Desde “Umberto D” (1952),
esperava-se um grande filme de Vittorio De Sica que então deu início a um
projeto baseado em conto de Alberto Moravia adaptado por Cesare Zavatini e De
Sica. Anna Magnani seria a protagonista mas o papel acabou nas mãos de Sophia Loren
por ‘sugestão’ do produtor Carlo Ponti, marido da atriz. As duas mulheres do
título nacional são a viúva Cesira (Sophia) e sua filha Rosetta (Eleonora
Brown), de 13 anos, que, quase ao final da II Guerra fogem de Roma bombardeada
pelos Aliados, em direção a uma pequena cidade mais ao Sul da capital. Lá
chegando conhecem o estudante Michele (Jean-Paul Belmondo) que se apaixona por
Cesira mas é morto pelos alemães que ainda estão na região. Acuadas, Cesira
decide retornar a Roma e, ao se esconderem numa igreja semidestruída, são ali
estupradas por soldados marroquinos das forças Aliadas. Esta angustiante
evocação dos horrores da guerra é tocante tanto no desespero de um povo quanto
no trauma sofrido por mãe e filha. Momento maior da carreira de Sophia que
cresce sempre nas mãos de De Sica e interpretando tipos populares. Infelizmente
Hollywood, fascinada por sua beleza, nunca aproveitou devidamente o talento da atriz.
Surpreendente interpretação de um Belmondo diferente, desta vez como um jovem
idealista. “Duas Mulheres” é um bom filme mas distante do De Sica das
obras-primas que o imortalizaram como diretor. 8/10
sábado, 30 de março de 2019
quarta-feira, 27 de março de 2019
AMORES CLANDESTINOS (A Summer Place), 1959
Este melodrama fez enorme
sucesso e não apenas por reunir Troy Donahue e Sandra Dee, que se tornaram os
artistas jovens mais queridos daqueles tempos. Dirigido por Delmer Daves o
filme é excepcionalmente envolvente em sua primeira parte quando em uma pousada
situada numa ilha no Maine cruzam-se amores passados e recentes, culminando em escândalo.
A imprensa chama o local de ‘ninho de amor’ e é lá que Molly (Sandra Dee) e
Johnny (Troy Donahue) se apaixonam. Serenados em parte os ânimos entre os
respectivos pais dos jovens, o filme cai bastante e se torna previsível por
mudar o foco para a paixão entre Molly e Johnny. Ainda assim “Amores
Clandestinos” mantém o interesse por discutir conflitos matrimoniais e entre
pais e filhos divorciados. “Amores Clandestinos” é bonito de se ver, filmado
que foi em Carmel (reparem na casa projetada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright)
e tem tema musical que conquistou quem viu e quem não viu o filme. Sem ser o
tema principal, a canção “A Summer Place” chegou ao 1.º posto das paradas de
sucesso, rara música que não se cansa de escutar. Quem achava Richard Egan meio
canastrão vai se surpreender com sua ótima atuação; Dorothy McGuire sempre esplêndida
e Arthur Kennedy como marido alcoólatra é perfeito. Não se espere muito de
Donahue e Sandra, ambos fracos, tanto que tiveram carreiras curtas apesar de
muito bonitos. 7/10
domingo, 24 de março de 2019
TODAS AS MULHERES DO MUNDO, 1967
Já separado de Leila Diniz,
com quem fora casado por três anos, Domingos de Oliveira estreou na direção com
esta comédia-romântica que se tornou um ‘cult’ do cinema nacional. Entre outras
coisas significou o verdadeiro lançamento de Leila direto para o estrelato, bem
como o de Paulo José (em seu segundo filme). Fortemente influenciado no ritmo e
na concepção por “Jules e Jim”, “Todas as Mulheres do Mundo” pretendeu ser uma
ode a Leila, por quem Domingos parecia ainda apaixonado, apesar de ela já estar
casada com Ruy Guerra. Maria Alice (Leila) é uma professora que conhece Paulo
(Paulo José) em uma festa; apaixonam-se, casam-se e após uma traição dele separam-se.
