Este musical encantador só não
enterneceu os corações de alguns críticos como os famosos Pauline Kael e Bosley
Crowther. Azar deles... O diretor Robert Wise com maestria dosou o
sentimentalismo que não poderia faltar na história (real) do Barão von Trapp,
viúvo com sete filhos que se casa com uma noviça exatamente quando ocorre o ‘Anchluss’,
a anexação da Austria pela Alemanha em 1938. Com quase três horas de duração “A
Noviça Rebelde” poderia ser uma monótona sucessão das canções de Richard
Rodgers e Oscar Hammerstein II cantadas nas belas paisagens austríacas, mas não
é o que acontece. Wise desenvolve esplendidamente o roteiro de Ernest Lehman
baseado no livro escrito pela própria Maria von Trapp e, coisa rara em um
musical, há até mesmo um momento de suspense quando a família escapa dos
nazistas graças à providencial ajuda das... freiras da abadia. Consta ser este
filme o segundo de todos os tempos em número de ingressos vendidos, perdendo
apenas para “O Vento Levou”. Nada mais justo pois é divertimento para toda
família, com canções conhecidas (o álbum ficou quatro anos entre os mais
vendidos) e só não é o melhor musical de todos os tempos porque o próprio Wise realizou
“West Side Story” poucos anos antes. Se falta a Julie Andrews maior talento
dramático sobra-lhe graça, simpatia e musicalidade. Ótimo Richard Haydn como o sarcástico
empresário. 10/10
segunda-feira, 19 de março de 2018
sexta-feira, 9 de março de 2018
O TESOURO DE SIERRA MADRE (The Treasure of the Sierra Madre), 1948
Os encontros entre John
Huston e Humphrey Bogart invariavelmente resultavam em grandes filmes e, no
caso desta aventura em busca de ouro nas montanhas mexicanas, o cinema ganhou
uma obra-prima. Bogart, que nas telas nunca foi exatamente um modelo de herói
com os tipos cínicos que interpretava, vive um personagem dominado pela cobiça
que é levado à loucura numa interpretação magistral que, claro, não agradou ao
público que preferia vê-lo como Rick Blaine ou Sam Spade. Bogart é um vagabundo
norte-americano que perambula pelo México e que se une a um velho falastrão (Walter
Huston) e um jovem (Tim Holt) formando uma expedição que é parcialmente bem
sucedida. Huston que não gostava de psicologismos em seus filmes faz de “O
Tesouro de Sierra Madre” uma excepcional análise psicológica do personagem
principal mostrando que a paranoia é o ponto final da cupidez. Baseado no romance
do misterioso autor b. Traven, Huston, que também escreveu o roteiro, realizou
um filme em que a tensão aumenta a cada minuto com ótima fotografia em preto e
branco. Max Steiner com sua música intrusiva tenta estragar o filme de Huston
que ganhou prêmios Oscar de Direção e Roteiro, bem como seu pai Walter Huston
(Ator Coadjuvante). Excelentes Tim Holt e Bruce Bennett e Alfonso Bedoya
inesquecível. 10/10
quarta-feira, 7 de março de 2018
ORFEU NEGRO (Orphée Noir), 1959
Quando ainda havia poesia
nos morros cariocas Vinicius de Morais buscou inspiração na mitologia grega e
escreveu a peça “Orfeu da Conceição” contando o amor trágico de Orfeu e
Eurídice. O francês Marcel Camus adaptou a obra de Vinicius mantendo algumas das
belas canções que Tom Jobim e Luís Bonfá compuseram para a peça. Camus que
gostava de exotismos e ambientou seu primeiro filme nos arrozais do Vietnã
jamais poderia imaginar que “Orfeu Negro” recebesse a Palma de Ouro em Cannes,
o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. A história transcorre
numa favela que se prepara para o Carnaval e Orfeu (Breno Mello) que está noivo
de Mira (Lourdes de Oliveira) se apaixona por Eurídice (Marpessa Dawn).
Enciumada Mira persegue Eurídice, esta acaba morta acidentalmente e ao final
Mira provoca a morte de Orfeu. Em meio a música e dança incessantes com os
personagens se revezando ao gritar ‘Orfeeeeu’, o filme se mostra em alguns
momentos de um amadorismo constrangedor. A intenção única parece ser a de
mostrar ao mundo a alegria e beleza do Rio de Janeiro e seus humildes
habitantes. O ex-futebolista Breno Mello tem bom desempenho mas o destaque
maior fica com Lourdes de Oliveira, enquanto Léa Garcia é sempre excessiva. Em
meio ao elenco de brasileiros está a bonita norte-americana Marpessa Dawn.
Camus nunca mais repetiu o mesmo sucesso com outro filme e só Léa Garcia fez
boa carreira artística. 6/10
domingo, 4 de março de 2018
NÚPCIAS DE ESCÂNDALO (The Philadelphia Story), 1940
Alguma outra atriz que não
Katharine Hepburn poderia ter como coadjuvantes James Stewart e Cary Grant?
Certamente não, especialmente nesta comédia em que Kate Hepburn tem um dos
melhores desempenhos de sua brilhante carreira ofuscando os dois atores. Ela é
Tracy Lord, destacado membro do high society e que vai se casar pela segunda
vez, num matrimônio em que tudo acontece. Vivaz, esnobe e arrogante, Tracy
torna-se uma megera domada no namoro com o jornalista Mike (Stewart) e nas
brigas com o ex-marido (Grant). A comédia de George Cukor tem ótimos momentos,
sempre com Katharine em evidência, nas discussões sobre as classes sociais e
direitos à privacidade, momentos esses que dão lugar a situações menos
engraçadas nas raras vezes em que a atriz sai de cena. O filme é todo de Kate,
ela que então se afastou por dois anos de Hollywood e viveu Tracy Lord na
Broadway por quase 500 vezes, adquirindo os direitos da peça para o cinema.
Kate tem desempenho digno de prêmio Oscar para o qual foi indicada e, por falar
em Oscar, James Stewart foi escolhido o Melhor Ator num dos maiores absurdos da
Academia. Nesse ano ninguém mais merecia o prêmio que Henry Fonda, o Tom Joad
de “Vinhas da Ira”. “Núpcias de Escândalo” fez enorme sucesso de público e
crítica e foi refilmado em 1955 como “Alta Sociedade”. 8/10
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