Baseada em texto de John O’Hara
e musicada por Richard Rodgers e Lorenz Hart, a peça ‘Pal Joey’ marcou época na
Broadway em 1940. Mas teve que esperar muito para chegar ao cinema porque a
censura de então jamais permitiria que fosse filmada uma história atrevida como
aquela. Um cantor oportunista namora uma corista e mantém caso com uma rica mulher
casada, ex-stripper, que lhe financia uma boate. As letras irreverentes e
repletas de duplo sentido de Lorenz Hart eram o maior entrave para passar pelo
Código Hays. Em 1957 um roteiro bem mais leve e músicas com letras alteradas
conseguiram aprovação e George Sidney dirigiu ‘Pal Joey’ que aqui se chamou “Meus
Dois Carinhos”. Somente Frank Sinatra poderia interpretar Joey, o calhorda mulherengo,
e Rita Hayworth fez a ricaça (agora viúva) e Kim Novak a jovem dançarina. A
crítica que conhecia o picante original não gostou do resultado suavizado,
ainda mais com o forçado final feliz. Mas como não gostar de ver Sinatra no
auge de sua carreira como ator e cantor interpretar clássicos maravilhosos como
“Bewitched”, “The Lady is a Tramp”, “I Could Write a Book” e mais meia dúzia de
igual quilate; ou se deslumbrar com Rita Hayworth ainda bonita, sensual e
charmosa (dublada) em “Bewitched”. Esquecemos até o desastre que é a
interpretação amadora de Kim Novak, linda mas intimidada pelas duas lendas do
cinema. Belo e menosprezado musical. 8/10
domingo, 30 de dezembro de 2018
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
UM CAMINHO PARA DOIS (Two for the Road), 1967
Stanley Donen, dos memoráveis
musicais da MGM, dirigiu esta comédia que mostra dez anos da vida de um casal
norte-americano. O tempo todo na estrada, desde o primeiro encontro, o
arquiteto Mark (Albert Finney) e Joanna (Audrey Hepburn) passam de caronas ao
primeiro simples automóvel até ascender socialmente e viajarem pela Europa numa
reluzente Mercedes-Benz. Intermináveis flash-backs confundem um pouco o
espectador na nada linear narrativa contando como a relação entre Mark e Joanna
se deteriora ao ponto de ambos cometerem adultério. Finney não é engraçado e
Audrey, ainda que não seja uma comediante, carrega o filme esplendidamente e
com elegância, desta vez vestida pelos exagerados estilistas favoritos da época
(Mary Quant e Paco Rabane). Aqueles que poderiam ser os momentos mais divertidos,
quando Mark e Joana viajam com um típico casal norte-americano com sua
irritante filhinha, transformam-se em uma grotesca caricatura. Porém as
dificuldades passadas por Mark e Joanna a bordo do simpático MG verde são
saborosos. Audrey desta vez tem um partner mais jovem que ela (Finney 30 anos,
ela 37) e entre os coadjuvantes estão Claude Dauphin, Nadia Gray e Jacqueline
Bisset em seu primeiro filme. Este luminoso e colorido ‘road movie’ tem a música
eficiente mas menos inspirada de Henry Mancini e termina com o casal se
tratando por ‘bitch’ e ‘bastard’. 7/10
sábado, 15 de dezembro de 2018
AS QUATRO CONFISSÕES (The Outrage), 1964
Não foi o sucesso de “Sete
Homens e um Destino” (1960), inspirado em “Os Sete Samurais” de Akira Kurosawa,
que levou Martin Ritt a filmar nova versão de outro filme do diretor japonês,
desta vez “Rashomon”. Antes, em 1959 a inglesa Claire Bloom atuara na Broadway
em uma adaptação de “Rashomon” e foi essa adaptação que Ritt decidiu filmar pensando
em Marlon Brando como o bandido ‘Juan Carrasco’. Brando desistiu e Paul Newman
que sempre rivalizou com Brando quis mostrar que podia interpretar um mexicano,
mesmo com seus famosos olhos azuis. Carrasco (Newman) é condenado à morte por
haver assassinado um ex-Coronel confederado, o aristocrático Wakefield (Laurence
Harvey) e estuprado a esposa deste, Nina (Claire Bloom). Contada em flashbacks
a história muda segundo as versões do próprio Carrasco, de Nina, de Wakefield
(relatada por um velho índio) e por fim de um garimpeiro (Howard Da Silva) que
encontrou o corpo de Wakefield. O que se discute no filme é a subjetividade da
verdade e sua mutabilidade dependendo do enfoque que a ela se dá. O western de
Ritt consegue ser sério e interessante até descambar para a quase comédia na
parte final. Newman com voz e aparência bizarros se esforça para convencer como
mexicano. Mais naturais, Claire Bloom e Harvey transformam seus personagens a
cada versão da história. 6/10
Aparecem com Edward G. Robinson Howard Da Silva (à Esquerda) e William Shatner (à direita).
