O cantor e comediante Joe
E. Lewis era um dos principais entertainers dos anos 20, quando gângsters, a
mando de um dono de night-club, o surraram violentamente e quase puseram fim à
sua vida artística. Lewis conseguiu sobreviver e com ajudas providenciais
voltou aos palcos. Uma das pessoas que o ajudaram foi uma socialite que o amava
e com quem ele nunca quis se casar, casando-se mais tarde com uma corista. Mas Lewis
gostava mesmo era de uma garrafa de scotch, o que o levou a perder família,
amigos e ver sua carreira definhar. A vida do entertainer foi biografada e
levada ao cinema com Frank Sinatra como Lewis, Jeanne Crain como a ricaça que o
ajudou e Mitsi Gaynor como sua sofrida esposa. Muito da vida de Joe E. Lewis se
confunde com a primeira metade da vida do próprio Sinatra e talvez por isso ele
tem uma esplêndida interpretação. Além do farto e engraçadíssimo material para
stand-ups que faz Sinatra brilhar, há uma dúzia de canções que ‘The Voice’
canta com arranjos de Nelson Riddle que também dirige a orquestra que acompanha
o cantor. Entre os números antológicos estão “I Cried for You”, “Naturally” e a
maravilhosa “All the Way”, que ganhou o Oscar de Melhor Canção. Sinatra canta “All
the Way” três vezes e é irresistível a versão pessimista. Imperdível pela
música e por Sinatra em seu auge como cantor e ator. No elenco ainda Eddie Albert
e Jackie Coogan - 8/10
terça-feira, 30 de abril de 2019
segunda-feira, 29 de abril de 2019
CRY BABY (Cry Baby), 1990
John Waters tem muitos
admiradores e seus filmes “Pink Flamingos” e “Polyester”, ambos estrelados pelo
performer Divine, se tornaram cults mesmo rotulados de escatológicos. Com “Hairspray”,
também com Divine, John Waters amenizou sua irreverência e conquistou um
público ainda maior. Em seguida ele dirigiu “Cry Baby”, na mesma linha do
anterior, ou seja, ambientado (sempre em Baltimore) e nos tempos ingênuos do
rock’n’roll. “Cry Baby” (Johnny Depp) é um jovem transviado por quem Allison
(Amy Locane) se apaixona. Ela pertence ao high society da cidade e sua
vigilante tia (Polly Bergen) faz o possível para impedir o romance. Tudo que já
se viu em filmes do gênero, corridas mortais com automóveis a la “Juventude
Transviada” e Cry Baby preso como Elvis em “Prisioneiro do Rock”, além de
brigas entre jovens, acontece ao som de muitos rocks e baladas românticas. O
final é o mais água com açúcar que Waters pode conceber e a sátira é divertida,
sem ser brilhante. Há poucos rostos bonitos como os de Sandra Dee e Troy Donahue
(que tem pequena participação) pois Waters prefere personagens bizarros
interpretados por gente como Iggy Pop, Willem Dafoe, Susan Tyrrell e a
inacreditável ‘Cara-de-Machado’ Kim McGuire. Joe Dallesandro interpreta um...
pastor. Johnny Depp ainda não era o astro que se tornou e quem rouba o filme
todo é a maravilhosa Polly Bergen, muito bonita aos 60 anos. 7/10
quinta-feira, 25 de abril de 2019
JOANA D’ARC (Joan of Arc), 1948
A vida de Joana D’Arc já
havia sido levada às telas inúmeras vezes quando Ingrid Bergman se associou ao
produtor Walter Wanger e ao diretor Victor Fleming para produzir esta
superprodução. Resultou num filme de 145 minutos que não obteve o sucesso
esperado, tendo então sua duração reduzida para 100 minutos, que é a cópia mais
conhecida. Conta como a jovem camponesa teve papel preponderante na luta pelo
Reino da França, durante a Guerra dos 100 Anos. Desde adolescente Joana (Ingrid
Bergman) ouve vozes que mais tarde lhe indicam que deve ajudar o Delfim (José
Ferrer) na disputa pela coroa francesa contra os ingleses. Joana lidera o
exército francês transformando iminente derrota em vitória sobre os ingleses. A
Igreja Católica alia-se aos britânicos e Joana é denunciada como herege e por
prática de bruxaria, sendo condenada à fogueira. Esta bem produzida versão tem
seus pontos altos na fotografia que contou com a colaboração do extraordinário
Winton C. Hoch, recebendo o Oscar de Cinematografia (ganhou também o de
Costumes) e na luminosa interpretação de Ingrid. Aos 33 anos a atriz sueca
interpreta Joana que tinha apenas 19, mas envolve de tal forma o espectador que
ele nem se atenta a esse detalhe. José Ferrer é o afetado e inescrupuloso
Delfim num elenco com muitos atores e destaque ainda para Ward Bond. Quem
quiser ver não só a história, mas também a alma da heroína francesa deve
assistir “O Martírio de Joana d’Arc”, de Dreyer. 7/10
terça-feira, 23 de abril de 2019
ENTRE DOIS JURAMENTOS (Two Flags West), 1950
A Guerra Civil
norte-americana foi pano de fundo para pelo menos uma centena de westerns e
este dirigido por Robert Wise relata uma situação inusitada que seria abordada anos
mais tarde por Sam Peckinpah no malfadado “Juramento de Vingança” (Major
Dundee). Ambos tratam de confederados feitos prisioneiros de guerra e que,
segundo um decreto de Abraham Lincoln, seriam anistiados caso se incorporassem
ao Exército da União. É o que acontece com um pelotão liderado pelo sulista
Coronel Tucker (Joseph Cotten) que presta juramento de lutar ao lado dos
ianques. Os adversários agora são índios, tão odiados pelo Major Kenniston
(Jeff Chandler), nortista que comanda o Forte que serve como prisão, quantos os
próprios confederados. O objetivo dos homens de Tucker não é outro senão
escapar, mas demonstrando altruísmo e coragem renunciam à fuga para lutar pela
União. Para complicar ainda mais as coisas no Forte, o Major Kenniston é
apaixonado por sua cunhada viúva (Linda Darnell). Na linha de “Sangue de
Heróis” (Fort Apache), de John Ford, os índios são vistos de forma simpática
neste muito bom faroeste de Wise. As sequências do cerco dos índios ao forte
são excelentes. Sem maior esforço Joseph Cotten é o melhor do elenco que conta
ainda com o monolítico Jeff Chandler em início de carreira, a bela (e apenas
isso) Linda Darnell e Cornel Wilde. 8/10
quinta-feira, 11 de abril de 2019
EM CADA CORAÇÃO UM PECADO (Kings Row), 1942
Bem antes de “A Caldeira do
Diabo” e de “Veludo Azul”, Hollywood já havia mostrado que as aparências enganavam
nas bucólicas cidadezinhas do interior dos Estados Unidos. A pequena e
tranquila Kings Row, por volta de 1900, escondia preconceitos, assassinatos e a
mais terrível forma de sadismo que chegara às telas, além de demência hereditária.
