domingo, 5 de janeiro de 2020

A DAMA DO LOTAÇÃO, 1978


Nelson Rodrigues, nosso maior dramaturgo, também escreveu contos quando trabalhou na Última Hora (1951/1960). Sua seção nesse jornal se chamava ‘A vida como ela é’ e um dos contos publicados foi “A Dama do Lotação”, adaptado para o cinema por Neville d’Almeida em 1978. O diretor foi acusado de plagiar “A Bela da Tarde”, de Luís Buñuel, filme famoso lançado em 1967. Ocorre que “A Bela da Tarde” foi um romance escrito por Joseph Kessel em 1928 e fica a dúvida: teria Nelson Rodrigues lido esse livro e se inspirado para escrever a história da mulher casada que não sentindo prazer com o marido passa a buscar satisfação com amantes desconhecidos que encontra? A grande sacada de Nelson Rodrigues foi o fetiche de Solange (Sonia Braga) procurar homens em transportes coletivos, a lotação do título. Os homens que a levam a motel como o melhor amigo do marido e o próprio sogro não lhe dão prazer como os anônimos passageiros dos ônibus. Muitos dos elementos comuns à obra de Nelson Rodrigues, especialmente a hipocrisia da classe média e sua visão das mulheres, estão presentes neste filme amoral que alcançou enorme sucesso. Sonia Braga belíssima e esbanjando sensualidade têm, pelas mãos do diretor, as mais excitantes sequências lúbricas que nosso cinema já mostrou. Memorável a canção-tema de Caetano Veloso. 7/10



6 comentários:

  1. Ah, A Dama do Lotação—um clássico brasileiro que nos envolve em um turbilhão de paixão, desejo e segredos. Sonia Braga como Solange deixou uma marca indelével na história do cinema nacional.

    Mas, se fosse produzido hoje, quem poderia assumir esse papel icônico? Vamos especular um pouco, como bons cinéfilos:

    Paolla Oliveira:

    Paolla tem uma presença forte e uma capacidade incrível de mergulhar em personagens complexos. Ela poderia trazer uma nova camada de vulnerabilidade e intensidade a Solange.

    Agatha Moreira:

    Agatha é uma atriz versátil, capaz de transitar entre diferentes emoções. Ela poderia dar um toque contemporâneo à personagem, mantendo a essência da Solange original.

    Juliana Paes:

    Juliana tem um charme único e uma autenticidade que poderia funcionar bem como Solange. Ela traria frescor e profundidade à personagem.

    Flávia Alessandra:

    Flávia é conhecida por sua entrega emocional e habilidade de se conectar com o público. Ela poderia explorar os conflitos internos de Solange de maneira cativante.

    Alice Braga:

    Que tal manter o sobrenome Braga na família? Alice tem uma carreira internacional sólida e poderia trazer uma energia intrigante para a personagem.

    Lembrando que, assim como Sonia Braga na época, uma atriz desconhecida poderia surpreender a todos e se tornar a próxima Solange. Afinal, o cinema é cheio de surpresas e talentos em ascensão.

    E você, tem alguma atriz em mente que poderia reviver a paixão e o mistério de Solange? Ou prefere que Sonia Braga continue sendo a única e inimitável?

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  2. Neville d'Almeida não parou de chocar o público nacional. Diretor dos aclamados e controversos A Dama do Lotação, Os Sete Gatinhos e Matou a Família e Foi ao Cinema, ele anuncia que possui outros projetos à vista, apesar de estar há 20 anos sem ser contemplado com um edital de fomento.

    Em entrevista ao jornal O Globo (04/07/2019), o cineasta afirma estar trabalhando no projeto de A Dama da Internet, uma versão atualizada da Dama do Lotação para a sociedade do século XXI. No cardápio, uma jornada de vingança feminina: "A mulher de hoje faz com o homem o que ele tem feito com ela nos últimos 5 mil anos: maltrata, espezinha, humilha, ofende, e o põe em seu 'devido lugar': a lata de lixo. É uma libertação existencial. Revoltada com milênios de trapaça, na era dos vazamentos, ela vai expor o homem nas redes", afirmou.

    O cineasta já escolheu a atriz que pode seguir os passos de Sônia Braga (A Dama do Lotação), Cláudia Raia (Matou a Família e Foi ao Cinema) e Vera Fischer (Navalha na Carne): "Vou chamar a Anitta para o papel". Caso a cantora aceite, ela dará continuidade a projetos no cinema como Minha Vida em Marte e Meus 15 Anos, além da série Vai Anitta.

    Anitta interpretaria uma mulher recém-casada que descobre a traição do marido. Um dia, ela se esconde no porta mala e acompanha o marido com a amante no motel. Depois de presenciar a noite dos dois, ela se une à faxineira (Maria Gladys) para uma vingança envolvendo perfis falsos na Internet e câmeras escondidas.

