A Atlântida reinava com as
rentáveis chanchadas no início da década de 50 quando Jorge Ileli decidiu remar
contra a correnteza e fazer cinema em outro gênero, o policial noir, então
ainda em voga. Ileli roterizou a história de autoria de Jorge Dória e a dirigiu
em parceria com Paulo Wanderley tendo como diretor assistente (José) Carlos Manga.
O resultado da reunião desse grupo foi o muito bom “Amei um Bicheiro” que aborda
o submundo do jogo do bicho, contravenção penal que mantinha a polícia ocupada
num tempo em que não se falava em tráfico de drogas e armas. José Lewgoy é o
banqueiro enganado por seu braço direito Cyl Farney que tem uma razão premente
para trair o chefe: a necessidade de dinheiro para operar sua esposa Eliana. A
queridinha da Atlântida não é a loura fatal da história, personagem que ficou
para a francesa Josette Bertal. A dupla Ileli-Wanderley desenvolve a história
magnificamente e a atmosfera noir criada pelo cinegrafista Amleto Daissé torna
o Rio amedrontador com suas ruas mal iluminadas, cenário perfeito para este
melodrama policial. Grande Otelo tem, segundo ele próprio considera, sua melhor
atuação em um filme e a sequência de sua morte é marcante. Num ótimo elenco que
conta ainda com Jece Valadão, Wilson Grey e Aurélio Teixeira em pequenos papeis
até a dramaticamente limitada Eliana rende mais do que o esperado. 8/10
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