Tudo isso estava no best-seller de Henry Bellamann publicado em 1940 e que
movimentou os bastidores do cinema pois os personagens interessavam aos mais
famosos artistas de então. Ronald Reagan ficou com o papel de Drake McHugh,
desde criança envolvido com Randy Monaghan (Ann Sheridan), enquanto o amigo
Parris Mitchell (Robert Cummings) se relaciona com Cassandra Tower (Betty
Field). Através dos anos o destino reservará tragédias para alguns deles neste
melodrama intenso que por momentos parece resvalar no novelesco, mas que mantém
a dignidade. Para isso muito contribui as magníficas interpretações de Reagan,
Ann Sheridan e Betty Field. Sem falar no elenco de apoio formado por atores
notáveis como Claude Rains, Judith Anderson, Charles Coburn e Maria Ouspenskaya.
Brilhantes também a fotografia de James Wong Howe e a música de Eich Wolfgang
Korngold. Direção de Sam Wood. Obrigatório esse que foi o mais sóbrio dos filmes da Warner Bros. nos
tempos da II Grande Guerra. 9/10
sexta-feira, 5 de abril de 2019
EU, ELA E A OUTRA (Move Over, Darling), 1963
Doris Day foi a artista
(eles e elas) campeã de bilheterias por quatro anos e essa série teve início
com “Confidências à Meia-Noite”, obra-prima da comédia sofisticada. Mesmo emplacando
sucesso atrás de sucesso, Doris não conseguia repetir a qualidade de “Confidências...”,
dirigida por Michael Gordon. Esse mesmo diretor foi chamado para filmar o
malfadado projeto que teria sido o último filme de Marilyn Monroe (com Dean
Martin e Cyd Charisse), agora com Doris como a esposa dada como morta há cinco
anos e cujo marido (James Garner) se casa novamente (com Polly Bergen). A
falecida reaparece e daí para frente é uma sucessão de deliciosas confusões que
terminam com casamento e certidão de morte anulados e o casal original reunido
com as duas filhas. O roteiro tem grandes momentos cômicos, os melhores deles
proporcionados pelos veteranos Edgar Buchanan como um juiz irritadiço e Thelma
Ritter como a sogra sensata. Não faltam piadas de humor negro, com a
Psicanálise e com Adão e Eva pois a linda Doris passa cinco anos numa ilha deserta
com o atlético Chuck Connors e... nada acontece. Doris Day canta apenas duas
canções nada memoráveis assim como seu desempenho que não chega a entusiasmar.
James Garner é simpático mas não é Rock Hudson e a bonita e talentosa Polly Bergen
(a outra) merecia melhores sequências. Refilmagem de “Minha Esposa Favorita”,
de 1940. 8/10
quarta-feira, 3 de abril de 2019
AMA-ME OU ESQUECE-ME (Love me or Leave me), 1955
A cantora Doris Day já
havia revelado seu talento como atriz de comédias e musicais. Faltava-lhe o
desafio de uma interpretação dramática e este veio ao interpretar a também
cantora Ruth Etting que, nos anos 20, fora um dos maiores nomes do rádio e dos
palcos. Desafio ainda maior para Doris seria contracenar com James Cagney, este
como o empresário-gângster de Chicago que se tornou mentor de Ruth Etting.
Doris não se intimidou com a presença de Jimmy, enfrentando-o de igual para
igual em sequências carregadas de dramaticidade.
Como uma luva e sem economizar no histerismo habitual Cagney se encaixou com
perfeição como Martin Snyder, o gângster que distribui socos a granel e até uma
violenta bofetada em Ruth, atirando ainda no rival interpretado por Cameron
Mitchell. Mas quem brilha intensamente é Doris Day, não só pela excelente
atuação mas bafejada que foi por um incrível conjunto de canções clássicas, as
quais interpreta com seu talento extraordinário de cantora. Doris, como se
sabe, antes de ir para Hollywood foi, por anos, crooner da orquestra de Les
Brown e traquejo é o que não lhe faltava. Os arranjos musicais são de Percy
Faith e “Ama-me ou Esquece-me” só não é melhor porque, como de hábito, faltou
maior inspiração ao diretor Charles Vidor. Um must para os fãs de Doris e da
melhor música norte-americana. 8/10
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