quinta-feira, 30 de novembro de 2017

UMA AVENTURA NA ÁFRICA (The African Queen), 1951


Filmado metade dele em penosas condições no Congo e em Uganda, com a quase totalidade da equipe vitimada por variados tipos de doenças e com a improvável reunião de Humphrey Bogart com Katharine Hepburn sob a direção de John Huston, “Uma Aventura na África” resultou num filme arrebatador. Katharine como uma missionária que se vê obrigada a fugir dos alemães navegando no ‘African Queen’, o velho barco de 30 pés e mais de 30 anos de vida, ao lado do rude e beberrão Bogart, dono do barco. Com a ação se passando no início da 1.a Grande Guerra, enfrentam todo tipo de perigo, desde corredeiras, jacarés, sanguessugas, mosquitos, chuvas torrenciais e os alemães, claro. Decidem afinal que o ‘African Queen’ deve colidir e torpedear um canhoneiro germânico. Em meio a isso tudo nasce um romance singelo que até parece que Kate e Bogey se amavam de verdade fora da tela. A empatia entre ambos é enternecedora, ela delicada e impetuosa e ele em grande atuação fora do estereótipo que marcou sua carreira. A direção de Huston é notável, ainda mais quando se sabe que muitas sequências foram filmadas em estúdio sem que o espectador se dê conta disso e também da história pouco plausível ainda que baseada em fato real. 9/10





quinta-feira, 23 de novembro de 2017

QUANDO É PRECISO SER HOMEM (Soldier Blue), 1970


A versão original deste western continha 135 minutos de duração, versão reduzida para 112 minutos tendo sido excluídas inúmeras sequências de extremada violência. Ainda assim o filme de Ralph Nelson é mais lembrado por ser um dos mais violentos faroestes revisionistas feitos sob os ecos da guerra do Vietnã, cujas atrocidades inspiraram o diretor segundo ele confessou. Iniciando com a dizimação por parte dos Cheyennes de um pelotão de 21 soldados o filme termina com um horripilante massacre de centenas de índios, a maior parte mulheres e crianças, citando a carnificina ocorrida em Sand Creek em 1864. Entre esses dois momentos de ação transcorre uma anêmica história de amor entre uma mulher branca que viveu entre os Cheyennes e um casto soldado.  “Quando É Preciso Ser Homem” é não só violento, mas tem também forte dose de erotismo com Candice Bergen semidespida demonstrando que sua beleza é inversamente proporcional a seu talento como atriz. Fraco também é Peter Strauss que interpreta o soldado que consegue por algum tempo resistir aos encantos de Candice. Donald Pleasence menos psicótico que em outros filmes e John Anderson é o ‘Custer’ da história. Ralph Nelson comprova que ser simpático aos índios, denunciar um genocídio e exacerbar nas cenas de selvageria não são suficientes para se fazer um bom filme. 5/10





sexta-feira, 17 de novembro de 2017

INFERNO 17 (Stalag 17), 1953


Após assistir a peça na Broadway Billy Wilder pediu à Paramount que adquirisse os direitos da montagem de “Stalag 17” para o cinema. O estúdio queria Charlton Heston no papel principal mas Wilder não pretendia ninguém heroico para interpretar o cínico, pragmático e nada altruísta sargento prisioneiro. William Holden foi o nome imposto pelo diretor, a contragosto do estúdio. O país ainda estava aturdido com o Macarthismo e Wilder praticamente refez todo o texto teatral para demonstrar o quanto se injustiçou homens de bem em nome de um pseudo americanismo. “Inferno 17” fez enorme sucesso e deu um imerecido Oscar de Melhor Ator a Bill Holden, certamente compensação por seu trabalho em “Crepúsculo dos Deuses”. Ainda que não se alinhe entre os muitos excepcionais filmes de Wilder, “Inferno 17” é excelente e só não é melhor porque não conseguiu ele o equilíbrio certo entre drama e comédia, no que aliás era mestre. Os pretensos momentos engraçados são longos demais e Robert Strauss (Animal) e Harvey Lembeck (Shapiro) põem quase tudo a perder. Negativo também é mostrar os alemães como idiotizados e mesmo assim Sig Ruman é quem faz rir e Otto Preminger está impressionante como o cruel comandante do campo. A sequência da revelação do verdadeiro espião é primorosa e inesquecível. 8/10




quinta-feira, 16 de novembro de 2017

SABES O QUE QUERO (The Girl Can't Help It), 1956


Quando o rock ‘n’ roll explodiu claro que Hollywood tentou se aproveitar da novidade. Quase sempre com filmes sem imaginação e em preto e branco até que a Fox colocou na tela, em Cinemascope e Technicolor alguns dos grandes pioneiros do rock (e outros nem tanto). Que festa ver a energia de Little Richard, a classe de Fats Domino, a suavidade da voz de Tony Williams com os Platters! A história deste musical não é nenhuma preciosidade, mais servindo, como fazia nosso cinema nos anos 50, para apresentar o vasto número de cantores e conjuntos de rock. A diferença é que a direção de Frank Tashlin dá o ritmo ideal e cria gags ótimas entre uma canção e outra. Mas mesmo que “Sabes o que Quero” não fosse uma agradável comédia ela seria imperdível pela presença notável de Julie London interpretando “Cry me a River”. Tom Ewell é o agente que levou Julie London ao sucesso e o gângster Edmond O’Brien quer que Tom repita a estratégia com sua namorada Jayne Mansfield. Mas a exuberante Jayne não sabe cantar e ainda se apaixona por Tom Ewell (afinal o que ele tem? Marilyn, Jayne...). Edmond O’Brien fazendo comédia é uma piada e Jayne Mansfield está perfeita na imitação da ‘dumb blonde’ (loura burra) que Marilyn Monroe eternizou. Filmado antes do escândalo ‘Payola’, o filme mostra a força das juke-boxes nos anos 50. 8/10





