A escritora Helene Hanff,
de Nova York, escreveu um livro baseado em suas memórias contando como se tornou
cliente de uma livraria londrina especializada em livros raros. Helene (interpretada
por Anne Bancroft) faz amizade com o funcionário da livraria Frank Doel (Anthony
Hopkins) que, ao longo de 20 anos, lhe remete muitas obras literárias. A relação
de amizade entre os dois se estreita e, mesmo sem jamais se verem ou se falarem
por telefone, passam a se admirar cada vez mais. A comunicação é feita por
cartas. Frank é casado e Helene solteira. Ela não tem recursos suficientes para
viajar a Londres e quando o consegue Frank já faleceu. Esta história de amor
diferente é bastante valorizada pelas interpretações dos dois protagonistas que
externam esplendidamente todo o sentimento que aos poucos os invade até perceberem
que são bem mais que meros amigos. A lamentar o diminuto aproveitamento da
ótima Judi Dench como a esposa de Frank, ela que silenciosamente observa o
comportamento do marido. Este filme estático que celebra a amizade
independentemente da distância, antes foi peça teatral. Ele faz refletir
nostalgicamente nestes tempos em que livrarias desaparecem e com elas o amor
pelos livros; tempos também em que igualmente desapareceu o prazer de escrever
cartas. 7/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e
colecionador Sebá Santos.
terça-feira, 27 de agosto de 2019
domingo, 25 de agosto de 2019
AS DUAS FACES DA FELICIDADE (Le Bonheur), 1965
Este cultuado filme da
cineasta francesa Agnès Varda é um paradoxo: quis ela fazer um filme que
rescendesse a total simplicidade e, no entanto, o resultado é de uma mal
disfarçada afetação. O uso (exagerado) de bosques primaveris ao som da música
de Mozart onde uma família desfruta de momentos de lazer intenta mostrar a
singeleza da felicidade. É lá que o carpinteiro François (Jean-Claude Drouot)
ama sua esposa, a costureira Thérèse (Claire Drouot). Moram em Fontenay e, em
viagens a trabalho a Vincennes, François se envolve com Émilie (Marie-France
Boyer) com quem divide seu amor. Ou melhor acumula amor, como ele pretende ao
contar à esposa a infidelidade. Thérèse comete suicídio e François e Émilie juntam-se,
os filhos pequenos mal percebem a troca de mães e vão todos passear... nos
floridos bosques ao som de Mozart. Tudo é simples e rápido demais, a ponto de
Varda não aprofundar a súbita paixão e, pior ainda, surpreender com o gesto
trágico da esposa traída deixando no mundo duas crianças pequenas. Mas não há
tempo para tristeza já que a felicidade logo retoma seu lugar. O
desenvolvimento linear de “Le Bonheur” parece incomodar a cineasta que sem
cerimônia insere cortes e edição rápidas que contrastam com a presumida leveza
do filme. A curiosidade é que Jean-Claude Drouot, Claire e as crianças eram uma
família na vida real. 6/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Sebá Santos.
domingo, 18 de agosto de 2019
ROY BEAN – O HOMEM DA LEI (The Life and Times of Judge Roy Bean), 1972
Em tempos de revisionismo
do western, John Huston filmou o roteiro de John Millius sobre a vida do Juiz
Roy Bean, passando tão longe da verdade dos fatos que chega a lembrar os filmes
biográficos dos anos 30, 40 e 50. Paul Newman é Roy Bean, o homem que impunha a
lei a Oeste do Rio Pecos e que gostava de sempre ver no patíbulo montado à
frente de seu saloon-tribunal um corpo balançando após seu sumário e implacável
julgamento. Na vida real Roy Bean só condenou dois bandidos a morrer na forca,
sendo que um deles conseguiu escapar. Além de se comprazer condenando bandidos,
Roy Bean nutria ardente paixão pela atriz Lillie Langtry (Ava Gardner), mas
casa-se com a mexicana Maria Helena (Victoria Principal) com quem tem a filha
Rose (Jacqueline Bisset). Ava e Jacqueline aparecem pouco na tela neste
faroeste que é episódico e que tem inúmeras pequenas participações, entre elas
as de Anthony Perkins, Tab Hunter, o próprio John Huston e Stacy Keach como o
mais bizarro pistoleiro (albino) do Velho Oeste. Western que mescla bons
momentos com outros terríveis como a grosseira imitação do interlúdio amoroso
de “Butch Cassidy”, aqui ao som de uma medíocre canção e ainda com a presença
de um... urso. Paul Newman brilha durante todo este filme que não merece estar
figurar entre os melhores trabalhos do grande John Huston. 7/10
terça-feira, 13 de agosto de 2019
CARTA DE UMA DESCONHECIDA (A Letter from a Unknown Woman), 1948
Stefan Zweig foi
contemporâneo e amigo de Sigmund Freud e, na Viena do início do século XX,
Zweig escreveu diversos livros baseados na Psicanálise. “Carta de uma
Desconhecida” foi um deles, roteirizado por Howard Koch e filmado por Max
Ophüls, narrando a obsessão de Lisa (Joan Fontaine) que, na adolescência em
Viena, se apaixona pelo pianista Stefan Brand (Louis Jourdan). Já adulta mas
sempre apaixonada por Brand, Lisa vem a ter um breve caso amoroso com o músico
que parte para a Itália e a esquece. Lisa engravida, tem um filho e mesmo assim
se casa com um homem mais velho. Brand retorna, volta a se encontrar com Lisa
mas não se recorda de tê-la amado. O amor de Lisa pelo pianista, agora
decadente, resiste, o que leva a uma tragédia. Este melodrama contado em
flashbacks a partir da leitura de uma carta deixada por Lisa é um estudo não só
da neurose que é a fixação de uma pessoa por alguém, mas também do masoquismo.
