Vladimir Nabokov escandalizou
o mundo da literatura em meados da década de 50 com sua obra-prima “Lolita”. Rotulado
como ‘romance erótico’, esse livro escrito com estilo primoroso e inovador
narrava a obsessão de um homem por meninas ainda na fase da puberdade. Aclamado
como um dos maiores romances do século, foi levado ao cinema pelo perfeccionista
Stanley Kubrick com roteiro adaptado pelo próprio Nabokov, ou quase. Isto
porque sabe-se que Kubrick praticamente reescreveu o roteiro que resultou um
filme com 153 minutos de duração, primeiro problema, ser longo demais. A Lolita
do livro de Nabokov tinha 12 anos, enquanto a atriz escolhida para interpretar
a ninfeta estava com 16 quando o filme foi realizado, descaracterizando a
personagem. Livro é livro e filme é filme, mas passagens importantes da obra
literária foram suprimidas e ampliado o personagem ‘Clare Quilty’,
possibilitando a Peter Sellers uma de suas mais irritantes composições no
cinema. Perdeu-se muito do refinado erotismo criado por Nabokov e o filme vale
pelo magnífico e trágico ‘Humbert Humbert’ do sempre brilhante James Mason,
assim como ótima está Shelley Winters como a viúva que quer o pedófilo para
padrasto de sua filha. 6/10
quinta-feira, 29 de junho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
ASCENSOR PARA O CADAFALSO (Ascenseur pour l'Échafaud), 1958
A carreira de Louis Malle
repleta de grandes filmes e muitos prêmios teve inicio em 1958 com duas
películas por ele dirigidas aos 25 anos de idade. Esses filmes foram “Ascensor
para o Cadafalso” e “Os Amantes” que chamaram a atenção não só para o jovem diretor,
mas que tornaram Jeanne Moreau uma das principais atrizes francesas. “Ascensor
para o Cadafalso” é um melodrama policial com toques de filmes noir cuja trama
se desenvolve com diversas sequências de suspense lembrando em muito os trabalhos
do mestre Alfred Hitchcock. Malle não fazia parte da Nouvelle Vague e mesmo
assim fez um filme que fugia aos padrões dos policiais franceses ou europeus,
com trilha sonora jazzística com o quinteto de Miles Davis dando ao filme uma
atmosfera inusitada. Jeanne Moreau iluminada pelas luzes noturnas das ruas de
Paris e pelo neon dos bares e restaurantes torna mais dramático o desespero da
personagem à procura de seu amante, autor de um crime que tinha tudo para ser
perfeito. Imperfeito e inexplicável é o gancho (com uma corda) ter se soltado
da grade e caído na calçada, uma falha imperdoável para um ótimo filme de suspense.
8/10
domingo, 25 de junho de 2017
Bucking Broadway, 1917
Descontados os ‘shorts’
(filmes de dois rolos), Jack Ford dirigiu 4 filmes em 1917, ano em começou sua
carreira como diretor, quando tinha 23 anos de idade. Toda a produção inicial
de Jack Ford na Universal foi dada como perdida, até que foi descoberto “O
Último Cartucho” (Straight Shooting) na ainda Tchecolováquia e em seguida
“Bucking Broadway”, descoberto na França. Ambos os filmes são de 1917
completando, portanto, um centenário e são estrelados por Harry Carey com quem
Ford fez expressiva parceria até se tornar John Ford e passar a ser visto como
respeitado diretor. Nos 53 minutos de “Bucking Broadway” Harry Carey como
‘Cheyenne Harry’, cowboy do Wyoming, se enamora de Molly Malone mas Vester Pegg
a leva para Nova York. Cheyenne Harry os segue e resgata a moça, em um roteiro
simplório que serve de pretexto para que um grupo de cowboys invada um hotel de
luxo e surrem um grupo de burgueses. Pelo menos doze sequências foram cortadas
pela censura, o que prejudicou bastante o filme que já demonstra o domínio de
Ford sobre as grandes paisagens e o desprezo pelo Leste. Harry Carey parece já
ter nascido velho e destaque-se a surpreendente ótima cópia para uma matriz
