sábado, 30 de março de 2019

DUAS MULHERES (La Ciociara), 1960


Desde “Umberto D” (1952), esperava-se um grande filme de Vittorio De Sica que então deu início a um projeto baseado em conto de Alberto Moravia adaptado por Cesare Zavatini e De Sica. Anna Magnani seria a protagonista mas o papel acabou nas mãos de Sophia Loren por ‘sugestão’ do produtor Carlo Ponti, marido da atriz. As duas mulheres do título nacional são a viúva Cesira (Sophia) e sua filha Rosetta (Eleonora Brown), de 13 anos, que, quase ao final da II Guerra fogem de Roma bombardeada pelos Aliados, em direção a uma pequena cidade mais ao Sul da capital. Lá chegando conhecem o estudante Michele (Jean-Paul Belmondo) que se apaixona por Cesira mas é morto pelos alemães que ainda estão na região. Acuadas, Cesira decide retornar a Roma e, ao se esconderem numa igreja semidestruída, são ali estupradas por soldados marroquinos das forças Aliadas. Esta angustiante evocação dos horrores da guerra é tocante tanto no desespero de um povo quanto no trauma sofrido por mãe e filha. Momento maior da carreira de Sophia que cresce sempre nas mãos de De Sica e interpretando tipos populares. Infelizmente Hollywood, fascinada por sua beleza, nunca aproveitou devidamente o talento da atriz. Surpreendente interpretação de um Belmondo diferente, desta vez como um jovem idealista. “Duas Mulheres” é um bom filme mas distante do De Sica das obras-primas que o imortalizaram como diretor. 8/10




quarta-feira, 27 de março de 2019

AMORES CLANDESTINOS (A Summer Place), 1959


Este melodrama fez enorme sucesso e não apenas por reunir Troy Donahue e Sandra Dee, que se tornaram os artistas jovens mais queridos daqueles tempos. Dirigido por Delmer Daves o filme é excepcionalmente envolvente em sua primeira parte quando em uma pousada situada numa ilha no Maine cruzam-se amores passados e recentes, culminando em escândalo. A imprensa chama o local de ‘ninho de amor’ e é lá que Molly (Sandra Dee) e Johnny (Troy Donahue) se apaixonam. Serenados em parte os ânimos entre os respectivos pais dos jovens, o filme cai bastante e se torna previsível por mudar o foco para a paixão entre Molly e Johnny. Ainda assim “Amores Clandestinos” mantém o interesse por discutir conflitos matrimoniais e entre pais e filhos divorciados. “Amores Clandestinos” é bonito de se ver, filmado que foi em Carmel (reparem na casa projetada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright) e tem tema musical que conquistou quem viu e quem não viu o filme. Sem ser o tema principal, a canção “A Summer Place” chegou ao 1.º posto das paradas de sucesso, rara música que não se cansa de escutar. Quem achava Richard Egan meio canastrão vai se surpreender com sua ótima atuação; Dorothy McGuire sempre esplêndida e Arthur Kennedy como marido alcoólatra é perfeito. Não se espere muito de Donahue e Sandra, ambos fracos, tanto que tiveram carreiras curtas apesar de muito bonitos. 7/10



domingo, 24 de março de 2019

TODAS AS MULHERES DO MUNDO, 1967


Já separado de Leila Diniz, com quem fora casado por três anos, Domingos de Oliveira estreou na direção com esta comédia-romântica que se tornou um ‘cult’ do cinema nacional. Entre outras coisas significou o verdadeiro lançamento de Leila direto para o estrelato, bem como o de Paulo José (em seu segundo filme). Fortemente influenciado no ritmo e na concepção por “Jules e Jim”, “Todas as Mulheres do Mundo” pretendeu ser uma ode a Leila, por quem Domingos parecia ainda apaixonado, apesar de ela já estar casada com Ruy Guerra. Maria Alice (Leila) é uma professora que conhece Paulo (Paulo José) em uma festa; apaixonam-se, casam-se e após uma traição dele separam-se. Ao final o jovem casal de comportamento pouco convencional assume uma vida bem classe média conservadora representada pela festinha de aniversário de um dos filhos. Excessivamente carioca, como a maioria das comédias do Cinema Novo, o filme é um ‘who’s who’ da vida de Ipanema pois Domingos encaixa uma infinidade de jovens atrizes, socialites e amigos que pouco ou nada tem a ver com a história. Paulo José responde pelos raros momentos de fato divertidos da comédia e Leila revela-se não apenas ótima de ser fotografada mas também boa atriz. Marcante a participação da argentina Irma Alvarez e o filme desperdiça o talento de Isabel Ribeiro. 6/10



