Tanto o produtor Hal B.
Wallis como o diretor John Sturges não gostavam da versão de John Ford sobre Wyatt
Earp e o evento no Curral OK. Sturges chegou mesmo a dizer que o western de Ford
era uma ‘merda’ e Wallis sonhava produzir um faroeste que mostrasse Wyatt Earp
e Doc Holliday desmistificados. E claro, de olho no sucesso pois acima de tudo
ele era um produtor e cinema existia para se ganhar dinheiro. Foi reunido um
grande elenco encabeçado por Burt Lancaster e Kirk Douglas, bela fotografia de
Charles Lang em VistaVision, Dimitri Tiomkin bastante inspirado e o vozeirão de
Frankie Laine cantando o marcante tema principal. Sturges realizou um excelente
western historicamente tão irreal como “Paixão dos Fortes”. Tanto que dez anos
depois o diretor voltou ao mesmo tema com “A Hora da Pistola’ para corrigir o
roteiro de Leon Uris escrito para “Sem Lei e Sem Alma” que mostra uma latente relação
homossexual entre Wyatt e Doc. Lancaster chegou a dizer que esses dois personagens
“mais pareciam duas bichas pré-freudianas”. Kirk Douglas tem desempenho
excepcional, seguido por Jo Van Fleet e Lancaster só deixa de fazer discursos
durante o célebre tiroteio. Enorme sucesso de público este é um western que
divide as opiniões que só convergem quanto a ser, apesar de tudo, imperdível. 8/10 - Resenha completa no blog http://westerncinemania.blogspot.com.br/
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
20.000 LÉGUAS SUBMARINAS (20,000 Leagues Under the Sea), 1954
Esta foi a primeira
produção da Buena Vista, dos estúdios de Walt Disney, levando às telas o
clássico de ficção-científica escrito em 1870 por Jules Verne (Júlio Verne,
para nós), da série ‘Viagens Extraordinárias’. E que extraordinária viagem
cinematográfica essa dirigida por Richard Fleischer, verdadeiramente assombrosa
à época de seu lançamento, que no Brasil ocorreu em 1955 acompanhada por um
álbum de figurinhas da Editora Vecchi com cromos com as fotos do filme. Milhares
de garotos foram então ‘apresentados’ a Kirk Douglas vibrando com ele em sua
aventura à bordo do Nautilus lutando contra diversos inimigos, inclusive um
polvo gigante. Mas nenhum inimigo tão ameaçador quanto o delirante Capitão Nemo
vivido por James Mason. Gregory Peck foi o primeiro nome cogitado para
interpretar o marinheiro ‘Ned Land’ e Walt Disney acertou em cheio ao pagar 175
mil dólares a Kirk Douglas que criou um herói inesquecível. A história já havia
sido filmada em 1916 e “20.000 Léguas Submarinas” assistido mais de 60 anos
depois, nestes tempos em que cinema se confunde com efeitos especiais, continua
um divertimento imperdível. 8/10
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
QUEM É O INFIEL? (A Letter to Three Wives), 1949
Realizado pela 20th
Century-Fox e mesmo tendo sido premiado com dois Oscars – Melhor Direção e Melhor
Roteiro, recebidos por Joseph L. Mankiewicz – este é um dos filmes menos
lembrados entre aqueles da primeira fase da carreira de Kirk Douglas. Examinando
a vida de três casais de classe média, Mankiewicz cria uma trama inusitada na
qual um dos três maridos trai a esposa. Elas são avisadas por uma carta que as
deixa em pânico e faz com que, através de flashbacks, relembrem da ameaça a
seus lares chamada ‘Addie Ross’, a amiga comum das três esposas e que em comum
tem ainda o fato de ser admirada pelos três maridos. O inteligente roteiro sugere
que as esposas não poderiam mesmo confiar na amiga fatal, também a narradora
invisível da história (voz de Celeste Holm). O espectador é desafiado a
descobrir qual dos maridos sucumbirá, num final surpreendente que perde a força
em função do feliz ‘The End’ que o filme não merecia. Como um mal remunerado professor
de Literatura, Kirk Douglas tem alguns dos melhores momentos do filme. Ann Sothern
é a esposa de Douglas e Jeanne Crain e Linda Darnell são as outras duas, num
elenco em que se destacam Paul Douglas e Thelma Ritter. 7/10
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
ÊXITO FUGAZ (Young Man with a Horn), 1950
Mas como? Kirk Douglas era trompetista? Não, não era, assim como
não sabia lutar boxe, montar a cavalo, tocar banjo e tantas outras habilidades
às quais sua determinação e profissionalismo o levou a executar com perfeição.