desaparecida por tantas décadas.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
O VAMPIRO DA NOITE (Horror of Dracula), 1958
Ao contrário do que muitos
afirmam, este não foi o primeiro filme de terror da Hammer pois em 1957 Peter
Cushing e Christopher Lee haviam contracenado em “A Maldição de Frankenstein”,
também dirigido por Terence Fisher. Porém “O Vampiro da Noite” fez enorme
sucesso e é tido como iniciador do longo e bem sucedido ciclo de terror daquela
produtora inglesa. Fugindo dos padrões habituais do gênero este Drácula aparece
em Technicolor e a história de Bram Stoker é transferida para a Inglaterra. Distante
da criação de Bela Lugosi, o Conde Drácula interpretado por Christopher Lee, mostra
preferência por vítimas femininas que parecem se deixar seduzir pelo vampiro em
sequências de latente erotismo e de sexualidade reprimida. Peter Cushing é o
vampirologista que enfrenta Drácula em seu próprio castelo. As carreiras desses
dois atores ingleses ganharam maior dimensão após o êxito de “O Vampiro da
Noite”, enquanto Michael Cough esperaria um pouco mais para ser o mordomo do “Batman”
de Tim Burton e de três continuações. A bela atriz Melissa Stribling escapa de
ser vítima de Drácula neste filme que se tornou clássico mais por rever a
história de Stoker de forma simples, quase despretensiosa, o que agradou o
público. 8/10
segunda-feira, 19 de junho de 2017
A MUNDANA (A Foreign Affair), 1948
Billy Wilder foi um eterno
provocador e raro filme seu que não desperte irritações a pequenos grupos ou até
nações. Foi o que aconteceu com “A Mundana”, que desagradou alemães e mais
ainda ao Exército norte-americano. Com roteiro de Wilder em parceria com
Charles Brackett a história se passa em uma Berlim inteiramente destruída após
a II Grande Guerra, onde chegam congressistas para observar o comportamento dos
soldados que tomavam conta da área ocupada pelas tropas de ‘Tio Sam’. Mercado
negro a todo vapor, frauleins se vendendo por barras de chocolate e um
inusitado triângulo amoroso entre uma congressista, um tenente americano e uma cantora
alemã formam farto material para a mordacidade de Wilder. “A Mundana” só não é
melhor porque Jean Arthur é incapaz de se despir do seu tipo de moça séria numa
situação próxima à de Ninotchka. E ainda porque John Lund é um ator com ilimitada
capacidade de ser inexpressivo. Mas há a maravilhosa Marlene Dietrich e sua irresistível
sensualidade quando olha, fala e dança e mais ainda quando canta três canções
de Fredrich Hollaender, o mesmo que compôs as músicas que La Dietrich
interpreta em “O Anjo Azul”. Hollaender aparece ao piano acompanhando Marlene
no cabaré repleto de soldados. 8/10
sexta-feira, 16 de junho de 2017
QUERO VIVER! (I Want to Live!), 1958
Este filme de Robert Wise conta a história de Barbara Graham,
prostituta que denunciada por um crime de morte foi condenada pela justiça da
Califórnia à pena capital numa câmara de gás em 1955. Como não poderia deixar
de ser a imprensa explorou o assunto e recrudesceram os debates sobre esse tipo
de sentença. Baseado em artigos de jornais e revistas e em cartas escritas pela
própria Barbara, o jornalista Edward Montgomery descreveu em livro a agonia da
condenada enquanto esperava pela execução. Nesse livro baseou-se o roteiro de “Quero
Viver”, filme que questiona a pena de morte e mostra Barbara Graham como vítima
do sistema e condenada por um crime que sempre negou. Wise realizou um policial
noir que após passar por longa sequência de tribunal se desenvolve em boa parte
em sistemas carcerários. Por fim o espectador vê passo a passo como se prepara
e executa uma sentença, tudo embalado pela trilha jazzística de Johnny Mandel.
