bem da cabeça. Se não for levado a sério, “Sangue de Bárbaros” é diversão garantida. 4/10
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John Wayne e Susan Hayward |
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Susan e Wayn;, no centro o beijo que Susan tornou o mais realista possível... |
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John Wayne com Leo Gordon e abaixo William Conrad |
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Lee Van Cleef, que seria um perfeito Gengis Khan; abaixo Lee Van Cleef com William Conrad |
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
VIVA MARIA! (Viva Maria!), 1965
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A reunião de dois grandes nomes em filmes é receita quase infalível de boas bilheterias, receita invariavelmente com dois atores. Porém colocar num mesmo filme as duas mais famosas atrizes do cinema francês na década de 70 foi algo inusitado, ainda mais por ser o filme for uma comédia tratando de um assunto sério como uma... revolução. Pois foi o que decidiu fazer Louis Malle que escreveu o roteiro em parceria com Jean-Claude Carrière, este que viria a ser o roteirista preferido de Luís Buñuel. Brigitte Bardot e Jeanne Moreau foram as escolhidas como as protagonistas chamadas de Maria e Maria, uma irlandesa (BB) e a outra francesa. De estrelas de uma caravana circense que tem como maior atração os provocantes números musicais, um deles inventando o strip-tease, já que a ação se passa no início do século passado, Maria e Maria se tornam líderes revolucionárias no fictício país San Miguel. O povo oprimido grita para elas “Viva Maria!” e ao final, depois de hilariantes batalhas contra o ditadorzinho de San Miguel, que tem por aliado um poderoso barão de terras e, como não poderia deixar de ser, também a interesseira igreja que está sempre ao lado dos mais fortes, Maria e Maria levam a revolução a derrubar o opressivo ditador. Brigitte nunca esteve mais bonita mas é Jeanne quem conquista o revolucionário bonitão (George Hamilton). Realizado em 1965, seguiram-se a esta película de Louis Malle muitos outros filmes sobre o tema revolução, os westerns-spaghetti-zapata e até Sam Peckinpah abordou a revolução (mexicana). Difícil classificar o gênero de “Viva Maria!” já que este filme mistura comédia, ação, crítica social, música e dança. E tudo da melhor qualidade. 8/10
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Brigitte e Jeanne |
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As líderes revolucionárias e a igreja as castigando |
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George Hamilton e Jeanne Moreau |
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Viva a Revolução! Viva Maria e Maria!!! |
segunda-feira, 18 de abril de 2022
AMA-ME COM TERNURA (Love me Tender), 1956
Elvis Presley era o grande nome da música (rock’n’roll) em meados dos nos 50, emplacando um sucesso atrás do outro e Hollywood, como era hábito, não demorou para lançá-lo como ator. Aos 21 anos Presley estrelou “Love Me Tender” (Ama-me com Ternura), título daquela que viria a ser uma de suas canções mais executadas. A 20th Century-Fox poderia ter dado um tratamento melhor a essa estreia, mas preferiu economizar com diretor de segundo escalão (Robert D. Webb) e elenco ‘da casa’ sem grandes astros, filmando o drama passado durante a Guerra Civil em preto branco. Raros são os roteiros de westerns que fogem do lugar comum e este é um deles ao contar a história de dois irmãos apaixonados pela mesma mulher. Vance (Richard Egan) e Clinton (Elvis) são os irmãos e Vance retorna para o Texas após quatro anos ausente lutando pelo Exército Confederado e tendo sido erroneamente dado como morto. Com o Sul vencido sua decepção aumenta ainda mais quando chega ao rancho da família e se depara com sua namorada Cathy (Debra Paget) agora casada com Clinton, seu irmão mais novo. Vance e Cathy ainda se amam, o que leva Clinton ao desespero. Esse triângulo amoroso ocorre paralelamente à descoberta pela União de uma apropriação de 12.500 dólares por parte de um grupo Confederado liderado por Vance que é perseguido e o desfecho é trágico. Fãs de Elvis lotaram os cinemas para vê-lo e, perceberam que como ator ele estava imaturo. Mas certamente saíram contentes especialmente pelas quatro canções, entre elas ‘Love Me tender’, que ele canta. Richard Egan e Debra Paget encabeçam o elenco que tem ainda os excelentes Robert Middleton, Mildred Dunnock e Neville Brand. 7/10.