Ao final o jovem casal de comportamento pouco convencional assume uma vida bem
classe média conservadora representada pela festinha de aniversário de um dos
filhos. Excessivamente carioca, como a maioria das comédias do Cinema Novo, o
filme é um ‘who’s who’ da vida de Ipanema pois Domingos encaixa uma infinidade
de jovens atrizes, socialites e amigos que pouco ou nada tem a ver com a
história. Paulo José responde pelos raros momentos de fato divertidos da
comédia e Leila revela-se não apenas ótima de ser fotografada mas também boa
atriz. Marcante a participação da argentina Irma Alvarez e o filme desperdiça o
talento de Isabel Ribeiro. 6/10
quinta-feira, 21 de março de 2019
A HORA DA PISTOLA (Hour of the Gun), 1967
John Sturges após realizar
diversos westerns clássicos resolveu revisitar o assunto ‘OK Corral’,
insatisfeito com o resultado de “Sem Lei e Sem Alma” que filmara dez anos
antes, em 1957. A moda então era o revisionismo e Sturges que havia colaborado
mais um pouco para mitificar Wyatt Earp entendeu que deveria mostrar quem havia
sido, de verdade, o mais famoso homem da lei do Velho Oeste. O Wyatt Earp
(James Garner) de “A Hora da Pistola” é movido unicamente pela vingança após
ter seus irmãos alvejados (um deles morto) pelos homens de Ike Clanton (Robert Ryan).
Menos pelo desfecho do lendário duelo do OK Corral e mais porque,
diferentemente dos demais homens da lei como mostra o filme, Earp era
insubornável, Clanton queria igualmente matar o marshal Earp que ajudado pelo
amigo Doc Holliday que, sóbrio ou não, vê o mundo cinicamente, exterminam Clanton
e seu bando. “Sem Lei e Sem Alma” foi de fato, mais ficção, mas guardava brilho
e emoção, enquanto a nova versão, mesmo com vários tiroteios, é fria. James
Garner contido e equilibrado e Jason Robards sempre ótimo deixam saudade de
Lancaster e Douglas. Robert Ryan aparece pouco se considerada a dimensão de seu
talento em papeis de vilão. Lucien Ballard foi o cinegrafista e bem que podiam
ter usado câmera lenta, então muito comum; ótima trilha incidental de John
Williams. 7/10
domingo, 17 de março de 2019
O SEGREDO DE SANTA VITÓRIA (The Secret of Santa Vittória), 1969
Comédias italianas só
deveriam ser feitas por italianos. É sempre um risco Hollywood tentar se
apropriar da graça exclusiva tão naturalmente desenvolvida por diretores como
Risi, De Sica, Germi, Monicelli e mesmo Fellini. Stanley Kramer se achou capaz
dessa proeza reunindo (outro risco) Anthony Quinn e Anna Magnani para contar a
história do milhão de garrafas de vinho que a cidade de Santa Vitória escondeu
dos alemães ao final da II Guerra Mundial. Bombolini (Quinn) é um beberrão
dominado pela esposa Rosa (Anna) e que, com o fim do fascismo, se torna prefeito
da cidade. Mas aí chegam os alemães que querem levar o vinho, que está escondido,
e Bombolini se transforma em herói, para a cidade e para Rosa. Nesta comédia um
tanto longa há ótimos momentos, especialmente aqueles em que Quinn e Anna estão
em cena em permanente discórdia, bem como o final bastante emocionante para um
filme em que, sabe-se, tudo vai acabar bem. Quinn e Anna se indispuseram quando
filmaram “A Fúria da Carne” (1957) e a inimizade mantida produziu sequências de
intenso e hostil realismo. Os dois valem o filme com maior presença de Anthony
numa de suas marcantes (redundância) interpretações. Virna Lisi ilumina esta
comédia que deixa a impressão que o grande elenco poderia ser melhor
aproveitado por Kramer. Notável o cenário natural de Anticoli Corrado, onde
foram filmadas as externas. Notável também a música de Ernest Gold. 7/10
quarta-feira, 13 de março de 2019
NINOTCHKA (Ninotchka), 1939
Penúltimo filme estrelado
por Greta Garbo e famoso pelos pôsteres de divulgação que anunciavam ‘Garbo
Laughs’ (Garbo ri), ela que durante toda carreira interpretara papeis sérios.
Mas quem riu para valer foi a MGM com o sucesso alcançado por esta sátira
política dirigida pelo alemão Ernst Lubitsch com roteiro do qual participaram
Billy Wilder e Charles Brackett. Um trio de agentes moscovitas é enviado a
Paris pelo governo russo para vender joias de uma dama protegida pelo tzar.
