Provavelmente o último
filme de ação filmado em preto e branco e inimaginável que fosse ele filmado em
cores pois perderia muito da impressionante atmosfera de realismo que exibe. Legítimo
tributo à Resistência Francesa propõe a questão se a arte vale mais que vidas
humanas. A princípio não para o inspetor ferroviário Paul Labiche (Burt
Lancaster) que se recusa a participar de uma célula que deverá sabotar o
transporte por trem de centenas de valiosas pinturas que, mais que obras de
arte, formam um legado cultural francês. Nos últimos dias da ocupação alemã na
França o coronel nazista Von Valdheim (Paul Scofield), obcecado por arte, faz
de tudo para levar o acervo de um museu para a Alemanha e para isso precisa de
Labiche, mas este se convence da importância de reter as pinturas. Esta foi a
derradeira vez que Burt Lancaster se envolveu na produção de um filme e após
três dias de filmagens despediu o diretor Arthur Penn chamando John
Frankenheimer que realizou uma extraordinária aventura de guerra. Filmado em
locações na França, as sequências de ação com trens em movimento são admiráveis
com Lancaster, aos 51 anos de idade, dispensando dublês em uma de suas mais
adequadas e espetaculares atuações. Brilhante também Paul Scofield como o
oficial alemão e no elenco em pequenos papeis Jeanne Moreau, Michel Simon e
Suzanne Flon. “O Trem” é um desses raros casos de filmes que entretêm pela movimentação
e emocionam pelo tema abordado. 9/10
quarta-feira, 30 de maio de 2018
domingo, 27 de maio de 2018
O SABRE E A FLECHA (Last of the Comanches), 1953
Produzido pela Columbia este western foi dirigido por André De Toth,
húngaro que nos anos 50 se especializou no gênero, dirigindo nada menos que dez
faroestes, seis deles com Randolph Scott. “O Sabre e a Flecha” é um dos
melhores westerns de De Toth, mesmo porque ele teve nas mãos um elenco sem
grandes estrelas e contando uma história que o cinema já vira em 1943 no filme
de guerra “Sahara”, de Zoltan Korda. Esta versão conta como o pelotão da
Cavalaria liderado pelo rude e experiente Sargento Matt Trainor (Broderick
Crawford) e reduzido a seis homens atravessa uma região inóspita em plena seca
e com os índios hostis fortemente armados e chefiados por um cacique
sanguinário chamado Black Cloud (John War Eagle). Com médio orçamento e 85
minutos de duração “O Sabre e a Flecha” é repleto de ação e intensas sequências
dramáticas, resultando num excelente filme. Broderick Crawford, aos
42 anos e já entrando na péssima forma física que o caracterizaria até o final
de sua carreira, não poderia ter sido uma escolha menos adequada para liderar o
elenco mas supera esse fato com interpretação forte, característica sua.
Barbara Hale representa o lado humano e moderador do sargento. As excelentes
sequências de ação são fruto do trabalho de Yakima Canutt como diretor de 2.ª unidade.
7/10 - Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.
sexta-feira, 18 de maio de 2018
NAS TRILHAS DA AVENTURA (The Hallelujah Trail), 1865
Este western comédia é
lembrado como um dos grandes fracassos comerciais do gênero. Produzido ao custo
de sete milhões de dólares para ser exibido em ‘road show’ (apenas em cinemas
lançadores, com prólogo e intervalo musicais), foi lançado com 165 minutos de
duração imaginando-se que repetiria as intermináveis gargalhadas de “Deu a
Louca no Mundo”. O público pouco se interessou e o que é pior, riu menos ainda
das dificuldades passadas pelo Coronel Gearhart (Burt Lancaster) tentando
mediar os interesses de diferentes grupos por uma caravana de 40 carroções
transportando whisky. A viúva Cora Massingale (Lee Remick) lidera a Liga da
Temperança que quer evitar que a bebida chegue a Denver City, enquanto tribos
de índios, mineradores e o Exército são os demais litigantes pelo carregamento
que pertence a Frank Wallingham (Brian Keith). A primeira parte do filme
poderia ser toda excluída pois as sequências movimentadas e engraçadas
acontecem apenas na parte final e Martin Landau como chefe índio é quem mais
faz rir. Produção acidentada, teve, entre outros problemas, a morte do dublê
Bill Williams. Burt Lancaster é muito, mas muito melhor como ator sério e não está
à vontade nesta comédia cujo ponto alto é a trilha musical de Elmer Bernstein.
O diretor John Sturges afirmou que este filme foi o maior erro de sua carreira.