Para interpretar o lendário Bix Beiderbecke, biografado como ‘Rick Martin’ em “Êxito
Fugaz”, Douglas tem mais uma admirável performance ainda que quem toque de
verdade em seu lugar seja Harry James. Bix Beiderbecke morreu aos 28 anos em
1931 e essa biografia ficcional foi escrita em 1945, com a Warner logo pensando
em John Garfield para protagonizá-la. Sabiamente Jack Warner optou por seu
contratado Kirk Douglas, então com 33 anos em 1949, ele que havia impressionado
com seu desempenho como boxeur em “O Invencível”, naquele mesmo ano. A direção
foi entregue à competência de Michael Curtiz que desta vez ficou abaixo dos grandes
filmes que fazia um atrás do outro. Mesmo assim “Êxito Fugaz” é uma festa para
os fãs de música com a maravilhosa Doris Day cantando e encantando com alguns standards
da canção norte-americana e a presença de Hoagy Carmichael que, na vida real,
tocara com Beiderbecke. Lauren Bacall é a mulher que destrói a vida do
trompetista e uma pena que o forçado final feliz ignore o trágico fim do músico
que em seu tempo só tinha Louis Armstrong com talento semelhante. 7/10
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
VIKINGS, OS CONQUISTADORES (The Vikings), 1958
Por Odin! Esta pode não ser
a melhor das aventuras do cinema com sequências em alto mar, mas certamente é a
mais bonita, isto graças à excepcional fotografia de Jack Cardiff que por si só
vale pelo filme produzido e estrelado por Kirk Douglas. Porém “Vikings, os
Conquistadores” é diversão Classe A com Douglas exuberante no melhor de sua
forma física como o viking Einar. Excelentes sequências de batalha e uma impressionante
tomada de um castelo que culmina com Douglas enfrentando Tony Curtis, seu meio
irmão, ambos filhos de Ragnar, rei viking interpretado com a doce brutalidade
que era a marca registrada de Ernest Borgnine. Curtis e Douglas disputam o amor
da frágil e linda princesa galesa Janet Leigh num espetáculo com ritmo e
imagens tão perfeitas que até esquecemos das ingênuas coincidências do roteiro.
Há ainda o rigor na reprodução das vestes, armas, costumes e especialmente as
réplicas dos navios vikings. Filmado em boa parte nos fiordes da Noruega, esta
produção da Bryna fez enorme sucesso de público, boa parte dele apaixonado pelo
então casal mais querido do cinema, Tony e Janet. Mas o filme é mesmo de Kirk
Douglas, seguido de perto por Ernest, um ano mais novo que Kirk e aqui vivendo
seu pai. 8/10
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
GLÓRIA FEITA DE SANGUE (Paths of Glory), 1957
Perguntado sobre qual filme
mais teve orgulho em fazer, Kirk Douglas respondeu de pronto: “Sem dúvida, ‘Glória Feita de Sangue’ pela
força, coragem e atualidade que mantém”. O ator poderia ter dito mais, como
por exemplo que esse filme realizado por Stanley Kubrick aos 29 anos de idade
beira a perfeição e é verdadeira aula de como se fazer cinema, inclusive com
pouco dinheiro. Custou 935 mil dólares, um terço do que foi gasto com “A Ponte
do Rio Kwai”, também de 1957 e que arrebatou uma penca de Oscars. Como muitos
outros grande filmes, “Glória Feita de Sangue” sequer foi lembrado em nenhuma
categoria, nem mesmo diante da soberba interpretação de George Macready como o odioso
General Mireau. Magistralmente Kubrick mostra que morrem em batalha os homens
simples enquanto os aristocratas com o peito coberto de medalhas se reúnem em
luxuosos castelos onde tramam promoções a custa de calculadas morte nos campos
de guerra. Talvez o mais cruel dos filmes, com os sórdidos dez minutos iniciais
de diálogo nauseabundo entre os dois generais franceses. A farsa do tribunal
militar montado para condenar três soldados cuja execução ‘servirá de tônico
para a divisão’ e o impressionante travelling da câmara de Kubrick na
trincheira são igualmente pontos altos. O diretor chegou a pensar num final
feliz, ideia ainda bem rechaçada e o filme se fecha poeticamente com a moça
alemã e soldados (que logo certamente morrerão) irmanados numa terna canção de