quinta-feira, 21 de março de 2019

A HORA DA PISTOLA (Hour of the Gun), 1967


John Sturges após realizar diversos westerns clássicos resolveu revisitar o assunto ‘OK Corral’, insatisfeito com o resultado de “Sem Lei e Sem Alma” que filmara dez anos antes, em 1957. A moda então era o revisionismo e Sturges que havia colaborado mais um pouco para mitificar Wyatt Earp entendeu que deveria mostrar quem havia sido, de verdade, o mais famoso homem da lei do Velho Oeste. O Wyatt Earp (James Garner) de “A Hora da Pistola” é movido unicamente pela vingança após ter seus irmãos alvejados (um deles morto) pelos homens de Ike Clanton (Robert Ryan). Menos pelo desfecho do lendário duelo do OK Corral e mais porque, diferentemente dos demais homens da lei como mostra o filme, Earp era insubornável, Clanton queria igualmente matar o marshal Earp que ajudado pelo amigo Doc Holliday que, sóbrio ou não, vê o mundo cinicamente, exterminam Clanton e seu bando. “Sem Lei e Sem Alma” foi de fato, mais ficção, mas guardava brilho e emoção, enquanto a nova versão, mesmo com vários tiroteios, é fria. James Garner contido e equilibrado e Jason Robards sempre ótimo deixam saudade de Lancaster e Douglas. Robert Ryan aparece pouco se considerada a dimensão de seu talento em papeis de vilão. Lucien Ballard foi o cinegrafista e bem que podiam ter usado câmera lenta, então muito comum; ótima trilha incidental de John Williams. 7/10





domingo, 17 de março de 2019

O SEGREDO DE SANTA VITÓRIA (The Secret of Santa Vittória), 1969


Comédias italianas só deveriam ser feitas por italianos. É sempre um risco Hollywood tentar se apropriar da graça exclusiva tão naturalmente desenvolvida por diretores como Risi, De Sica, Germi, Monicelli e mesmo Fellini. Stanley Kramer se achou capaz dessa proeza reunindo (outro risco) Anthony Quinn e Anna Magnani para contar a história do milhão de garrafas de vinho que a cidade de Santa Vitória escondeu dos alemães ao final da II Guerra Mundial. Bombolini (Quinn) é um beberrão dominado pela esposa Rosa (Anna) e que, com o fim do fascismo, se torna prefeito da cidade. Mas aí chegam os alemães que querem levar o vinho, que está escondido, e Bombolini se transforma em herói, para a cidade e para Rosa. Nesta comédia um tanto longa há ótimos momentos, especialmente aqueles em que Quinn e Anna estão em cena em permanente discórdia, bem como o final bastante emocionante para um filme em que, sabe-se, tudo vai acabar bem. Quinn e Anna se indispuseram quando filmaram “A Fúria da Carne” (1957) e a inimizade mantida produziu sequências de intenso e hostil realismo. Os dois valem o filme com maior presença de Anthony numa de suas marcantes (redundância) interpretações. Virna Lisi ilumina esta comédia que deixa a impressão que o grande elenco poderia ser melhor aproveitado por Kramer. Notável o cenário natural de Anticoli Corrado, onde foram filmadas as externas. Notável também a música de Ernest Gold. 7/10




