sexta-feira, 19 de outubro de 2018

AMARCORD (Amarcord), 1973


Fellini era um sentimental que revisitava suas memórias a cada filme. Nunca, porém retratou tão completa e apaixonadamente a Rimini de sua infância e adolescência como em “Amarcord”. Rimini se torna Borgo San Giuliano cidade fictícia situada no Mar Adriático onde se sucede uma série de episódios sem ligação entre eles mas todos plenos de poesia e saboroso humor. Os personagens saídos da memória de Fellini neste seu álbum de recordações, sem exceção, têm um quê de grotescas caricaturas, mas são todos extraordinariamente humanos e familiares ainda que o filme se passe nos anos 30. A província festeja a chegada da Primavera com uma enorme fogueira, vibra com a passagem dos bólidos na VII Mille Miglia, participa ingênua e febrilmente da ascensão do fascismo e se extasia com a visão da passagem noturna de um transatlântico. Se as imagens fellinianas, como de hábito, deslumbram embaladas pela música admirável de Nino Rota, são os inesquecíveis tipos que povoam a cidade que mais encantam: Gradisca, Volpina, a rotunda dona da tabacaria, o casal pai e mãe de Titta (o alter-ego de Fellini) sempre às turras, o cunhado viteloni, o tio maluco, os professores, os amigos de Titta e o padre preocupado com os meninos se tocarem. A nostalgia das recordações é geralmente triste, mas em “Amarcord”, pelas mãos mágicas de Federico Fellini se torna prazerosa, contagiante e sublime. 10/10




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