George Stevens necessitou
de 201 minutos para condensar o livro de Edna Ferber sobre o Texas e as
transformações que fizeram tantos texanos milionários. Três décadas se passam
desde o encontro do barão de gado Jordan ‘Bick’ Benedict III (Rock Hudson) com
Leslie Lynnton (Elizabeth Taylor), o casamento, a presença de Jett Rink (James
Dean) até o reencontro de todos no suntuoso hotel que Rink construiu. Temas
diversos como racismo, direitos humanos, igualdade de direitos da mulher são
discutidos no filme em meio a conflitos familiares, ambição e uma paixão não
correspondida (Jett e Leslie). Stevens consegue evitar que o épico resulte num
novelão criando sequências primorosas – a revelação do casamento do filho de
Bick e Leslie com uma mexicana; o funeral do jovem soldado; a luta contra o
dono racista da lanchonete; e, mais que todas, Leslie percebendo a presença de
Bick durante uma cerimônia de casamento. O diretor desmerece tudo, no entanto,
com o final piegas com crianças e ovelhas (uma delas preta). Stevens extrai excelentes
performances de Rock Hudson e Liz Taylor e mesmo James Dean até quando este encontra
petróleo, Dean que transforma seu personagem em uma patética caricatura na
parte final, misto de Charles Foster Kane com Errol Flynn. Impossível não
gostar da saga e seus personagens, ainda que o filme pareça interminável. 9/10
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
COM O DEDO NO GATILHO (Hell Bent for Leather), 1960
Produzido pela Universal
Pictures para ser exibido em programas duplos de cinema, como a grande maioria
dos westerns estrelados por Audie Murphy, alguns fatores tornam este faroeste atraente.
Dirigido por George Sherman, um especialista no gênero, tem a bela e boa atriz
Felicia Farr como leading-lady de Murphy, além de ótimos coadjuvantes como Stephen
McNally, Robert Middleton e John Qualen. Mas a grande atração para
westernmaníacos é mesmo a rara presença de Allan ‘Rocky’ Lane em um
longa-metragem. Uma pena que ao inesquecível ídolo da Republic Pictures tenha
sido reservado um personagem quase irrelevante na história. Clay Santell (Audie
Murphy) é confundido com um assassino e como ninguém os conhece o xerife da
cidade (McNally) quer matar Santell de qualquer maneira para valorizar sua ‘folha
de serviços’. Somente a professora Janet (Felicia Farr) acredita em Santell e o
ajuda a revelar a verdade. Inteiramente filmado em Alabama Hills o filme é bem
conduzido por Sherman e é daqueles acima da média na vasta filmografia-western
de Audie Murphy. Robert Middleton sempre impressiona e rouba as cenas nas quais
participa, enquanto Murphy empenha-se com relativo êxito para mostrar que seus
críticos estavam errados. Os minutos com Allan Lane na tela e mais a suavidade
de Felicia Farr são bônus especiais para o espectador. 7/10
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
JUVENTUDE TRANSVIADA (Rebel Without a Cause), 1955
Nicholas Ray sempre
reivindicou a autoria da história original deste drama sobre adolescentes, ele
que melhor que nenhum outro diretor mostrou entender a juventude incompreendida.
Amigo de James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo, Ray os mostrou em seu filme como
um trio de jovens problemáticos, consequência dos conflitos com suas famílias. Os
três se conhecem numa noite num distrito policial e já no dia seguinte, o
primeiro dia de aula, Dean se confronta com um grupo de delinquentes que tiram
suas diferenças com canivetes e se divertem em corridas suicidas de automóveis em
direção a um penhasco. Os veículos, claro, são roubados. A primeira metade de “Juventude
Transviada” é notável, ainda que apenas no caso de Jim Stark (Dean) as
desavenças familiares sejam melhor delineadas. Para a parte final Ray teve
óbvios limites impostos pelo Código Hays com Plato (Sal Mineo), no filme latente
homossexual, aceitando ver seu amigo Stark se envolver com Judy (Natalie Wood).
Consuma-se a inevitável tragédia. O personagem de Jim Stark imortalizou James Dean
como a mais perfeita imagem do adolescente rebelde e angustiado, com uma
atuação admirável que lhe valeu o culto que perdura até hoje. Natalie Wood docemente
frágil e Sal Mineo adoravelmente vulnerável. “Juventude Transviada” definiu o
modelo para os muitos filmes que o seguiram sobre adolescentes. 9/10
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
DIVÓRCIO À ITALIANA (Divorzio all'Italiana), 1961
Tamanho foi o sucesso
obtido por este filme de Pietro Germi, com roteiro que destila sarcasmo a la
Billy Wilder, que se tornou um modelo muito imitado mas jamais superado no
estilo de comédia agridoce italiana. A história se passa em Agromonte, pequena
cidade da Sicília, em 1960, quando ainda não havia divórcio na Itália.
