Vittorio De Sica, realizador
de inúmeros grandes filmes renegou esta comédia mesmo sendo a mais engraçada
que tenha filmado, incluídas aquelas com Sofia & Mastroianni. Peter Sellers
no auge de sua carreira, ele que sempre gostou de interpretar diversos
personagens dentro da mesma história vive Aldo Vanucci (a ‘Raposa’ do título),
um mestre dos disfarces. Para desembarcar na Itália um enorme carregamento de
ouro que ele Vanucci e sua desastrada quadrilha roubaram no Cairo, ele se
transforma em ‘Federico Fabrizzi’, diretor de cinema. O decadente ator
norte-americano Tony Powell (Victor Mature) é o astro do filme numa hilariante
autoparódia. Ninguém poderia imaginar como Mature se tornaria engraçado pelas
mãos de De Sica, muito, mas muito mais que o próprio Peter Sellers, de quem
rouba o filme. Baseado em texto original escrito por Neil Simon e que contou
ainda com a ajuda de Cesare Zavattini no roteiro, “O Fino da Vigarice” só não é
mais divertida porque De Sica se perde um pouco quando a comédia busca ação ao
invés dos diálogos sarcásticos. Em uma das melhores tiradas Mature pergunta o que
é neo-realismo e a resposta é: ‘filmar com pouco dinheiro’. Irreverência maior
sobra para críticos que enxergam arte onde ela não existe durante a exibição do
filme de Federico Fellini, ops, digo Fabrizzi. Akim Tamiroff e Lando Buzzanca no
elenco e uma ponta de De Sica. 8/10
quinta-feira, 30 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
SONHOS DE UM SEDUTOR (Play it Again, Sam), 1972
Woody Allen esta comédia
para o teatro e depois ele mesmo roteirizou para o cinema e onde a protagonizou.
Curiosamente Allen deixou de dirigir este filme que iria ser determinante em
sua carreira pois ele nunca mais abandonaria o tipo neurótico e apaixonado por
cinema que criou. Quem dirigiu foi Herbert Ross mas toda a comédia é puro woodyalleniana
contando como Allan Felix (Woody Allen), um crítico de cinema que já assistiu dezenas
de vezes “Casablanca”, imagina a presença de Humphrey Bogart (Jerry Lacy) para
ajudá-lo a resolver sua intrincada vida amorosa. Felix foi abandonado pela mulher
(Susan Anspach) e se envolve com Linda (Diane Keaton), a esposa de seu melhor
amigo (Tony Roberts), tudo sob medida para que ele, num final que parodia seu
filme preferido, possa dizer a Linda as frases que Bogart/Dick disse a Ingrid
Bergman/Ilsa ao vê-la partir de Casablanca. Woody e Allen que então viviam
juntos repetiram os personagens que criaram na Broadway e fazem rir o tempo
todo, ainda que Woody seja mais engraçado com o que fale que tentando de modo
histriônico a comicidade física. O ‘Bogart’ deste filme nem sempre tem o ‘timing’
e as falas ideais mas nada disso impedem que “Sonhos de um Sedutor” seja a
melhor das comédias nostálgicas. Imperdível para os fãs de “Casablanca’, para
os fãs de cinema em geral e para os fãs ou não de Allen. 9/10
quinta-feira, 16 de abril de 2020
LÚCIA McCARTNEY, UMA GAROTA DE PROGRAMA, 1971
Não fosse chamado de ‘Cinema
Novo’, este movimento bem poderia ser denominado ‘Cinema do Oba-Oba’. Com uma
ideia nem sempre boa na cabeça, uma câmera na mão, alguns poucos atores e
muitos amigos e... vamos fazer um filme. Rubens Fonseca havia iniciado sua
brilhante trajetória como contista e escritor e ‘Lúcia McCartney’ era um de
seus contos mais conhecidos. Foi esse conto que David Neves decidiu filmar com
roteiro do próprio autor. Lúcia McCartney (Adriana Prieto) é uma garota de
programa que, ao som de canções dos Beatles conhece um industrial paulista por quem
se apaixona loucamente. Ele a deixa e o conto é emendado com outro chamado ‘A