Eles negligenciam sua missão e se deixam envolver pela luxúria que a cidade
oferece, arriscando-se a ir para a Sibéria. A agente Nina Ivanovna Yakushova
(Greta Garbo), conhecida por ‘Ninotchka’ chega a Paris para realizar o trabalho
que deixou de ser feito e conhece o conde russo León d’Algout (Melvyn Douglas).
Apaixonam-se mas Ninotchka oscila entre o amor por León e ser fiel aos ideais
revolucionários, decidindo por fim que seu amor por Lenin e respeito por Stalin
não eram maior que o que sentia por León. Esta comédia de Lubitsch é bastante
desigual com a primeira parte deliciosamente divertida e o final mudando para
um romantismo inexpressivo. O que parecia ser uma obra-prima conclui-se
inteiramente sensabor e nem a excelente atuação de Greta consegue equilibrar o
filme. Greta está maravilhosa como a intransigente russa que sucumbe ao amor de
Melvyn Douglas, um galã jamais à altura do resplendor artístico chamado Greta
Garbo. 7/10
terça-feira, 5 de março de 2019
O INCRÍVEL EXÉRCITO BRANCALEONE (L’Armata Brancaleone), 1966
Em 1958 o estupendo diretor
de comédias Mário Monicelli realizou aquela que parecia ser sua obra-prima
definitiva que foi “Os Eternos Desconhecidos”. Mas eis que em 1966 o diretor
romano fez o mundo rir igualmente com o mais bizarro ‘exército’ medieval que se
poderia imaginar. Liderado pelo nobre decadente Brancaleone de Nórcia (Vittorio
Gassman), um grupo esfarrapado decide seguir Brancaleone até Auricastro onde
ele se tornaria o Senhor absoluto nomeando dando a seus soldados títulos de
nobreza e riqueza. A eles se junta o também Cavaleiro Teofilatto dei Leonzi
(Gian Maria Volontè). Até chegar a Auricastro o grotesco grupo enfrenta toda
sorte de insólitos riscos, tão perigosos quanto engraçados. Esqueça-se tudo que
o cinema havia apresentado até então nos solenes filmes em que nobres
cavaleiros lutavam com galhardia pela conquista de novos feudos e pelo amor de
castas princesas. Brancaleone com seu exército transforma aquele universo em pura
galhofa numa comédia inesquecível como a canção que acompanha a marcha do estapafúrdio
grupo (Branca, Branca, Branca / Leon, Leon, Leon). Gassman memorável e Carlo
Pisacane (como o judeu Abacuc) impagável, mais a música de Carlo Rustichelli e
a fotografia de Carlo Di Palma. A sequência de 1970, "Brancaleone nas Cruzadas”,
não teve a mesma graça. 9/10
sexta-feira, 1 de março de 2019
O PECADO MORA AO LADO (The Seven Year Itch), 1955
A peça de George Axelrod
ficou quase três anos nos palcos da Broadway. Tal sucesso teria que desaguar em
Hollywood e nas mãos de Billy Wilder. Mas eram tempos do Código Hays e o texto
picante de Axelrod, adaptado pelo autor e por Wilder, foi reduzido a uma
história digna de ‘Sessão da Tarde’. Richard Sherman (Tom Ewell) vê a esposa e
filho saírem em férias e, como milhares de homens em Manhattan, vira um sedento
solteirão. E nem precisa sair à caça pois sua vizinha é uma garota estonteante
(Marilyn Monroe). Ela até dorme em seu apartamento, mas nada acontece porque
desta vez Wilder não pode ou não quis ludibriar a censura, algo que fazia como
ninguém. Se não faz rir ou é provocante como deveria, “O Pecado Mora ao Lado”
ao menos discute como é a imaginação masculina, capaz de conquistar todas as
mulheres do mundo... até voltar à realidade. Mas pouco importa se esta comédia
é ou não engraçada e atrevida. O que importa é que tem Marilyn Monroe definindo
o tipo ingênuo, tentador e irresistível que a imortalizaria, ainda que o
idiotizado vizinho resistisse a ela. E Wilder criou neste filme uma das imagens
mais marcantes do cinema e do século, com a sequência do metrô levantando o
vestido de Marilyn; vê-se muito mais em fotos que no filme, infelizmente. Tom Ewell
é engraçado e Robert Strauss (o zelador) impagável. Marilyn Monroe está
deslumbrantemente sedutora. 6/10
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