O título nacional muito mais apropriado
que o original não deixa dúvidas quanto à intenção deste corajoso filme de Elia
Kazan, diretor que nunca conseguiu se livrar da pecha de covarde. Denunciando
sem meias palavras a máfia que controlava os trabalhadores no porto de Nova York,
“Sindicato de Ladrões” tocou em assunto que jamais o cinema havia tido a
ousadia de focalizar. A violência das organizações sindicais é mostrada num
filme que conseguiu capturar prodigiosamente a atmosfera sinistra da zona
portuária. Para isso foram fundamentais o extraordinário trabalho do cinegrafista
Boris Kauffman e a música incidental do compositor Leonard Bernstein, este
antecipando o que faria em sua segunda e final incursão no cinema com outra
obra-prima que foi “Amor, Sublime Amor
(West Side Story). Indicado para o Oscar em 12 categorias, recebeu oito das
principais estatuetas arrebatando ainda todos os demais prêmios
cinematográficos importantes daquele ano. Muito se falou que com este filme
Kazan tenha tentado justificar seus pecados, o que tem menor importância diante
da grandeza de “Sindicato de Ladrões”. Marlon Brando notável, assim como Lee J.
Cobb, num elenco impecável. 10/10
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
O SEGREDO DAS JÓIAS (The Asphalt Jungle), 1950
John Huston era, em 1950,
um conceituado diretor de cinema. Mesmo assim aceitou o desafio de dirigir um
filme no qual não havia um único astro para atrair o público. Quem poderia
suspeitar que Huston criaria um influente filme policial sem charmosos detetives
a la Humphrey Bogart ou vilões como Edward G. Robinson no elenco. Mais que
isso, atores pouco conhecidos interpretando, quase todos, tipos simplórios
tendo em comum a tendência para o fracasso, uma constante nos filmes de John Huston.
O assalto a uma joalheria não é o clímax do filme pois ocorre na metade da
película. Mesmo sendo admiravelmente filmada essa sequência tem menor importância
pois o objetivo maior do roteiro de Ben Meadow em parceria com Huston é estudar
cada um dos angustiados personagens antes e após o roubo. O título original faz
menção à decepção que Dix Handley (Sterling Hayden) tem com a cidade grande que
ele pretende abandonar voltando para suas origens rurais no Kentucky. Magnífica fotografia e raro exemplo
de interpretações perfeitas de todo o elenco, com destaque maior para Sam Jaffe
e Louis Calhern. Imperdível ver Marilyn Monroe antes da fama e Jean Hagen (a ‘Lina
Lamont’ de “Cantando na Chuva”) num papel sério. 9/10
terça-feira, 25 de outubro de 2016
OS ETERNOS DESCONHECIDOS (I Soliti Ignoti), 1958
A ‘Comédia à Italiana’ foi
um gênero que marcou época e que teve início com “Os Eternos Desconhecidos”,
filme de Mario Monicelli. Com nuances do movimento neo-realista, essa comédia
tem profundo caráter social com personagens identificados com pessoas simples.
Passa-se numa Roma inteiramente diferente da focalizada, por exemplo, em “La Dolce
Vita” e reúne um grupo de atrapalhados vigaristas sempre prontos a dar golpes. A
parte final até que se aproxima de “Rififi”, de Jules Dassin, do qual “Os Eternos
Desconhecidos” seria uma paródia, mas o pitoresco de cada tipo e os saborosamente
sarcásticos diálogos fazem do filme de Monicelli uma comédia incomum. Um genial
achado do roteiro é o personagem de Totó que reverencia toda a comicidade que o
cinema italiano criou anteriormente. Traz o grande ator dramático Vittorio Gassman
fazendo rir a cada fala sua e ainda Memmo Carotenutto e Marcello Mastroianni,
este menos engraçado. Presença da bela Rossana Rory e das então jovens
promessas Claudia Cardinalle e Carla Gravina. “Os Eternos Desconhecidos”
concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, deu a Gassman o Nastri d’Argento
de Melhor Ator e teve uma sequência intitulada “O Golpe dos Eternos
Desconhecidos”, dirigida por Nanni Loy, com quase todo o mesmo elenco em 1959. Em
1985 foi filmado “Uma Dupla Irreverente” (I Soliti Ignoti Vent’Anni Dopo), com Mastroianni
e Tiberio Murgia. O filme de Monicelli é uma comédia clássica que a cada
revisão se mostra mais engraçada. 9/10
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
SPARTACUS, 1960
Hollywood passou toda a