amor. Obra-prima. 10/10
domingo, 27 de novembro de 2016
A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (Ace in the Hole), 1951
Antes de se especializar em
destilar seu cinismo diante das fraquezas do ser humano através de suas
sarcásticas comédias, Billy Wilder era áspero e cruel. Cruel demais para o
gosto norte-americano especialmente com este filme sobre o trabalho da imprensa
e que se transformou em um raro fracasso para Wilder. Isto mesmo com a presença
de Kirk Douglas encabeçando o elenco. Injusto fracasso pois “A Montanha dos
Sete Abutres” é um dos melhores filmes da admirável filmografia de Wilder. Relato
amargo que, mais que a imprensa sensacionalista, denuncia o próprio cidadão
norte-americano que se deixa conduzir em histeria coletiva para assistir a uma
tragédia individual. O inescrupuloso repórter Charles Tatum (Douglas) prolonga
ao máximo a agonia de um homem soterrado visando com isso recuperar o respeito
que perdera como jornalista de órgãos importantes. Insensível e manipulador,
Tatum alicia a corrupta lei na figura do sheriff de Albuquerque (Ray Teal) e
despe psicologicamente uma das mais sórdidas mulheres (Jan Sterling) já vistas
no cinema. Kirk Douglas interpreta intensa e vigorosamente o abjeto repórter
neste drama que o tempo se incumbiu de cada vez mais valorizar. 9/10
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
A RODA DA FORTUNA (The Bad Wagon), 1953
Na década de 50 a MGM
produziu alguns dos melhores musicais de todos os tempos. E quase todos eram entretenimentos
leves, mesmo considerando que “Os Três Mosqueteiros” (1948) baseou-se no alegre
clássico de Alexandre Dumas e o premiadíssimo “Sinfonia de Paris” foi o mais
pretensioso musical daqueles tempos. Ainda demoraria para que Shakespeare
vertido para as ruas de Nova York desse tons mais trágicos a um musical pois “West
Side Story” só tomaria de assalto a Broadway em setembro de 1957. Curioso
portanto que “A Roda da Fortuna”, musical de Vincente Minelli propusesse que
musicais não devessem fugir de tentativas de adaptações de clássicos como “Fausto”
e se pautassem pelo ‘That’s Entertainment’, por sinal um dos melhores números
deste filme, ao lado do encantador “Dancing in the Dark” (Fred Astaire e Cyd
Charisse), do delicioso “Triplets” (Astaire, Nanette Fabray e Jack Buchanan) e
de “A Shine on Your Shoes” (Astaire e Leroy Daniels). “A Roda da Fortuna” fala
ainda do esquecimento dos antigos astros e da quase mesma estatura da dupla
principal. Mas quem se importa com isso se vê-los dançar é algo transcendente. 7/10
terça-feira, 22 de novembro de 2016
PÃO, AMOR E CIÚME (Pane, Amore e Gelosia), 1954
Para atenuar o sofrimento
deixado pela II Grande Guerra, a Itália passou a produzir um número incrível de
comédias com nuances do neo-realismo e uma das melhores dessas comédias foi “Pão,
Amor e Fantasia”, que Luigi Comencini rodou em 1953, alcançando enorme sucesso.
O público adorou ver Vittorio De Sica atuando ao lado de Gina Lollobrigida, ele
como o ‘Maresciallo Carotenuto e ela como ‘La Bersagliera’. No ano seguinte
houve a sequência “Pão, Amor e Ciúme”, tão ou mais engraçada que a primeira
pois colocava o ‘Maresciallo’ em situações ainda mais constrangedoras no pequeno lugarejo do Sul da
Itália chamado Sagliena. Lá ocorriam não apenas fantasias ou ciúmes, mas
mexericos aos montes feitos pelas maledicentes línguas do povo local que tinha
esse condenável mas característico hábito. E bem que o ‘Maresciallo’ merecia
ser a maior vítima dos comentários pois nenhuma mulher bonita lhe escapava ao
assédio. E em Sagliena havia ‘La Bersagliera’, a melhor expressão do pecado com
sua vivacidade, petulância e formosura. Tão deliciosas foram estas duas comédias
de Comencini que a série continuou com “Pão, Amor e...” com Sophia Loren
substituindo Gina e ainda “Pão, Amor e Andaluzia” (1955), esta com Carmen Sevilla
e De Sica sempre como o libidinoso comandante Carotenuto. 8/10
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
