O que faz este filme de Otto Preminger
possuir tantos apaixonados admiradores não são suas muitas qualidades de
excelente melodrama noir, mas sim o excepcional conjunto de frases da mais fina
e cortante ironia. Expressas especialmente por Clifton Webb, Vincent Price e
Judith Anderson, são autênticas farpas eivadas do mais puro e penetrante sarcasmo.
“Posso ter manchas no meu caráter, mas
não nas minhas roupas” responde Shelby Carpenter (Price) num dos melhores
exemplos de como caracterizar um personagem, o que o roteiro faz
esplendidamente. Shelby é um playboy suspeito de um misterioso crime cuja
vítima aparentemente seria Laura (Gene Tierney), por quem o escritor Waldo
Lydecker (Webb) é fascinado. E mesmo o detetive McPherson (Dana Andrews) desenvolve
uma paixão necrófila por Laura a quem só conhece de um quadro. “Laura” é brilhante
não só na bem elaborada trama mas também na ambiguidade de seus personagens
principais, na excepcional fotografia de Joseph LaShelle e na admirável trilha
musical de David Raksin. Gene Tierney nunca esteve mais linda; Vincent Price
curiosamente fora dos tipos que sempre viveu na tela; a ótima Judith Anderson aparece
pouco num filme em que Clifton Webb é o maior destaque. Webb compensa a aparência
excessivamente madura com a inacreditável soberba de seu psicótico personagem. 9/10
- Cópia gentilmente cedida pelo
cinéfilo José Flávio Mantoani.
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