Lisa se apraz com o sofrimento justificado pelo amor, sentimento que a leva à
desventura. Este filme de Ophüls é aprimorado artisticamente (estilo do
diretor) mas inconvincente no ‘esquecimento’ do pianista. Joan Fontaine está ótima
como a sofrida protagonista e Louis Jourdan, com sua elegância e simpatia, é o
músico que estranhamente não se recorda de um caso amoroso. 7/10
segunda-feira, 12 de agosto de 2019
NOITES DE AMOR, DIAS DE CONFUSÃO (Buona Sera, Mrs. Campbell), 1968
A história desta comédia é
tão boa que acabou sendo copiada no musical da Broadway e mais tarde filme
“Mamma Mia”. Conta como Carla (Gina Lollobrigida), uma esperta jovem italiana,
em tempos de guerra e noites de amor, dorme em curto prazo com três soldados
norte-americanos cujo regimento está na pequena San Forino, próxima de
Florença. Ela engravida e, finda a guerra, os três soldados são avisados serem eles
os pais de sua filha passando a enviar mensalmente uma pensão para a menina.
Até que, 20 anos depois, cada um com a respectiva família retorna a San Forino
gerando os dias de confusão do título. Material excelente com ótimo elenco que
poderia resultar em comédia muito mais engraçada com uma direção mais
inspirada. No entanto as locações em autênticas vilas italianas, a beleza de
Gina Lollobrigida e, entre os casais, as desavenças da esposa Lee Grant com o
marido impotente Telly Savalas dão sabor especial ao filme. O francês Philippe
Leroy é o motorista de caminhão e amante da senhora Campbell (nome inventado a
partir da famosa sopa em lata). Shelley Winters-Phil Silvers formam outro
casal, meno engraçado que os hilários Telly-Lee enquanto o insípido Peter
Lawford é o terceiro pai. Gina recebeu o David de Donatello por sua
interpretação que não chega a impressionar tanto quanto sua beleza aos 40 anos
de idade. A música é de Riz Ortolani. 7/10
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
SEM DESTINO (Easy Rider), 1969
Há filmes que não se tornam
clássicos, mas sim ‘marcos cinematográficos’. Este é o caso de “Sem Destino”,
realizado fora do controle dos grandes estúdios ao custo de 400 mil dólares e
que arrecadou em seu primeiro ano de exibição mais de 60 milhões de dólares no
mundo todo. Tal fato jamais havia acontecido antes ou tornou a se repetir e
esse extraordinário sucesso de público deve-se ao filme dirigido por Dennis
Hopper responder, como nenhum outro, ao questionamento da juventude dos anos de
Woodstock, Vietnã, hippies e ao sistema opressor. Tudo com os dois
protagonistas (Capitão América/Peter Fonda e Billy the Kid/Dennis Hooper) viajando
de Los Angeles para New Orleans em suas reluzentes motos estilizadas (Harley Davidsons
dos tempos de “O Selvagem”). Durante a longa jornada conhecem norte-americanos
de todos os tipos, entre eles os que usam da violência gratuita por não
suportar quem é diferente deles. “Sem Destino” não inventou a contracultura, mas
foi uma obra de extrema felicidade ao falar de drogas, sexo, rock (em toda
trilha sonora) e do sonho de liberdade. Fonda e Hopper são os atores
principais, mas é Jack Nicholson, na meia hora em que está em cena, que domina
o filme não só com sua magnética presença mas pela brilhante performance como o
advogado que vê a vida de modo muito particular e pela filosofia sincera que encerra
em suas palavras. 9/10
terça-feira, 6 de agosto de 2019
CHARADA (Charade), 1963
Para a maior parte dos
espectadores, cinema é diversão, entretenimento. Sabedor disso, Stanley Donen,
diretor de alguns dos melhores musicais da MGM realizou uma película que contém
suspense, romance e comédia, ou seja, praticamente tudo que entretém e diverte
quem assiste a um filme. E numa dessas raras oportunidades em que o cast de
apoio vem a se tornar astros de primeira grandeza, “Charada” conta com Walter
Matthau, James Coburn e ainda George Kennedy, todos irrepreensíveis e
assustadores em seus próprios estilos. Mas “Charada” é antes de mais nada um
dos belos momentos da fascinante Audrey Hepburn com seu charme irresistível
sendo assustada por todo esse grupo de homens e mais Cary Grant, por quem se
apaixona na história. Audrey é uma viúva perseguida por vilões que buscam 250
mil dólares que o finado marido de Audrey escondeu de forma inusitada. Este
thriller hitchcockiano se desenvolve em tom de comédia que a competência de
Donen não impede nunca que o mistério seja comprometido. Cary Grant está velho demais
para ser o par ideal de Audrey, mais ainda para vencer George Kennedy numa
emocionante luta num terraço de Paris. E há Paris com seu encanto único como
cenário das ações e Henry Mancini inspiradíssimo compondo uma de suas melhores
trilhas musicais. São filmes como este que Hollywood não é mais capaz de fazer.
9/10
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