PACTO DE SANGUE (Double Indemnity), 1944
Antes de dirigir o melhor
filme sobre Hollywood e a melhor comédia do cinema (“Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto
Mais Quente Melhor”), o austríaco Billy Wilder havia realizado também o melhor
de todos os policiais noir que foi “Pacto de Sangue”. Partindo de uma história
de James M. Cain, Billy Wilder se reuniu com o escritor Raymond Chandler para
escrever um roteiro perfeito eivado de frases em que a mordacidade só é
superada pela inteligência das mesmas. Neste modelo de filme noir não só a envolvente
trama mas e especialmente o suspense que Wilder cria em diversos momentos desconcerta
e seduz o espectador, do mesmo modo que o corretor de seguros interpretado por
Fred MacMurray se mostra impotente para escapar do fascínio exercido por
Barbara Stanwyck. Pela primeira vez em sua carreira como uma criminosa, Barbara
é adúltera e perversamente calculista, usando uma peruca loura e uma pulseira
no tornozelo que enlouquece MacMurray. As sinistras persianas avisam o
espectador da tragédia que se avizinha capturada pela estupenda fotografia de
John F. Seitz e com a brilhante trilha de Miklos Rosza. Edward G. Robinson é o
sagaz inspetor da seguradora que não descobre o crime quase perfeito. 10/10
sábado, 19 de novembro de 2016
CONSCIÊNCIAS MORTAS (The Ox-Bow incident), 1943
É duvidoso aceitar que um
faroeste possa dispensar trocas de tiros, emocionantes cavalgadas, cenários
deslumbrantes, roteiro fácil e tudo o mais que invariavelmente caracteriza o
gênero. Mais ainda que um western possa refletir comportamentos humanos abjetos ao abordar
um assunto desagradável que o cinema sempre evitou tocar. Esse filme existe,
foi filmado em 1941 graças aos esforços e tenacidade de Henry Fonda e do
diretor William A. Wellman, sendo lançado em 1943 com o título “Consciências
Mortas”. Com apenas 75 minutos de duração, metragem quase de um western B, transformou-se
num dos mais admirados faroestes até hoje produzidos. Sombrio, pessimista,
trágico mesmo, expõe a covardia de uma turba histérica que se nega a dar a inocentes
o direito de defesa. Tomados por fúria coletiva encontram no linchamento a
solução para encobrir suas próprias fraquezas. Henry Fonda era então, no elenco,
o único nome capaz de atrair o público que não se interessou em ver “Consciências
Mortas”. Mais tarde Orson Welles e Clint Eastwood externaram profunda admiração
por este filme que a quase unanimidade da crítica reverencia como obra-prima do
gênero. 9/10 - Resenha completa no blog http://westerncinemania.blogspot.com.br/
terça-feira, 15 de novembro de 2016
CASABLANCA, 1943
Obra-prima do cinema
romântico, este filme de Michael Curtiz não se limita jamais a esta simples
definição de gênero. O extraordinário roteiro de “Casablanca” abriga intrigas e
mistério como deve ser um bom policial noir e ainda reflete magnificamente a
tensão vivida durante a II Grande Guerra. Como nenhum outro faz jus ao termo ‘cult’,
ou seja, aquele filme que jamais nos cansamos de rever porque nos delicia a
amoralidade de Humphrey Bogart e o encantador vezo corrupto de Claude Rains. O
grupo de misteriosos personagens que se cruzam na fascinante atmosfera do ‘Ricks’,
onde se passa a maior parte da história, trama suas aventuras ao som da voz rouquenha
e inesquecível de Dooley Wilson. Entre outras maravilhosas canções ouve-se a
contagiante “Knock on Wood” e “As Time Goes By”, esta já com a presença de
Ingrid Bergman, nunca antes ou depois mais bonita. O durão Bogart mostra que
sabe ser sensível e sucumbe ao amor impossível lembrando que “sempre haverá
Paris” e ao final dando o que falar com a amizade que inicia com o chefe de
polícia francês. Magistral direção de atores de Michael Curtiz, responsável
maior pela quase perfeição de “Casablanca”. O quase fica por conta do
inexpressivo Paul Henreid. 10/10
domingo, 13 de novembro de 2016
A COMPANHEIRA DE TARZAN (Tarzan and His Mate), 1934
Edgar Rice Borroughs