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
RIFIFI (Du Rififi Chez les Hommes), 1955
Vítima do Macarthismo, o
diretor Jules Dassin imigrou para a França onde com pouco dinheiro realizou um
filme que se tornou célebre por diversos motivos: chegou a ser proibido em
alguns lugares por ser considerado uma aula prática de como cometer um roubo
perfeito; sua canção-tema fez sucesso no mundo todo (no Brasil foi gravada por Nora
Ney); e virou modelo de inúmeros filmes sobre o mesmo tema, ainda que tenha
pontos em comum com “O Segredo das Jóias” que John Huston dirigiu em 1951.
Quatro ladrões, liderados pelo ex-condenado Stephanois (Jean Servais) roubam
uma joalheria em Paris mas a ação criminosa esbarra nas ramificações do
submundo parisiense e uma série de mortes ocorre na disputa pelo produto das
joias roubadas. Toda a sequência do roubo, que na tela dura 30 minutos, foi
filmada sem diálogos e boa parte sem música incidental com Dassin mantendo o
suspense e fazendo admiravelmente o espectador sentir a extenuação física do
quarteto. Concretizado o golpe intensifica-se o suspense com o confronto entre Stephanois
e outros bandidos, tensão que só termina com a palavra ‘Fim’ num filme que
mostra sombriamente a ‘Cidade-Luz’. Jean Servais magnífico como o sofrido velho
marginal e o exibicionista Jules Dassin interpreta um dos bandidos contrastando
com a vigorosa atuação de Servais. Magali Noël dança e canta a canção ‘Rififi’
de Jacques LaRue. 9/10
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
UM SÁBADO VIOLENTO (Violent Saturday), 1955
São tantos os ótimos trabalhos
de Richard Fleischer que se torna obrigatório dar atenção quando seu nome
assina algum filme. Mais ainda se for um policial dirigido por ele que nos deu
o clássico ‘B’ “Rumo ao Inferno” (1952). Porém se no elenco encontramos os
nomes de Lee Marvin e Ernest Borgnine, aí então é garantia de grandes atuações.
Na pequena Brandenville (Arizona), um trio de ladrões decide assaltar o banco
local, detalhando cada passo da ação. Imprevistos impedem o sucesso do assalto e
causando essas eventualidades estão alguns problemáticos habitantes da cidadezinha,
uma espécie de Peyton Place. O roteiro de Sydney Boehm é repleto de dramas
pessoais e a paz de Brandenville esconde alcoolismo, voyeurismo, ninfomania e
cleptomania, lembrando “Veludo Azul”. Mas “Um Sábado Violento” é um policial e
o terço final é pura emoção, oportunidade para um homem que não foi à guerra
(Victor Mature) comportar-se como herói, para alegria do filho, quando enfrenta
o trio de assaltantes. Isto com a ajuda do ‘Amish’ Ernest Borgnine que resiste
até onde pode para não usar de violência. Lee Marvin brilha intensamente e
rouba não só o banco mas todas as sequências nas quais participa, até ser
abatido por Ernest Borgnine igualmente esplêndido na curta participação.
Richard Flescher dá uma aula de como usar o Cinemascope. 8/10
Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Beto Nista.
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