Concebida como teleplay e
exibida pela CBS em 20/09/1954, Henry Fonda assistiu à transmissão, se
identificou com um dos personagens e sempre alimentou a ideia de levar ao
cinema a história de Reginald Rose sobre aquela decisão de 12 jurados. Passada
inteiramente dentro de uma sala onde se reúnem o corpo de júri, nada indicava que
a teleplay poderia resultar num espetáculo ‘cinematográfico’. Mas o diretor
Sidney Lumet conduzindo um elenco perfeito liderado pelo próprio Fonda que
coproduziu o filme e com a fotografia abrindo no grupo e fechando em constantes
close-ups, conseguiu o improvável e realizou uma excepcional película do gênero
‘tribunal’. O calor sufocante na sala dos jurados, a fumaça dos cigarros, a
tensão que se eleva entre os homens a cada diálogo cada vez mais áspero, tudo
forma o ambiente único do filme no qual um jovem acusado de assassinato está prestes
a ser condenado à morte. O jurado n.º 8 começa a levantar dúvidas bem
fundamentadas e aos poucos todos os demais alteram seus votos. Henry Fonda é
perfeito como o homem frio e justo, evocando um misto de Tom Joad (“Vinhas da
Ira”) e o cowboy resoluto de “Consciências Mortas”. O grande ator sempre se
referiu a esses três filmes como os melhores de sua longa carreira. 9/10
terça-feira, 21 de agosto de 2018
terça-feira, 14 de agosto de 2018
OS QUATRO DESCONHECIDOS (Kansas City Confidential), 1952
Este policial noir e mais
ainda seu filme seguinte, “A Morte Ronda o Cais” (99 River Street), deram a
Phil Karlson uma reputação que ao longo da carreira ele não se preocupou em
manter. Ambos os filmes têm como ator principal John Payne, mas em “Os Quatro
Desconhecidos” há a feliz coincidência de contar no elenco, ainda em início de
carreiras, três atores coadjuvantes que viriam a ser famosos como grandes
vilões do cinema norte-americano: Jack Elam, Lee Van Cleef e Neville Brand.
Eles são três dos quatro desconhecidos que praticam um assalto a um carro forte
sem que conheçam e saibam quem é o chefe da quadrilha. John Payne é um
ex-condenado acusado injustamente de participação, enquanto Preston Foster é o
cínico policial aposentado que engendra o assalto. Roteiro bastante engenhoso,
direção segura de Karlson e boas sequências de violência prendem a atenção do
espectador, mesmo que a presença feminina de Coleen Gray quebre ligeiramente o
ritmo. Sua personagem é quem ajuda a elucidar o mistério da quadrilha mascarada
esclarecendo quem é o chefe, embora a cada momento isso se torne mais óbvio.
John Payne jamais decepciona e como poucos atores exala integridade; Preston
Foster tem marcante e intimidante presença. Jack Elam é quem se sai melhor do
trio de bandidos que não se conhecem e também o que mais apanha. 8/10
sábado, 11 de agosto de 2018
MORTALMENTE PERIGOSA (Gun Crazy), 1949
Este policial ‘B’ de Joseph
H. Lewis é extraordinário ao demonstrar do que é capaz de realizar um diretor
criativo quando consegue um pouco mais de liberdade, o que os grandes estúdios
não permitiam. Produzido por uma produtora independente (a King Brothers) e
distribuído pela United Artists, mesmo sem contar com nenhum nome famoso no
elenco “Mortalmente Perigosa” chamou a atenção de muitos críticos e cineastas quando
de seu lançamento. Tudo porque conta a história de dois jovens que dividem o
amor por armas, pela aventura e finalmente um pelo outro, antecipando o que
Jean-Luc Godard e Arthur Penn filmariam anos depois respectivamente com “Pierrot
Le Fou” e “Bonnie & Clyde”. Dalton Trumbo foi o autor do roteiro mas seu
nome teve que ser substituído pelo de Millard Kaufman, porém os méritos totais
se devem à inventividade do diretor Lewis e à cinematografia de Russell Harlan.
A notável sequência do assalto ao banco em Hampton dura quatro minutos sem
nenhum corte tendo sido toda filmada com a câmera na parte traseira de um
automóvel. O ritmo é frenético em muitos momentos, o que não é característica
de filme noir, embora a principal personagem feminina (Peggy Cummins) seja
típica do gênero, atraindo irresistivelmente seu parceiro de crimes (John Dall)
para o amor e para a morte. O livro “Alternate Oscars” atribuiu a “Gun Crazy” o
Oscar de Melhor Filme de 1949. 9/10
domingo, 5 de agosto de 2018
O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III (The Godfather - Part III)
O maior problema deste
filme é justamente a enorme responsabilidade de completar a trilogia da saga da
família Corleone e, inevitavelmente, ser comparado com os dois anteriores. Nada
tendo a ver com o livro de Mario Puzo, todo o novo roteiro foi concebido sem
que guarde coerente ressonância com a história da família. Michael Corleone (Al
Pacino) afastou-se da máfia, enveredou por negócios legais e se tornou um grande
benemérito, o que desagradou a mafiosos que querem participar desses
empreendimentos. Entra em cena seu violento sobrinho (Andy Garcia) que passa a
homem-forte do tio e enfrenta os adversários. A longa e brutal sequência final transcorre
num teatro durante a exibição da “Cavalaria Rusticana” e o que foi idealizado
para ser um desfecho digno e de forte impacto para encerrar a trilogia não
chega a impressionar. Além dos diálogos fracos e situações incongruentes esta
‘Parte III’ padece da presença de Sofia Coppola, certamente a pior de todas as
atrizes já indicadas ao Oscar (por este filme), e que derruba toda e qualquer
sequência de que participa. O contido Al Pacino brilha especialmente durante
sua confissão com o futuro Papa (Raf Vallone). Eli Wallach frustra seus fãs como
um caricato mafioso, Talia Shire magnífica e Andy Garcia tenta ingloriamente fazer lembrar James Caan
(de quem é filho bastardo na história). 6/10
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