História de F.A.’ no qual um advogado (Paulo Villaça) resgata uma prostituta a
pedido de um diplomata. O problema é que nada funciona na história confusa e
insossa. Para ajudar Albino Pinheiro, que foi muita coisa na vida, menos ator,
e inúmeros convidados com participações inoportunas completam o filme que não
perde uma sequência sequer para lembrar que o diretor é fã de Jean-Luc Godard. Adriana
Prieto, falecida aos 24 anos é bonitinha e só e Paulo Villaça é a melhor coisa
da película, ainda que repetindo o tipo característico de cafajeste que sempre
levou à tela. A cena de luta é risível e tampe ou ouvidos para partes da trilha
musical. 3/10
quinta-feira, 9 de abril de 2020
AS DIABÓLICAS (Les Diaboliques), 1955
Alfred Hitchcock bem queria
filmar o livro “Celle qui n’était plus”, mas Henri-Georges Clouzot chegou antes
e realizou o suspense mais hitchcockiano do cinema. Em quase duas horas que não
permitem ao espectador respirar direito, Clouzot conta como Christina (Vera
Clouzot) e Nicole (Simone Signoret), duas professoras amigas, decidem
assassinar Michel (Paul Meurisse), o violento e despótico marido de Christina.
Após consumar o assassinato, uma série de situações estranhas passam a ocorrer
o que leva Christina ao desespero até que ela não mais suporte o medo e a
culpa. Como o próprio Clouzot pede ao final de “As Diabólicas”, mais não se
pode dizer sobre o desfecho deste filme, desfecho que é decepcionante e
incondizente com o admirável desenvolvimento ao longo do thriller. Poucas vezes
a morbidez atingiu tamanho grau e é uma pena que o roteiro dissipe o
lesbianismo que existe no livro e é levemente insinuado no filme. Afinal era
1955 ainda. Simone Signoret é magnífica e Paul Meurisse excelente, enquanto a
atriz brasileira Vera Clouzot quase coloca a perder o trabalho e dedicação do
esposo-diretor que se esforça ao extremo para ressaltar sua participação. Sucesso
de público e crítica, este é um dos grandes filmes de suspense que o Mestre
Alfred nunca cansava de elogiar e que foi muito imitado. Hollywood fez uma
versão com Sharon Stone. 9/10
sexta-feira, 3 de abril de 2020
KING KONG (King Kong), 1933
Nos tempos em que o cinema
se especializou em assustar o espectador com criaturas, vampiros e monstros
diversos, um filme conquistou o público, a crítica e até hoje se conserva como
o clássico dos clássicos do gênero. Ele é “King Kong” que, mesmo com todas as imitações
e refilmagens caríssimas que se seguiram e a moderna tecnologia cinematográfica
conserva-se insuperável. Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack co-dirigiram e
os efeitos especiais da equipe de Willis O’Brien permanecem surpreendentes ao
contar como um gorila gigantesco é aprisionado nas Índias Orientais e levado
por um delirante produtor de filmes para Nova York. Lá seria exibido como a ‘8.ª
Maravilha do Mundo’, mas acontece que o monstro se apaixona por uma jovem atriz,
se enraivece com o ambiente à sua volta, leva a moça consigo e com ela escala o
Empire States Building. Do ponto mais alto do edifício o monstro é morto não
sem antes demonstrar a afeição pela bela. A imagem da sequência final, no recém-inaugurado
Empire States é uma das mais marcantes do século e da história do cinema neste
filme que emociona geração após geração. Lançado no pico da recessão, “King
Kong” foi sucesso absoluto nos cinemas de todo o mundo. Fay Wray, Robert
Armstrong e Bruce Cabot são os intérpretes principais coadjuvando o cativante
gorila. A trilha musical de Max Steiner é simplesmente magistral. 10/10
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