segunda-feira, 13 de novembro de 2017

SUPREMA CONQUISTA (Twentieth Century), 1934


Após o magnífico “Scarface” e outros bons filmes, Howard Hawks era o mais promissor entre os diretores norte-americanos, mas foi com “Suprema Conquista”, realizado em 1934, que Hawks se tornou de fato um diretor notável. Não que este seu filme seja a obra-prima que Peter Bogdanovich afirma ser, mas sim porque com ele Howard Hawks inventou o gênero ‘screwball comedy’ ou comédia maluca que tanto sucesso viria a fazer nos anos seguintes. Caracterizando-se por um ritmo frenético e diálogos tão inteligentes quanto espirituosos este tipo de comédia só funciona bem com atores atuando próximos da perfeição, como foi o caso de John Barrymore e Carole Lombard. Ele como um produtor teatral possessivo, egocêntrico e literalmente teatral em seus gestos e discurso; ela como a atriz que alcança o sucesso (no cinema) após ser burilada por ele para os palcos. ‘Twentieth Century’ é o nome do famoso trem que ligava Nova York a Chicago em inacreditáveis 16 horas. Com grande parte da ação do filme se passando dentro do tem em movimento é ele uma metáfora para o ritmo vertiginoso dos diálogos de Ben Hecht e Charles MacArthur (Preston Sturges colaborou sem ser creditado) que exageram no uso de nomes mais ligados ao meio artístico. Já decadente Barrymore brilha intensamente e Carole Lombard deixa a impressão de uma perda irreparável para o cinema com sua morte aos 33 anos de idade. 8/10





sexta-feira, 10 de novembro de 2017

SEMENTES DE VIOLÊNCIA (Blackboard Jungle), 1955


Mais lembrado pelo pioneirismo em utilizar um rock’n’roll (“Rock Around the Clock”) em sua trilha sonora, ainda que somente durante os créditos, este drama de Richard Brooks é também o primeiro filme a abordar diretamente os conflitos internos de uma escola norte-americana. A ‘North Manual High School’, em Nova York, é onde o jovem professor Glenn Ford consegue se empregar após dar baixa da U.S. Navy. O que encontra nessa escola o faz comparar com as batalhas durante a II Guerra tal a disposição de uma turma de alunos em destruir seus ideais de professor. Sarcasmo nas respostas e irreverência nas atitudes não são nada perto das agressões e prejuízo à vida pessoal do mestre. A primeira metade deste filme é primorosa na apresentação dos problemas que a parte final se apressa em solucionar de forma demasiadamente inconvincente. Comum quando o assunto é rebeldia de adolescentes é o uso de atores que há tempos deixaram de ser teens, caso de Sidney Poitier, Vic Morrow e Paul Mazurski, então respectivamente com 27, 25 e 24 anos. Mesmo irregular este é um filme importante por denunciar o sistema escolar e dura vida dos professores que ganhavam dois dólares por aula. O sempre menosprezado Glenn Ford tem uma de suas mais brilhantes atuações e Sidney Poitier não deixava nenhuma dúvida sobre o grande ator que seria. 7/10 Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo José Flávio Mantoani.





terça-feira, 7 de novembro de 2017

SE MEU APARTAMENTO FALASSE (The Apartment), 1960


Faltava ao maior provocador de Hollywood penetrar nas mazelas do mundo corporativo novaiorquino e Billy Wilder fez isso ao contar a história de um funcionário que, para subir na empresa, emprestava seu apartamento a seus superiores. C.C. Baxter (Jack Lemmon) tem ascensão meteórica na gigantesca seguradora em que trabalha e a grande promoção se dá quando um alto executivo (Fred MacMurray) usa o apartamento de Baxter para encontros. Para lá ele leva a ascensorista (Shirley MacLaine) de quem Baxter gosta, formando-se uma confusão que por pouco não termina em tragédia. “Se Meu Apartamento Falasse” começa como comédia e aos poucos se transforma em envolvente drama pelas mãos de Wilder que era mestre em destruir a falsa moralidade com seu agudo cinismo. Shirley MacLaine, Lemmon e MacMurray colaboram decisivamente com atuações impecáveis, mas o mérito maior é de Billy Wilder que foi premiado com os dois Oscars mais importantes do ano: Melhor Diretor e Melhor Roteiro (em parceria com I.A.L. Diamond), além de Melhor Filme do Ano. A Academia se penitenciou pela injustiça cometida com “Quanto Mais Quente Melhor” e coroou a extraordinária sequência de grandes películas de Wilder na década. Claro que a Legião de Decência detestou este filme que foi uma das maiores bilheterias do ano. 9/10