quarta-feira, 13 de março de 2019

NINOTCHKA (Ninotchka), 1939


Penúltimo filme estrelado por Greta Garbo e famoso pelos pôsteres de divulgação que anunciavam ‘Garbo Laughs’ (Garbo ri), ela que durante toda carreira interpretara papeis sérios. Mas quem riu para valer foi a MGM com o sucesso alcançado por esta sátira política dirigida pelo alemão Ernst Lubitsch com roteiro do qual participaram Billy Wilder e Charles Brackett. Um trio de agentes moscovitas é enviado a Paris pelo governo russo para vender joias de uma dama protegida pelo tzar. Eles negligenciam sua missão e se deixam envolver pela luxúria que a cidade oferece, arriscando-se a ir para a Sibéria. A agente Nina Ivanovna Yakushova (Greta Garbo), conhecida por ‘Ninotchka’ chega a Paris para realizar o trabalho que deixou de ser feito e conhece o conde russo León d’Algout (Melvyn Douglas). Apaixonam-se mas Ninotchka oscila entre o amor por León e ser fiel aos ideais revolucionários, decidindo por fim que seu amor por Lenin e respeito por Stalin não eram maior que o que sentia por León. Esta comédia de Lubitsch é bastante desigual com a primeira parte deliciosamente divertida e o final mudando para um romantismo inexpressivo. O que parecia ser uma obra-prima conclui-se inteiramente sensabor e nem a excelente atuação de Greta consegue equilibrar o filme. Greta está maravilhosa como a intransigente russa que sucumbe ao amor de Melvyn Douglas, um galã jamais à altura do resplendor artístico chamado Greta Garbo. 7/10



terça-feira, 5 de março de 2019

O INCRÍVEL EXÉRCITO BRANCALEONE (L’Armata Brancaleone), 1966


Em 1958 o estupendo diretor de comédias Mário Monicelli realizou aquela que parecia ser sua obra-prima definitiva que foi “Os Eternos Desconhecidos”. Mas eis que em 1966 o diretor romano fez o mundo rir igualmente com o mais bizarro ‘exército’ medieval que se poderia imaginar. Liderado pelo nobre decadente Brancaleone de Nórcia (Vittorio Gassman), um grupo esfarrapado decide seguir Brancaleone até Auricastro onde ele se tornaria o Senhor absoluto nomeando dando a seus soldados títulos de nobreza e riqueza. A eles se junta o também Cavaleiro Teofilatto dei Leonzi (Gian Maria Volontè). Até chegar a Auricastro o grotesco grupo enfrenta toda sorte de insólitos riscos, tão perigosos quanto engraçados. Esqueça-se tudo que o cinema havia apresentado até então nos solenes filmes em que nobres cavaleiros lutavam com galhardia pela conquista de novos feudos e pelo amor de castas princesas. Brancaleone com seu exército transforma aquele universo em pura galhofa numa comédia inesquecível como a canção que acompanha a marcha do estapafúrdio grupo (Branca, Branca, Branca / Leon, Leon, Leon). Gassman memorável e Carlo Pisacane (como o judeu Abacuc) impagável, mais a música de Carlo Rustichelli e a fotografia de Carlo Di Palma. A sequência de 1970, "Brancaleone nas Cruzadas”, não teve a mesma graça. 9/10




sexta-feira, 1 de março de 2019

O PECADO MORA AO LADO (The Seven Year Itch), 1955


A peça de George Axelrod ficou quase três anos nos palcos da Broadway. Tal sucesso teria que desaguar em Hollywood e nas mãos de Billy Wilder. Mas eram tempos do Código Hays e o texto picante de Axelrod, adaptado pelo autor e por Wilder, foi reduzido a uma história digna de ‘Sessão da Tarde’. Richard Sherman (Tom Ewell) vê a esposa e filho saírem em férias e, como milhares de homens em Manhattan, vira um sedento solteirão. E nem precisa sair à caça pois sua vizinha é uma garota estonteante (Marilyn Monroe). Ela até dorme em seu apartamento, mas nada acontece porque desta vez Wilder não pode ou não quis ludibriar a censura, algo que fazia como ninguém. Se não faz rir ou é provocante como deveria, “O Pecado Mora ao Lado” ao menos discute como é a imaginação masculina, capaz de conquistar todas as mulheres do mundo... até voltar à realidade. Mas pouco importa se esta comédia é ou não engraçada e atrevida. O que importa é que tem Marilyn Monroe definindo o tipo ingênuo, tentador e irresistível que a imortalizaria, ainda que o idiotizado vizinho resistisse a ela. E Wilder criou neste filme uma das imagens mais marcantes do cinema e do século, com a sequência do metrô levantando o vestido de Marilyn; vê-se muito mais em fotos que no filme, infelizmente. Tom Ewell é engraçado e Robert Strauss (o zelador) impagável. Marilyn Monroe está deslumbrantemente sedutora. 6/10