    Consegue imaginar a cantora no papel principal?
    O último filme de Neville d'Almeida nos cinemas foi A Frente Fria que a Chuva Traz (2015), estrelado por Bruna Linzmeyer, Chay Suede e Johnny Massaro. Sua trajetória artística está retratada no documentário Neville d'Almeida: Cronista da Beleza e do Caos, em cartaz nos cinemas.

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  3. Citações:

    Solange: "Eu gosto de ver os túmulos, na esperança de um dia encontrar o meu nome".

    Rapaz, ela tá um croquetão. um croquetão" - Mosquito

    Vai dá uma sacada ou não vai? - Bacalhau

    Tô por aí, entende? Dando um tempo.... Deu pra entender? Tá a fim de dar uma encarada? Hum? - Passageiro

    "Gostosa. Você é demais." - Passageiro

    "Ora se todo mundo conhecesse a intimidade sexual de todo mundo, ninguém mais ia falar com ninguém" - Analista

    "Ninguém conhece ninguém!" - Carlos

    Solange: "...Beijo de língua, não..."

    Solange: "É que eu não sou como as outras."

    Solange: "Doutor, eu quero sofrer, mas não consigo... Eu te pago pro senhor me dizer que eu devo sofrer, mas eu não consigo... Eu quero sofrer"!

    Sogro: "...é santa e fria. E é santa porque é fria."

    PS: Com um marido desse, mereceu foi cada chifre e cada recusa! Mostra a parafilia de uma mulher estuprada pelo marido que ama.

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  4. A Dama do Lotação, 1978 - Cena Deletada nº 1

    https://www.youtube.com/watch?v=qBLz0yJGwRE

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  5. Cena Deletada nº 2 - A Dama do Lotação, 1978

    https://www.youtube.com/watch?v=flGLYH96wXw

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  6. Não é fácil explicar por que este filme se tornou um fenômeno de público desde a estreia. Mas tentarei — e minha hipótese é que Sônia Braga foi a peça-chave.

    Em A dama do lotação, Sônia Braga deveria sair do universo "progressista" e sociológico de Jorge Amado para encarar o mundo "reacionário" e psicológico de Nelson Rodrigues. No papel de Solange, ela se transformaria, de virgem tímida e esposa frígida, em uma mulher insaciável, que devora desconhecidos pelas ruas do Rio de Janeiro.

    O roteiro do filme teve colaboração do próprio Nelson que o adaptou de uma das narrativas de A vida como ela é... Mas é preciso assinalar o quanto o filme revolucionava o universo moral rodriguiano, como lembrou na estreia o crítico Ronaldo Noronha. Solange retorna ao casamento não como uma prostituta arrependida, como gostaria a sociedade patriarcal, mas como uma mulher razoavelmente liberada e conciliada com o seu desejo. É menos a trama, porém, que desestabiliza a regra culpabilizadora e muito mais a mise-enscène, com sua constante afirmação da força libertária do desejo, no caso, do desejo de uma mulher, exposto sem muitas amarras. Posso estar enganado, mas esta foi a primeira encenação em que uma personagem feminina de Nelson Rodrigues conseguia escapar positivamente do labirinto espiritual do escritor, com suas armadilhas de ressentimento, remorso e frustração sexual.

    Se o sexo era o motor da libertação de Solange, o erotismo do filme era a bomba que implodia o espiritualismo pequeno-burguês do enredo. É justamente o erotismo exacerbado de A dama do lotação que deixa patente, aos olhos do espectador, a positividade do desejo feminino. É certo que o filme nos converte em voyeurs de seu exibicionismo, mas, ao mesmo tempo, perversamente, nos faz testemunhar tudo pelo viés da mulher, que passa a agente da ação sexual, submetendo sucessivos machos ao seu gozo.

    Naquele contexto preciso, da década de 70, tal filme representou uma visão bastante revitalizadora da pesada herança rodriguiana, feita com aval do próprio dramaturgo. Neville D'Almeida, oriundo do cinema underground, realizou A dama do lotação com um olhar debochado, antiteatral e anticulpabilizador, que encarava parodicamente a dramatização entre quatro paredes da dialética entre sexo e remorso, contrapondo a isso um cinema livre e irreverente, que corria pelas ruas atrás do desejo de uma mulher.

    Tal liberdade de estilo e desprendimento moral não teriam tido, porém, tanto impacto não fosse o filme a culminância da carreira de uma atriz e, mais do que isso, do processo de construção de uma nova figuração da mulher no imaginário brasileiro — processo esse que competiu a Sônia Braga protagonizar, como se ela atendesse a um misterioso desígnio de nossa história cultural.

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