Ferdinando ‘Feffé’ Cefalú (Marcello Mastroianni) se apaixona pela sobrinha
Ângela (Stefania Sandrelli) e precisa se livrar da tediosa esposa Rosalia
(Daniela Rocca). Feffé trama um crime em nome da honra e para isso deverá se tornar
‘cornudo’ pois sabe que o Código Penal então vigente atenua assassinato
cometido pela dignidade pessoal. Escrito em tom de humor negro esta comédia não
é propriamente hilariante mas deliciosa na abordagem dos costumes da região e
do comportamento dos sicilianos. A esposa Rosalia em colóquio amoroso com o
amante, Feffé sendo alvo da zombaria dos agromonteses recebendo cartas
anônimas, e a eloquência do advogado de defesa são momentos primorosos desta
magnífica sátira. Sem esquecer da plateia assistindo “La Dolce Vita”. A aparente
visão machista que predomina no filme todo sucumbe à frivolidade da jovem
esposa do maduro Feffé. Mastroianni e Daniela Rocca estupendos, ele sem mover
um músculo de seu rosto durante todo o filme. Stefania Sandrelli aos 15 anos de
idade virava qualquer cabeça. 9/10
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
UM LUGAR AO SOL (A Place in the Sun), 1951
O famoso romance de
Theodore Dreiser teve o apropriado título original “Uma Tragédia Americana”. Foi
adaptado para o cinema (pela segunda vez) como “Um Lugar ao Sol” como se o eixo
da história fosse a luta do pobretão George Eastman (Montgomery Clift) para
ascender profissional e socialmente. O filme revela-se um melodrama com tons
noir narrando como o protagonista se empenha, menos para ser alguém na vida,
mas sim para se livrar da incômoda situação de ter engravidado Alice (Shelley
Winters) uma colega de fábrica. O meticuloso diretor George Stevens acerta ao
desenvolver a relação dos dois imprudentes jovens mas deixa a desejar quanto à
inconvincente e repentina paixão entre Eastman e a bela e rica Angela Vickers (Elizabeth
Taylor). A tensão aumenta quando Alice vê sua vida semidestruída e força
Eastman a se casar com ela. Porém seu lado ingênuo reaparece e ela aceita o
inusitado passeio de barco num lago ermo, propício para um afogamento. Sem
querer querendo Eastman vê Alice cair do barco e se afogar com a tragédia
americana tomando forma com sua condenação à morte. Este cultuado drama mantém
seu interesse acima de tudo pela estupenda atuação de Montgomery Clift e pela
estonteante beleza de Elizabeth Taylor em seu primeiro papel sério. Shelley
Winters retrata bem a moça aborrecida e infeliz, enquanto Raymond Burr dá uma
aula de representação exagerada chegando a ser patético. 7/10
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
CANTANDO NA CHUVA (Singin' in the Rain), 1952
Projetos cinematográficos
costumam ser elaboradíssimos e mesmo assim nem sempre dão certo. Já produções
em que predomina o improviso tornam-se algumas vezes grandes filmes, como é o
caso de “Cantando na Chuva”. Único musical a frequentar as listas dos melhores
filmes de todos os tempos, apenas duas das principais canções são originais e
mesmo a famosa “Singin’ in the Rain” já havia sido utilizada em muitos outras películas
antes. Como o filme ficou curto a MGM decidiu inserir o segmento “Broadway
Melody” (com Cyd Charisse) que nada tem a ver com a hilária trama quebrando o
ritmo agradavelmente alucinante de “Cantando na Chuva”. O argumento remete aos
difíceis dias da transição do cinema silencioso para o sonoro e não fosse um
musical resultaria de qualquer forma numa deliciosa comédia. Mas há números
musicais antológicos com Gene Kelly maravilhoso, Donald O’Connor acrobático e
Debbie Reynolds acompanhando-os como pode. As aulas de dicção são irresistíveis
e irresistível é Lina Lamont (Jean Hagen) como a estrela da voz estridente e
curiosamente é Jean quem dubla Debbie Reynolds, que no filme dubla Lina Lamont.
A MGM parece não ter notado então o talento de Rita Moreno, desperdiçada numa
ponta, ela que brilharia anos depois no melhor de todos os musicais. Para ver e
rever sempre, especialmente se houver alguma tristeza no ar. 9/10
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018
MARTY (Marty), 1955
A Burt Lancaster o cinema
deve muito. Quando Hollywood morria de medo da TV ele foi à televisão em busca
de histórias para filmes. Foi o primeiro a fazer isso com a teleplay de Paddy
Chayefsky sobre o açougueiro judeu que não arrumava namorada, interpretado na
telinha por Rod Steiger. O próprio Chayefsky, atendendo sugestão de Lancaster,
mudou a nacionalidade do gorducho Marty que virou italiano e Burt ainda escalou
Ernest Borgnine (com quem trabalhara duas vezes antes) e Betsy Blair como a
moça feiosa. Delbert Mann dirigiu a teleplay e também o drama que as
interpretações de Ernest e Betsy tornam extraordinariamente pungente na
simplicidade como é mostrado. O conflito familiar entre filhos que se casam e
suas mães que se sentem abandonadas é igualmente tocante. A sequência com a
família da moça reunida na sala assistindo ‘Ed Sullivan’ é primorosa. O filme
custou menos de 200 mil dólares, se transformou num dos sucessos do ano e tornando
comum a via TV-Hollywood. “Marty” arrebatou quatro prêmios Oscar, inclusive o
de Melhor Ator para Borgnine que concorreu com Spencer Tracy, James Dean,
Sinatra e James cagney. Ernest ainda ganhou diversos outros prêmios
importantes, mas em seguida voltou à condição de o mais talentoso coadjuvante
do cinema. 8/10
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