O pretendido suspense não chega a empolgar e Susan Hayward interpreta a
sentenciada praticamente sem sair de cena num desempenho tão intenso que foi
impossível não evitar alguns excessos. O ótimo Simon Oakland interpreta o
jornalista Ed Montgomery. 7/10
terça-feira, 13 de junho de 2017
PAIXÕES EM FÚRIA (Key Largo), 1938
Não se espere por nenhuma
paixão furiosa neste drama passado numa pequena ilha ao sul da Flórida, um dos
quatro filmes estrelados por Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Enfurecido fica o
mar durante um furacão que assola Key Largo atingindo um hotel onde estão
confinadas diversas pessoas atormentados pelo gângster Edward G. Robinson. Como
um ex-major do Exército, Bogart interpreta mais uma vez um tipo desiludido mas
que encontra forças para enfrentar Robinson e seus capangas numa brilhante
sequência final passada em um barco. Um dos grandes filmes de John Huston com
Robinson excepcional obscurecendo o restante do elenco, à exceção da magnífica
Claire Trevor que recebeu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua
participação como a alcoólatra amiga de Robinson. O momento maior deste filme
intenso é quando Claire implora por uma bebida e canta “Moanin’ Low” com angústia
típica de Billie Holliday (que imortalizou a canção). Poucos dramas
claustrofóbicos como “Paixões em Fúria” envolvem completamente o espectador e
isto se deve à direção de Huston, à cinematografia do austro-húngaro Karl
Freund e ao roteiro de Huston em parceria com Richard Brooks. Lionel Barrymore
também no elenco. 9/10
segunda-feira, 12 de junho de 2017
O REI DOS FACÍNORAS (The Rise and Fall of Legs Diamond), 1960
No final dos anos 50 a série
de TV “Os Intocáveis” fazia enorme sucesso e promoveu um revival do filme de
gângster. Foi então levada ao cinema a história de Jack ‘Legs’ Diamond, com
direção de Budd Boetticher cujo nome torna obrigatório ver este trabalho. Ao contrário
do que diz o filme, o apelido ‘Legs’ foi dado porque Diamond corria como
ninguém da polícia e não porque dançava bem, mas esse é um pequeno detalhe
típico das biografias made-in Hollywood. Diamond é mostrado como um bandido com
pretensões de chegar ao topo na era da Lei Seca e para isso supera os obstáculos
usando a violência e sua inesgotável amoralidade, não respeitando amigos,
amantes e nem mesmo o próprio irmão. Sua visão curta o impediu de sobreviver
quando o crime se organizou. A bela fotografia de Lucien Ballard e a música de
Leonard Rosenman em muito ajudam a direção segura de Boetticher num filme
conciso como era de seu feitio. Ray Danton foi um dos grandes canastrões de seu
tempo e é o gângster sem brilho num elenco que tem ainda os excelentes Warren Oates
(em seu segundo filme), Simon Oakland e Joseph Ruskin. A linda e fraca Karen
Steele, Elaine Stewart e Dyan Cannon sofrem nas mãos dos gângsteres. 7/10
sábado, 10 de junho de 2017
LADRÕES DE BICICLETAS (Ladri di Biciclette), 1948
O neo realismo italiano foi
um dos mais influentes movimentos cinematográficos e “Ladrões de Bicicletas” é
o filme mais importante e que melhor representa aquela tendência artística. Filmado
inteiramente pelas ruas e logradouros de Roma, Vittorio De Sica resolveu não utilizar
atores profissionais para melhor acentuar o realismo necessário para narrar a triste
história vivida pelo chefe de família Antonio. Desempregado há tempos ele
consegue emprego como colador de cartazes e mal começa seu trabalho tem sua
bicicleta roubada. Inicia-se então a tragédia do homem que na companhia do
filho passa por seguidas humilhações e é elevado ao desespero. Este drama
admiravelmente filmado por Vittorio De Sica tangencia de forma amargamente poética
a linha do sentimentalismo ao retratar as agruras do pós-guerra e a solidão de
um ser humano que encontra apenas na mão que o filho lhe estende a razão para
prosseguir. É De Sica chegando, como ninguém, próximo da genialidade de Chaplin
neste premiadíssimo filme. Destaque para as brilhantes atuações do então
eletricista Lamberto Maggiorani e do menino Enzo Staiola e atenção para a
rápida participação de Sergio Leone como um seminarista. 10/10
sexta-feira, 9 de junho de 2017
ADORÁVEL PECADORA (Let’s Make Love), 1960
Entre os filmes que tiveram
Marilyn Monroe como atriz principal, “Adorável Pecadora” só fica atrás de “Quanto
Mais Quente Melhor”, ambas comédias perfeitas, ainda que nenhum crítico assim
considere este filme de George Cukor. Poucos roteiros são tão impecáveis nas
situações que se encaixam notavelmente tornando a cada sequência mais engraçada
a história do bilionário que se apaixona por uma obscura atriz do teatro Off-Broadway.