negociou com a MGM o direito de adaptar suas histórias sobre o heroi e o
estúdio então passou a fazer o quem bem entendeu com ele. Depois do enorme
sucesso do primeiro filme da série com Johnny Weissmuler, a imaginação de
Cedric Gibbons, diretor de arte do estúdio, extrapolou os limites de sua
criatividade e veio “A Companheira de Tarzan”, até hoje o melhor de todos os
filmes sobre o Rei das Selvas. Gibbons reduziu a participação de Tarzan e ampliou
a de Jane, na medida exata em que explorou ao máximo a sensualidade que a pouca
roupa da heroína permitia, ou seja, quase tudo. Realizado pouco antes de entrar
em vigência o Código Hays, os espectadores puderam ver a nudez de Jane na
famosa sequência aquática que logo seria excluída do filme em nome da moral e
dos bons costumes. E quem o público via, de fato era a nadadora olímpica
Josephine McKim dublando Maureen O’Sullivan. Por quase 50 anos essas cenas foram
dadas como desaparecidas até que, encontradas, o filme foi restaurado na íntegra,
como Gibbons sonhou. Excepcional filme de ação com Weissmuller ainda magro, com
espaço para o lirismo entre Jane-Tarzan, Cheeta vivendo perigos e... a reduzida
tanga da inesquecível Maureen O’Sullivan. 9/10
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane), 1953
Poucos discordam que “Shane”
seja o mais admirado faroeste de todos os tempos e pode-se perguntar o que
levou o filme do meticuloso George Stevens a essa quase unanimidade? Certamente
não foi seu previsível roteiro narrando como o desconhecido pistoleiro coloca
as coisas no lugar na região dominada pelos brutos Rykers. Não foi também a
trama paralela envolvendo o obsequioso e respeitador estranho e o casal
Starrett, trama esta que não chega a lugar nenhum mesmo sendo Joe Starrett o mais
compreensivo lavrador do Wyoming. Há a admiração pelo elegante matador de aluguel Wilson, menor apenas que aquela devotada a Shane, especialmente quando este traja
sua inconfundível roupa de pele de gamo que ainda mais reduz o tamanho do
diminuto e mitológico (como gostam de dizer) herói. Não há quem não ressalte,
por mais enfadonho que isso seja, a invenção de o espectador ver o filme pelos
olhos do onipresente menino, aquele que não perde uma chance de fazer ecoar
pelos vales perdidos o nome ‘Shane’. E nem pensar que Victor Young tenha exagerado
na sacarose no tema musical igualmente cultuado. Falta apenas pensar naquele que é o mais bizarro
cinturão do Velho Oeste... 7/10 - Resenha completa no blog http://westerncinemania.blogspot.com.br/
O SOL POR TESTEMUNHA (Plein Soleil), 1960
René Clément foi um dos
diretores massacrados pela turma da Nouvelle Vague. E justamente no ano em que
foram lançados “Acossado”, “Os Incompreendidos” e “Hiroshima, Mon Amour”,
Clément respondeu a Godard, Truffaut e cia. com um suspense que marcou época: “O
Sol por Testemunha”. Esqueça-se o tom sombrio dos filmes noir, as vielas
escuras e as feições abrutalhadas dos vilões. Este thriller policial é
luminoso, ensolarado, e excepcionalmente inteligente, com um trio central
formado por atores muito bonitos. Alain Delon esbanja charme como o amoral e ardiloso
vilão que cobiça não só a fortuna do amigo mas também ficar com sua namorada. A
autora Patricia Highsmith gostou do filme e disse que ao escrever a história em
1955 jamais imaginara alguém como Delon para interpretar o talentoso Mr.
Ripley. Filmado em estonteantes locações no Mar Mediterrâneo, o filme de
Clément possui uma sequência antológica quando Tom Ripley percorre uma feira
livre de rua em Nápoles e os peixes mortos olham para ele como que o condenando
pelos assassinatos cometidos. As nuances homossexuais do livro foram atenuadas,
o que não ocorreu no remake “O Talentoso Mr. Ripley”, de 1999. Embora muita
tinta tenha sido gasta com o inovador “Acossado”, o público preferiu mesmo ver o
excelente “O Sol por Testemunha”. 9/10
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
O PAGADOR DE PROMESSAS, 1962
Anselmo Duarte faleceu aos
89 anos de idade e nas últimas cinco décadas de sua vida foi um homem amargurado
e rancoroso. Mesmo após ter realizado um dos marcos da cinematografia
brasileira – “O Pagador de Promessas” – Anselmo nunca teve seu talento como
diretor devidamente reconhecido aqui no Brasil. Conviveu com o ciúme de toda
uma geração de cinemanovistas (e seus seguidores) que nunca o perdoou por fazer
um cinema sem modismos. ‘Acadêmico’ era
o adjetivo menos pejorativo que Anselmo recebia, de nada adiantando ter vencido
Buñuel, Antonioni, Preminger e outros idolatrados diretores ao trazer para o
Brasil a ambicionada Palma de Ouro. Levada ao cinema após ser encenada em 1960,
a história de Dias Gomes não perdoa ninguém, desde a intolerância da igreja ao
sensacionalismo da imprensa, passando pela polícia corrupta. Abordando tema brasileiríssimo
que é o sincretismo religioso, Anselmo filmou quase que inteiramente nas escadarias
da Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo, em Salvador. Leonardo Villar
estupendo como Zé do Burro e brilhantes Norma Bengell e todo o elenco. “O
Pagador de Promessas” sempre emociona e é um filme perfeito, descontada a
música intrusiva de Gabriel Migliori. 10/10
terça-feira, 8 de novembro de 2016
JANELA INDISCRETA (Rear Window), 1953
Cada cinéfilo tem seu(s)
Hitchcock preferido(s) e para mim, se o Mestre do Suspense não levou os nervos
da plateia ao limite com “Janela Indiscreta”, nos deu um de seus filmes mais
fascinantes. Alfred Hitchcock transforma cada um de nós em voyeur a cada minuto
mais obcecado. O fotógrafo preso à cadeira de rodas é o próprio espectador que,
como lembrou Hitch, exercita através do cinema seu desejo de espiar comportamentos
no mais das vezes reprováveis. Filme claustrofóbico mas que jamais cansa porque
o diretor sabe exatamente o que quer e o que faz. E Hitch quer, como de hábito,
brincar com o público que paga para ver seus filmes. Chegou-se a dizer que esta
é a película mais pessoal do diretor pois a imobilidade do fotógrafo
significaria sua impotência. E Grace Kelly está ali mais linda que nunca diante
de um James Stewart incapaz de se levantar de sua cadeira de diretor, digo de
rodas. Assim como Hitch, Stewart também se apaixonou por Grace durante as
filmagens. Baseado na história “It Had to Be Murder”, pulp fiction de Cornell Woolrich
enriquecida pelos cáusticos diálogos de John Michael Hayes. Raymond Burr
impressionante como o matricida. 10/10
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
OS CORRUPTOS (The Big Heat), 1953
Nenhum outro diretor
desafiou o famigerado Código Hays como o fez Fritz Lang em 1953 com o policial
noir “Os Corruptos”. Originalmente planejado para ter no elenco Edward G.
Robinson, George Raft e Paul Muni, ficou para Glenn Ford a responsabilidade de
desempenhar o detetive que confronta todo o corrompido sistema político-policial
de uma fictícia grande cidade. E Glenn Ford se vê às voltas com um jovem ator –
Lee Marvin – de quem ninguém poderia suspeitar que logo faria James Cagney
parecer um coroinha. Nesse sensacional duelo de violência entre Ford e Marvin o
policial é movido por vingança pessoal e o gângster (Lee) por sua incontida bestialidade.
E Glenn Ford tem seu momento maior no cinema expressando magnificamente não só desespero
e angústia mas e principalmente a solidão que apenas os corajosos conhecem de
verdade. Num filme onde as mulheres têm igual importância à dos homens, Jeanette
Nolan está estupenda como a egoísta viúva e brilha Gloria Grahame que tem o rosto
de boneca desfigurado por Lee Marvin numa sequência apavorante. Chamar “Os
Corruptos” de clássico é pouco para este extraordinário filme de Fritz Lang. 9/10
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
O PIRATA SANGRENTO (The Crimson Pirate), 1952
Jamais haverá um filme sobre
aventureiros do mar como “O Pirata Sangrento” por uma razão muito simples:
jamais haverá outro Burt Lancaster. Bem que volta e meia Hollywood procurou,
entre seus grandes astros, algum que chegasse perto de Douglas Fairbanks Sr.
