Insatisfeito com a
interpretação de Katharine Hepburn em “Levada da Breca”, Howard Hawks a chamou
num canto e disse: ‘Kate, nem Buster
Keaton, Chaplin ou Harold Lloyd sorriem quando atuam; a graça deles vem das
situações nas quais se envolvem’. A atriz, em sua primeira comédia, mudou
o estilo de atuar e o resultado foi uma de suas mais memoráveis performances
como a rica herdeira que se apaixona pelo jovem e tímido paleontólogo interpretado
por Cary Grant. Do início ao fim o casal se envolve em confusões com ‘Baby’,
um leopardo e ‘George’, um cão, além de muitos outros tipos atrapalhados. Grant
faz uso pela primeira vez no cinema da expressão ‘gay’ com o sentido que ela
possui atualmente e a sequência em que ele tenta esconder o vestido rasgado de
Kate é antológica. E é a deliciosa, anárquica e esfuziante Kate quem conquista
Grant, Baby, George e o público. Considerada uma exemplar ‘screwball comedy’ esta
comédia nem sempre teve status de clássica, mesmo porque foi um fracasso de
bilheteria e deu grande prejuízo à RKO. Peter Bogdanovich foi quem primeiro
afirmou que o alucinado filme de Hawks era uma obra-prima e inspiração para seu
“Esta Pequena é uma Parada” em 1972. 8/10
Diretor:
Um dos mais bem sucedidos
diretores norte-americanos, Blake Edwards é sempre lembrado pela querida série ‘Pantera
Cor-de-Rosa’ com o impagável Inspetor Closeau. Mas são de Edwards também as comédias
“Victor ou Victoria”, “Um Convidado Bem Trapalhão”, “A Corrida do Século” e “Anáguas
a Bordo”, bem como a comédia romântica “Bonequinha de Luxo” e o drama “Vício
Maldito”. Menos conhecido é o suspense “Escravas do Medo”, feito num tempo em
que as séries policiais rivalizavam com os faroestes na TV norte-americana. Assistido
hoje este filme de Edwards perdeu um pouco do impacto, ainda que seja um
absorvente thriller no qual Glenn Ford quase nada faz deixando espaço para Ross
Martin brilhar como o assassino asmático que aterroriza as belas Lee Remick e
Stephanie Powers. Afinal, o que torna então “Escravas do Medo” imperdível? Uma
das mais profícuas parcerias do cinema foi formada por Blake Edwards com Henry
Mancini e para este filme Mancini compôs uma trilha nada menos que
extraordinária, uma das melhores de sua admirável carreira como compositor. A
trilha vale o thriller e melhor que isso só ouvir o álbum inteiro, não é mesmo, José
Flávio Mantoani? 7/10
Diretor:
Já houve quem, com certo
exagero, dissesse que Preston Sturges foi mais importante para o cinema
norte-americano que Orson Welles. E não é que então surge Peter Bogdanovich e
afirma que os seus cinco filmes preferidos são “Suprema Conquista” (Howard Hawks),
“Cupido é Moleque Teimoso” (Leo McCarey), “French Can Can” (Jean Renoir), “Papai
por Acaso” e “As Três Noites de Eva”, estes dois últimos de quem mesmo? Acertou
quem pensou em Preston Sturges! “As Três Noites de Eva” é uma comédia romântica
e sofisticada do gênero muito em voga nos anos 30 e 40 chamado ‘Screwball
Comedy’ ou comédia maluca para nós, invariavelmente com uma mulher agitada no
centro de toda a trama. Barbara Stanwyck é a vigarista que pretende conquistar
o rico herdeiro Henry Fonda, por quem acaba apaixonada num filme repleto de
diálogos saborosíssimos (do também roteirista Preston Sturges) e com situações que
se sucedem cada vez mais engraçadas até o desfecho feliz. Feliz mas que
comprova que Eva com magnetismo, graça e beleza subjuga o homem. E essa Eva
(Eve) é Barbara Stanwyck bonita, divertida e fascinante como o cinema nunca a
havia mostrado. Fonda e um grupo seleto de coadjuvantes (Eugene Palette,
Charles Coburn, William Demarest e outros) ajudam a dar mais classe ainda a
esta joia de comédia. 8/10
Diretor:
Anselmo Duarte costumava
afirmar que seu melhor filme era “Quelé do Pajeú” e poucos podiam contestar
essa discutível opinião. Isso porque alguns anos após seu lançamento o filme
simplesmente desapareceu, numa das mais lamentáveis incúrias do cinema brasileiro.
“Quelé do Pajeú” passou para a categoria de lenda cinematográfica e somente os
críticos e espectadores mais velhos, ao redor dos 70 anos de idade e que o
viram nos cinemas, podiam falar do filme. Mais de 40 anos depois uma cópia
legendada em Italiano foi descoberta na Europa, fato que pode ser considerado o
mais importante do cinema brasileiro nos últimos tempos. Lima Barreto escreveu
a história e roteiro que acabou sendo bastante alterado por Anselmo Duarte que
a isso chamou de ‘roteiro adaptado’, filmando-o em Salto de Itú naquela que foi
uma das mais caras produções do cinema brasileiro, com requintes de 70 mm e som
estereofônico. O resultado foi um excelente ‘nordestern’, com muita ação,
romance, sensualidade e algumas sequências verdadeiramente antológicas. Tarcísio
Meira é o protagonista e Jece Valadão o vilão que Quelé persegue em busca de
vingança em sua odisseia pelo sertão em luta constante entre as volantes e o
bando de Lampião. Não só pelo fato da descoberta da cópia, mas e principalmente
por ser outro grande filme de Anselmo Duarte “Quelé do Pajeú” é fundamental
para quem ama o cinema. Resenha completa no blog Westerncinemania. 8/10
Diretor: