Nelson Rodrigues, nosso
maior dramaturgo, também escreveu contos quando trabalhou na Última Hora
(1951/1960). Sua seção nesse jornal se chamava ‘A vida como ela é’ e um dos contos
publicados foi “A Dama do Lotação”, adaptado para o cinema por Neville d’Almeida
em 1978. O diretor foi acusado de plagiar “A Bela da Tarde”, de Luís Buñuel,
filme famoso lançado em 1967. Ocorre que “A Bela da Tarde” foi um romance
escrito por Joseph Kessel em 1928 e fica a dúvida: teria Nelson Rodrigues lido
esse livro e se inspirado para escrever a história da mulher casada que não
sentindo prazer com o marido passa a buscar satisfação com amantes desconhecidos
que encontra? A grande sacada de Nelson Rodrigues foi o fetiche de Solange
(Sonia Braga) procurar homens em transportes coletivos, a lotação do título. Os
homens que a levam a motel como o melhor amigo do marido e o próprio sogro não lhe
dão prazer como os anônimos passageiros dos ônibus. Muitos dos elementos comuns
à obra de Nelson Rodrigues, especialmente a hipocrisia da classe média e sua
visão das mulheres, estão presentes neste filme amoral que alcançou enorme sucesso.
Sonia Braga belíssima e esbanjando sensualidade têm, pelas mãos do diretor, as
mais excitantes sequências lúbricas que nosso cinema já mostrou. Memorável a canção-tema de Caetano Veloso. 7/10
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