“Let’s Make Love” é o musical que a companhia ensaia e em meio às dificuldades da
modesta produção Marilyn Monroe, Yves Montand e Tony Vaughn cantam a saborosa
canção-título e outras belas canções de Sammy Cahn e Jimmy Van Heusen. A esplêndida
parte musical é coroada com MM deslumbrante cantando “My Heart Belongs to Daddy”,
de Cole Porter. Marilyn está lindíssima, dançando, (en)cantando e esbanjando a sensualidade
que fez dela a insuperável estrela mais sexy do cinema. O magnífico Yves
Montand de tantas memoráveis performances mostra como podia ser divertido
também. Tony Randall completa o elenco principal que tem ainda participações de
Gene Kelly, Bing Crosby e Milton Berle. “Adorável Pecadora” é filme para ser
visto e revisto sempre. 10/10
Diretor: George Cukor / Elenco: Marilyn Monroe - Yves Montand - Tony Randall - Wilfrid Hyde-White - Milton Berle - Gene Kelly - Robert Vaughn - David Burns - Dennis King - Joe Besser - Harry Cheshire - Mara Lynn - Madge Kennedy - Marian Manners - Richard Fowler - Dick Dale
quarta-feira, 7 de junho de 2017
A NOITE DOS PISTOLEIROS (Rough Night in Jericho), 1967
Dean Martin passou por
Hollywood deixando a marca indelével de seu charme composto de simpatia e bom
humor. E é justamente isso que faz com que pareça estranho Dino interpretar um
bandido (pela única vez em sua carreira). Martin e George Peppard disputam a
viúva Jean Simmons neste western dirigido por Arnold Laven em que Dean tem 51%
por cento de tudo na cidade de Jericho. Peppard que é jogador profissional e
como tal considera todas as probabilidades decide enfrentá-lo mesmo em
desvantagem numérica. “A Noite dos Pistoleiros” tem no elenco os excelentes
John McIntire e Slim Pickens e o grande momento deste filme arrastado em sua
primeira metade é uma brutal luta entre George Peppard e Slim Pickens,
excelentemente coreografada com magnífico trabalho de Slim e dos dublês. Ótimo
também o momento em que Peppard e Jean Simmons ficam embriagados e ele tenta
carregá-la escada acima. Os melhores filmes de Arnold Laven foram os
não-westerns “Assassinato na 10.ª Avenida” e “Deus é Meu Juiz” enquanto “A
Noite dos Pistoleiros” é apenas um faroeste mediano. 6/10
Diretor: Arnold Laven / Elenco: Dean Martin - George Peppard - Jean Simmons - John McIntire - Slim Pickens - Don Galloway - Brad Weston - Richard O'Brien - Med Flory - Dean Paul Martin - Warren Vanders - Steve Sandor - Carol Andreson - David H. Miller - Wallace Earl Laven - Kevin Tate - Susy Crosby - Bob Herron
ONZE HOMENS E UM SEGREDO (Ocean’s Eleven), 1960
Frank Sinatra, Dean Martin
e Sammy Davis Jr. imperavam em Las Vegas onde eram atrações permanentes. Foi
quando decidiram fazer um filme rodado quase inteiramente nos grandes cassinos
locais, atuando nos palcos durante a noite e filmando durante o dia. A história
é sobre um roubo simultâneo a nada menos que as cinco mais suntuosas casas de
jogos e espetáculos de Las Vegas. Para isso reuniram-se onze ex-soldados do
82.º Batalhão que após lutar na II Guerra Mundial enveredaram pelo caminho do
crime. O plano deu certo, mas o improvável impediu o crime de compensar neste filme
dirigido por Lewis Milestone. O que não deu muito certo foi o tom de comédia do
artificialíssimo roteiro feito sob medida para o clã de Sinatra atuar
interpretando a si próprios. Sagazes para tirar dinheiro dos clientes os
cassinos no filme têm a mais inepta segurança do mundo. As piadas só funcionam
quando Dean Martin está em cena, o ritmo demora para engrenar e as surpresas
finais não surpreendem ninguém. Do grande elenco destacam-se, salvando o filme,
Cesar Romero, Akim Tamiroff e Ilka Chase. Red Skelton e Shirley MacLaine têm
rápidas e engraçadas participações, ela com Dean Martin. 6/10
Diretor: Lewis Milestone / Elenco: Frank Sinatra - Dean Martin - Sammy Davis Jr. - Peter Lawford - Richard Conte - Cesar Romero - Akim Tamiroff - Angie Dickinson - Patrice Wymore - Ilka Chase - Buddy Lester - Henry Silva - Norman Fell - Joey Bishop - Clem Harvey - Richard Benedict - Robert Foulk - Jean Willes - Shirley MacLaine - Don 'Red' Barry - Hank Henry - George Raft - Red Skelton - H.T. Tsiang
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