Este cultuado filme da
cineasta francesa Agnès Varda é um paradoxo: quis ela fazer um filme que
rescendesse a total simplicidade e, no entanto, o resultado é de uma mal
disfarçada afetação. O uso (exagerado) de bosques primaveris ao som da música
de Mozart onde uma família desfruta de momentos de lazer intenta mostrar a
singeleza da felicidade. É lá que o carpinteiro François (Jean-Claude Drouot)
ama sua esposa, a costureira Thérèse (Claire Drouot). Moram em Fontenay e, em
viagens a trabalho a Vincennes, François se envolve com Émilie (Marie-France
Boyer) com quem divide seu amor. Ou melhor acumula amor, como ele pretende ao
contar à esposa a infidelidade. Thérèse comete suicídio e François e Émilie juntam-se,
os filhos pequenos mal percebem a troca de mães e vão todos passear... nos
floridos bosques ao som de Mozart. Tudo é simples e rápido demais, a ponto de
Varda não aprofundar a súbita paixão e, pior ainda, surpreender com o gesto
trágico da esposa traída deixando no mundo duas crianças pequenas. Mas não há
tempo para tristeza já que a felicidade logo retoma seu lugar. O
desenvolvimento linear de “Le Bonheur” parece incomodar a cineasta que sem
cerimônia insere cortes e edição rápidas que contrastam com a presumida leveza
do filme. A curiosidade é que Jean-Claude Drouot, Claire e as crianças eram uma
família na vida real. 6/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Sebá Santos.
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