terça-feira, 17 de dezembro de 2024

SANGUE DE BÁRBAROS (THE CONQUEROR)

 


Poucos filmes na história de Hollywood foram tão massacrados quanto “Sangue de Bárbaros”, apontado por muitos críticos como um dos piores filmes de todos os tempos. Isso não se deve ao fato de essa versão sobre a vida de Gengis Khan ser inteiramente desprezível, mas sim porque quase tudo deu errado nesta produção da RKO e de seu boss na época, o excêntrico Howard Hughes. Uma superprodução de quatro milhões de dólares (muito dinheiro em 1954) jamais poderia ser dirigida por alguém como Dick Powell que estreava na direção, porém problema maior foi o roteiro escrito por Oscar Millard com diálogos que pareciam terem sido extraídos dos saudosos seriados sci-fi dos anos 30/40 os quais o Imperador Ming, lá no Planeta Mongo, expressaria com solene prazer. Visivelmente constrangidos os intérpretes principais (Susan Hayward, Pedro Armendáriz, Agnes Moorehead e John Hoyt) dizem suas falas fazendo força para não rir. O único que levou o filme a sério foi John Wayne, exemplo de profissionalismo, mesmo após descobrir o ridículo em que caíra, procurou fazer o melhor que podia, o que, no caso de Wayne, seria pouco para salvar este épico. Hughes, Powell e Millard imaginaram um ‘Temujin’ (Gengis Khan) vivido por Marlon Brando que em “Viva Zapata” usara um bigode mais mongol que mexicano. Cogitado, Brando sabiamente recusou a proposta que foi oferecida a John Wayne que entendeu que aquele filme estava mais para um western, apenas que passado na Ásia no século XII. Wayne aceitou o desafio que quase unanimemente é considerado seu pior desempenho no cinema. O pobre Dick Powell teve ainda que administrar o ego de Susan Hayward, a troca de diretores de fotografia que foram quatro, o calor sempre acima de 40 graus, e contando pelo menos com um John Wayne mais colaborativo que nunca. E mal sabiam todos da triste fama que envolveria “Sangue de Bárbaros”, filmado em Utah, onde no ano anterior (1953), o governo norte-americano havia detonado nada menos que onze bombas nucleares, causando uma radiação que ninguém imaginava que seria tão trágica. Dos 220 artistas e técnicos envolvidos na filmagem, 91 faleceram de algum tipo de câncer, entre eles Dick Powell, Wayne, Susan, Armendáriz, John Hoyt e Agnes Moorehead. Nas movimentadas cenas de ação envolvendo mongóis contra merkitas e tártaros é impossível saber quem é quem e o que mais se vê são quedas de cavalos (dezenas e dezenas deles) com um John Wayne pesado demais. No filme Temujin (Wayne) se apaixona por Bortai (Susan) que é filha do tártaro Kumlek (Ted de Corsia). Temujin lidera os mongóis na luta contra os tártaros, saindo vitorioso e tornando-se Gengis Khan. O incrível roteiro se encerra com um final esdrúxulo com Jamuga (Pedro Armendáriz), irmão de Temujin, implorando por sua própria morte. Agnes Moorehead e Ted de Corsia conseguem se salvar com boas interpretações. Howard Hughes só lançou “Sangue de Bárbaros” dois anos depois, em 1956 e o filme foi grande sucesso de público alcançando mais de nove milhões de dólares de renda. Segundo se conta, Hughes, em sua conhecida reclusão, assistia “Sangue de Bárbaros” repetidamente, provando que não estava mesmo bem da cabeça. Se não for levado a sério, “Sangue de Bárbaros” é diversão garantida. 4/10

John Wayne e Susan Hayward

Susan e Wayn;, no centro o beijo que Susan tornou
o mais realista possível...

John Wayne com Leo Gordon e abaixo William Conrad

Lee Van Cleef, que seria um perfeito Gengis Khan;
abaixo Lee Van Cleef com William Conrad


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

VIVA MARIA! (Viva Maria!), 1965

 


        A reunião de dois grandes nomes em filmes é receita quase infalível de boas bilheterias, receita invariavelmente com dois atores. Porém colocar num mesmo filme as duas mais famosas atrizes do cinema francês na década de 70 foi algo inusitado, ainda mais por ser o filme for uma comédia tratando de um assunto sério como uma... revolução. Pois foi o que decidiu fazer Louis Malle que escreveu o roteiro em parceria com Jean-Claude Carrière, este que viria a ser o roteirista preferido de Luís Buñuel. Brigitte Bardot e Jeanne Moreau foram as escolhidas como as protagonistas chamadas de Maria e Maria, uma irlandesa (BB) e a outra francesa. De estrelas de uma caravana circense que tem como maior atração os provocantes números musicais, um deles inventando o strip-tease, já que a ação se passa no início do século passado, Maria e Maria se tornam líderes revolucionárias no fictício país San Miguel. O povo oprimido grita para elas “Viva Maria!” e ao final, depois de hilariantes batalhas contra o ditadorzinho de San Miguel, que tem por aliado um poderoso barão de terras e, como não poderia deixar de ser, também a interesseira igreja que está sempre ao lado dos mais fortes, Maria e Maria levam a revolução a derrubar o opressivo ditador. Brigitte nunca esteve mais bonita mas é Jeanne quem conquista o revolucionário bonitão (George Hamilton). Realizado em 1965, seguiram-se a esta película de Louis Malle muitos outros filmes sobre o tema revolução, os westerns-spaghetti-zapata e até Sam Peckinpah abordou a revolução (mexicana). Difícil classificar o gênero de “Viva Maria!” já que este filme mistura comédia, ação, crítica social, música e dança. E tudo da melhor qualidade. 8/10

Brigitte e Jeanne

As líderes revolucionárias e a igreja as castigando

George Hamilton e Jeanne Moreau

Viva a Revolução! Viva Maria e Maria!!!