década de 50 inventando fórmulas para combater a televisão que lhe roubava
público. Os superespetáculos tornaram-se rotina com suas telas e elencos imensos
e histórias quase sempre enfadonhas. Em 1960 “Spartacus” mostrou que
superproduções também podiam resultar em excelentes filmes. Para isso Kirk
Douglas provou ser o homem mais corajoso do cinema norte-americano, contratando
o ‘proibido’ Dalton Trumbo e entregando a direção a um jovem diretor de 31 anos,
Stanley Kubrick. Ao invés de se reportar às clássicas histórias bíblicas,
“Spartacus” levou para as telas uma questão crucial no país, a dos direitos
humanos que a partir de então ganharia cada vez mais corpo no cinema. Diálogos
afiadíssimos de Trumbo, história comovente, cinematografia portentosa de
Russell Metty com sequências de batalhas inimagináveis e nunca igualadas e um
elenco com o brilho de Laurence Olivier, Charles Laughton e Peter Ustinov. A
pobre Academia teve a árdua tarefa de decidir a qual dos três dar o prêmio de
Melhor ator Coadjuvante (Ustinov). Mesmo ofuscado pela overdose de talento do
trio britânico, Kirk Douglas foi um Spartacus vigoroso, convincente e
emocionante como escravo-gladiador-líder. Desse esplêndido filme perdoa-se até
o forçado final. 10/10
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
O TERCEIRO HOMEM (The Third Man), 1949
Em 1999 o British Film
Institute (BFI) promoveu uma enquete com mil pessoas ligadas ao universo
cinematográfico para eleger o melhor filme inglês de todos os tempos. O grande
vencedor, à frente de “Lawrence da Arábia”, “Desencanto” e “A Ponte do Rio Kwai”,
foi “O Terceiro Homem”, suspense noir dirigido por Carol Reed em 1949 com
história e roteiro de Graham Greene. A produção do próprio Reed em parceria com
Alexander Korda e David O. Selznick recebeu a Palma de Ouro do Festival de
Cannes, o BAFTA de melhor filme inglês e um Oscar de Melhor Fotografia em Preto
e Branco. Foi o filme escolhido por Martin Scorsese para sua tese de formatura
na Escola de Cinema da Universidade de Nova York. História de mistério passada
no pós-II Guerra Mundial como tantas outras, “O Terceiro Homem” tornou-se um inesperado
e instantâneo clássico devido ao estranho fascínio que o filme exerce, mesmo
visto quase 70 anos depois de lançado. A extraordinária cinematografia
expressionista mostrando uma Viena sombria e em parte destruída pela guerra, o
roteiro inescrutável (que Hitchcock sempre perseguiu), a invulgar música de
Anton Karas e um notável elenco internacional completam a direção segura e
inventiva de Carol Reed. Mas é Orson Welles nos meros dez minutos em que atua
como o cínico e inescrupuloso Harry Lime, inesquecível na desesperada fuga
pelas galerias de esgoto às margens do Danúbio, a força maior desta reverenciada
obra-prima. 10/10
sábado, 15 de outubro de 2016
CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE (Pillow Talk), 1959
Solenemente ignorada pela
sisuda crítica que não consegue rir, “Confidências à Meia-Noite” é uma das mais
perfeitas comédias românticas sofisticadas produzidas pelo cinema
norte-americano. Reuniu pela primeira vez Doris Day e Rock Hudson que, a partir
de então, se tornariam campeões de bilheteria (ela por quatro anos em primeiro
lugar, façanha somente atingida por Shirley Temple). Tony Randall também no
elenco estaria junto a Doris e Tony nos filmes seguintes da dupla. Dirigido por
Michael Gordon em dia de Billy Wilder, com premiado roteiro de Russel Rouse e Stanley
Shapiro, “Pillow Talk” é um filme repleto de situações tão picantes quanto
hilariantes numa ‘guerra de sexos’ irresistível. O ricaço Tony Randall quer
namorar a decoradora Doris e esta tem uma linha telefônica dividida com o
notório compositor e conquistador Rock Hudson. Este quer fazer de Doris mais
uma de suas conquistas mas se dá mal porque acaba se apaixonando por ela. E
quem não se apaixonaria? Tudo funciona neste filme que mostra Doris Day
entrando na fase que levou o público a admirá-la ainda mais e o excelente Rock
Hudson fazer piada com a própria sexualidade. Telma Ritter rouba o filme e até
Nick Adams faz rir. A canção ‘Pillow Talk’ fez enorme sucesso, assim como o
filme. 10/10
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