7/10
quarta-feira, 16 de maio de 2018
CIDADE AMEAÇADA, 1960
Quando havia mais policiais
que bandidos na cidade de São Paulo, os poucos criminosos logo ganhavam notoriedade
e vulgos. Foi o que aconteceu com Antonio Rossini, apelidado como ‘Promessinha’,
marginal branco que aos 20 anos já havia praticado pelo menos 40 assaltos ao
lado do comparsa ‘Jorginho’ (Jorge Tavares). Preso, Promessinha empreendeu
cinematográfica fuga do DEIC, o prédio da Polícia Civil na capital paulista, em
1958. A história interessou aos produtores de filmes e logo um roteiro ficou
pronto com Promessinha se tornando ‘Passarinho’ (Reginaldo Faria) e Jorginho
virou ‘Militão’ (Milton Gonçalves), acrescentando-se romance com a namorada de Passarinho
interpretada por Eva Wilma. O sensacionalismo da imprensa ficou a cargo do
cínico repórter policial vivido por Jardel Filho. No suavizado roteiro Passarinho
quer deixar a vida de bandido, se casar com a namorada e se tornar homem de
bem. Este terceiro filme de Roberto Farias mostra um extraordinário domínio do
diretor das sequências de ação com o cerco policial aos bandidos, quase sempre
debaixo de forte aguaceiro. Primorosa a fotografia de Tony Rabatoni que deve
ter causado admiração no Festival de Cannes, onde o filme concorreu à Palma de
Ouro em 1960. Roberto Farias bem podia conter os atores que mal conversam,
expressando-se sempre aos gritos, à exceção da maravilhosa Eva Wilma, excelente
como Terezinha. 7/10
segunda-feira, 14 de maio de 2018
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR (Some Like it Hot), 1959
Este filme de Billy Wilder
é muito justamente considerado a melhor comédia de todos os tempos e tantas
décadas após sua realização só aumenta a certeza que jamais perderá essa
primazia. Isto porque não é fácil fazer um tributo às notáveis ‘screwball
comedies’ com uma história que nostalgicamente relembra os filmes de
gângsteres, brinca com o travestismo, tem romance e ainda música. Tudo
temperado com um roteiro em que cada diálogo supera o anterior em malícia,
mordacidade e contém a dose certa de vulgaridade, aquela vulgaridade que as
plateias discretamente ou não adoram ver e ouvir. Eterno provocador, Wilder
transforma dois músicos que testemunham um massacre em Chicago em fugitivos dos
gângsteres, terminando eles em uma orquestra só de mulheres. Joe (Tony Curtis)
vira Josephine e Jerry (Jack Lemmon) passa a ser Daphne. Enquanto Josephine se
apaixona por Sugar (Marilyn Monroe), Daphne é cortejada por um velho milionário
(Joe E. Brown) e as gargalhadas irrompem a cada sequência. Marilyn é uma
caricatura dela própria, mas uma deliciosa caricatura que passa longe do
ridículo. Tony Curtis faz esplendidamente três personagens, mas são de Jack
Lemmon os mais hilariantes melhores momentos, entre eles a frase famosa
‘ninguém é perfeito’ dita por Joe E. Brown. George Raft interpreta a si próprio
e diverte assim como Nehemiah Persoff, o gângster inimigo. Desses filmes para
se rever ao menos uma vez por ano. 10/10
sexta-feira, 11 de maio de 2018
CAN-CAN (Can-Can), 1960
Estreando em 1953 este
musical com canções de Cole Porter ficou mais de dois anos em cartaz na
Broadway e até que demorou para ser levado ao cinema. Quando isso aconteceu Frank
Sinatra e Shirley MacLaine eram dois dos maiores nomes nas bilheterias norte-americanas
e o sucesso do filme parecia certo. Mas não foi. Custou seis milhões de dólares,
foi lançado como ‘road show’ com 142 minutos de duração e, à época, não agradou
nem ao público e nem à crítica. No final do século XIX, quando a dança ‘can-can’
foi proibida por ser considerada lasciva e atentatória aos bons costumes,
advogados e juízes parisienses se envolvem com a dona de um cabaret (MacLaine)
no qual o can-can é a maior atração. Muitas das canções do musical da Broadway
foram excluídas do filme mas em compensação quatro outras maravilhosas músicas
de Cole Porter foram utilizadas, o que por si só já seria suficiente, ainda
mais cantadas por Sinatra. Mas, além disso, o filme tem também belíssimos
números de dança (a briga dos rufiões é o melhor deles) e alguns bons momentos
de comédia, especialmente as sequências de tribunal. Claro que o final é
forçado, com Sinatra ficando com Shirley MacLaine quando esta deveria terminar
nos braços de Louis Jourdan e o filme é um tanto longo demais, além de MacLaine
e Sinatra não convencerem como parisienses. Mesmo assim vale a pena assistir. 7/10
quinta-feira, 10 de maio de 2018
VÍTIMAS DA TORMENTA (Sciuscià), 1946
VÍTIMAS DA TORMENTA (Sciuscià),
1946 – Um dos marcos iniciais do neo-realismo, este drama de Vittorio De Sica é
um doloroso retrato do pós-guerra. Passado na devastada Roma mostra as
adversidades sofridas por dois meninos engraxates (shoeshines), da perda da
inocência até a tragédia final. Os meninos se envolvem com contrabandistas e
terminam em um sombrio reformatório de onde escapam mas já não são os mesmos
pequenos sonhadores do iluminado início do filme. Pasquale e Giuseppe, os
personagens principais, são interpretados por Franco Interlenghi e Rinaldo Smordoni,
crianças descobertas por De Sica e portanto atores não profissionais, se bem
que Interlenghi teve bem sucedida carreira como ator. Menos comovente que “Ladrões
de Bicicleta” e “Umberto D”, os filme seguintes de De Sica, este “Vítimas da
Tormenta” recebeu um Oscar Honorário para filme estrangeiro (ainda não havia a
categoria de Melhor Filme realizado no exterior). Fracasso na Itália, teve
grande repercussão na Europa e Estados Unidos, sendo recebido como obra-prima inicial
do neo-realismo. O autor Tristano Torelli inspirou-se no filme de De Sica para
criar, com desenhos de Renzo Barbieri, ‘Sciuscià’, a primeira história em
quadrinhos neo-realista e que no Brasil foi lançada pela Editora Vecchi, em
1950, com o título ‘Xuxá’. 9/10
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