Desfilaram no gênero capa-e-espada entre outros, Tyrone Power, Yul Brynner, Gregory
Peck, Rock Hudson e Errol Flynn depois de ser Robin Hood. Foi, no entanto, em
1952 que Burt Lancaster, sempre em companhia de Nick Cravat, assombrou o mundo
com a mais empolgante, movimentada e deslumbrante aventura de um corsário: “O
Pirata Sangrento”. Lancaster e Cravat tiram o fôlego do espectador não só com
as incríveis acrobacias feitas sobre galeões, balões e onde mais se encontrem,
mas com as gargalhadas provocadas nesta que é a mais divertida aventura
marítima do cinema. E pensar que Johnny Depp chegou a receber 60 milhões de para
se vestir outra vez como Jack Sparrow. Creditada a direção a Robert Siodmak, “O
Pirata Sangrento” é puro Burt Lancaster que foi também o produtor. Saboroso roteiro
de Roland Kibbee e esplendorosa fotografia de Otto Heller com cenários naturais
da Ilha de Ischia, na costa de Nápoles. 10/10
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
SINDICATO DE LADRÕES (On the Waterfront), 1954
O título nacional muito mais apropriado
que o original não deixa dúvidas quanto à intenção deste corajoso filme de Elia
Kazan, diretor que nunca conseguiu se livrar da pecha de covarde. Denunciando
sem meias palavras a máfia que controlava os trabalhadores no porto de Nova York,
“Sindicato de Ladrões” tocou em assunto que jamais o cinema havia tido a
ousadia de focalizar. A violência das organizações sindicais é mostrada num
filme que conseguiu capturar prodigiosamente a atmosfera sinistra da zona
portuária. Para isso foram fundamentais o extraordinário trabalho do cinegrafista
Boris Kauffman e a música incidental do compositor Leonard Bernstein, este
antecipando o que faria em sua segunda e final incursão no cinema com outra
obra-prima que foi “Amor, Sublime Amor
(West Side Story). Indicado para o Oscar em 12 categorias, recebeu oito das
principais estatuetas arrebatando ainda todos os demais prêmios
cinematográficos importantes daquele ano. Muito se falou que com este filme
Kazan tenha tentado justificar seus pecados, o que tem menor importância diante
da grandeza de “Sindicato de Ladrões”. Marlon Brando notável, assim como Lee J.
Cobb, num elenco impecável. 10/10
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
O SEGREDO DAS JÓIAS (The Asphalt Jungle), 1950
John Huston era, em 1950,
um conceituado diretor de cinema. Mesmo assim aceitou o desafio de dirigir um
filme no qual não havia um único astro para atrair o público. Quem poderia
suspeitar que Huston criaria um influente filme policial sem charmosos detetives
a la Humphrey Bogart ou vilões como Edward G. Robinson no elenco. Mais que
isso, atores pouco conhecidos interpretando, quase todos, tipos simplórios
tendo em comum a tendência para o fracasso, uma constante nos filmes de John Huston.
O assalto a uma joalheria não é o clímax do filme pois ocorre na metade da
película. Mesmo sendo admiravelmente filmada essa sequência tem menor importância
pois o objetivo maior do roteiro de Ben Meadow em parceria com Huston é estudar
cada um dos angustiados personagens antes e após o roubo. O título original faz
menção à decepção que Dix Handley (Sterling Hayden) tem com a cidade grande que
ele pretende abandonar voltando para suas origens rurais no Kentucky. Magnífica fotografia e raro exemplo
de interpretações perfeitas de todo o elenco, com destaque maior para Sam Jaffe
e Louis Calhern. Imperdível ver Marilyn Monroe antes da fama e Jean Hagen (a ‘Lina
Lamont’ de “Cantando na Chuva”) num papel sério. 9/10
terça-feira, 25 de outubro de 2016
OS ETERNOS DESCONHECIDOS (I Soliti Ignoti), 1958
A ‘Comédia à Italiana’ foi
um gênero que marcou época e que teve início com “Os Eternos Desconhecidos”,
filme de Mario Monicelli. Com nuances do movimento neo-realista, essa comédia
tem profundo caráter social com personagens identificados com pessoas simples.
Passa-se numa Roma inteiramente diferente da focalizada, por exemplo, em “La Dolce
Vita” e reúne um grupo de atrapalhados vigaristas sempre prontos a dar golpes. A
parte final até que se aproxima de “Rififi”, de Jules Dassin, do qual “Os Eternos
Desconhecidos” seria uma paródia, mas o pitoresco de cada tipo e os saborosamente
sarcásticos diálogos fazem do filme de Monicelli uma comédia incomum. Um genial
achado do roteiro é o personagem de Totó que reverencia toda a comicidade que o
cinema italiano criou anteriormente. Traz o grande ator dramático Vittorio Gassman
fazendo rir a cada fala sua e ainda Memmo Carotenutto e Marcello Mastroianni,
este menos engraçado. Presença da bela Rossana Rory e das então jovens
promessas Claudia Cardinalle e Carla Gravina. “Os Eternos Desconhecidos”
concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, deu a Gassman o Nastri d’Argento
de Melhor Ator e teve uma sequência intitulada “O Golpe dos Eternos
Desconhecidos”, dirigida por Nanni Loy, com quase todo o mesmo elenco em 1959. Em
1985 foi filmado “Uma Dupla Irreverente” (I Soliti Ignoti Vent’Anni Dopo), com Mastroianni
e Tiberio Murgia. O filme de Monicelli é uma comédia clássica que a cada
revisão se mostra mais engraçada. 9/10
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
SPARTACUS, 1960
Hollywood passou toda a
década de 50 inventando fórmulas para combater a televisão que lhe roubava
público. Os superespetáculos tornaram-se rotina com suas telas e elencos imensos
e histórias quase sempre enfadonhas. Em 1960 “Spartacus” mostrou que
superproduções também podiam resultar em excelentes filmes. Para isso Kirk
Douglas provou ser o homem mais corajoso do cinema norte-americano, contratando
o ‘proibido’ Dalton Trumbo e entregando a direção a um jovem diretor de 31 anos,
Stanley Kubrick. Ao invés de se reportar às clássicas histórias bíblicas,
“Spartacus” levou para as telas uma questão crucial no país, a dos direitos
humanos que a partir de então ganharia cada vez mais corpo no cinema. Diálogos
afiadíssimos de Trumbo, história comovente, cinematografia portentosa de
Russell Metty com sequências de batalhas inimagináveis e nunca igualadas e um
elenco com o brilho de Laurence Olivier, Charles Laughton e Peter Ustinov. A
pobre Academia teve a árdua tarefa de decidir a qual dos três dar o prêmio de
Melhor ator Coadjuvante (Ustinov). Mesmo ofuscado pela overdose de talento do
trio britânico, Kirk Douglas foi um Spartacus vigoroso, convincente e
emocionante como escravo-gladiador-líder. Desse esplêndido filme perdoa-se até
o forçado final. 10/10
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
O TERCEIRO HOMEM (The Third Man), 1949
Em 1999 o British Film
Institute (BFI) promoveu uma enquete com mil pessoas ligadas ao universo
cinematográfico para eleger o melhor filme inglês de todos os tempos. O grande
vencedor, à frente de “Lawrence da Arábia”, “Desencanto” e “A Ponte do Rio Kwai”,
foi “O Terceiro Homem”, suspense noir dirigido por Carol Reed em 1949 com
história e roteiro de Graham Greene. A produção do próprio Reed em parceria com
Alexander Korda e David O. Selznick recebeu a Palma de Ouro do Festival de
Cannes, o BAFTA de melhor filme inglês e um Oscar de Melhor Fotografia em Preto
e Branco. Foi o filme escolhido por Martin Scorsese para sua tese de formatura
na Escola de Cinema da Universidade de Nova York. História de mistério passada
no pós-II Guerra Mundial como tantas outras, “O Terceiro Homem” tornou-se um inesperado
e instantâneo clássico devido ao estranho fascínio que o filme exerce, mesmo
visto quase 70 anos depois de lançado. A extraordinária cinematografia
expressionista mostrando uma Viena sombria e em parte destruída pela guerra, o
roteiro inescrutável (que Hitchcock sempre perseguiu), a invulgar música de
Anton Karas e um notável elenco internacional completam a direção segura e
inventiva de Carol Reed. Mas é Orson Welles nos meros dez minutos em que atua
como o cínico e inescrupuloso Harry Lime, inesquecível na desesperada fuga
pelas galerias de esgoto às margens do Danúbio, a força maior desta reverenciada
obra-prima. 10/10
sábado, 15 de outubro de 2016
CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE (Pillow Talk), 1959
Solenemente ignorada pela
sisuda crítica que não consegue rir, “Confidências à Meia-Noite” é uma das mais
perfeitas comédias românticas sofisticadas produzidas pelo cinema
norte-americano. Reuniu pela primeira vez Doris Day e Rock Hudson que, a partir
de então, se tornariam campeões de bilheteria (ela por quatro anos em primeiro
lugar, façanha somente atingida por Shirley Temple). Tony Randall também no
elenco estaria junto a Doris e Tony nos filmes seguintes da dupla. Dirigido por
Michael Gordon em dia de Billy Wilder, com premiado roteiro de Russel Rouse e Stanley
Shapiro, “Pillow Talk” é um filme repleto de situações tão picantes quanto
hilariantes numa ‘guerra de sexos’ irresistível. O ricaço Tony Randall quer
namorar a decoradora Doris e esta tem uma linha telefônica dividida com o
notório compositor e conquistador Rock Hudson. Este quer fazer de Doris mais
uma de suas conquistas mas se dá mal porque acaba se apaixonando por ela. E
quem não se apaixonaria? Tudo funciona neste filme que mostra Doris Day
entrando na fase que levou o público a admirá-la ainda mais e o excelente Rock
Hudson fazer piada com a própria sexualidade. Telma Ritter rouba o filme e até
Nick Adams faz rir. A canção ‘Pillow Talk’ fez enorme sucesso, assim como o
filme. 10/10
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