Filmes de tribunais existem
muitos, mas nenhum tão engraçadamente mordaz quanto “A Costela de Adão”. Esta inteligente
comédia trata de assunto sério que pelas mãos de Ruth Gordon-Garson Kanin se
torna hilariante, mais ainda porque reúne o casal de atores que melhor que
ninguém expôs na tela as batalhas do sexo de variados modos. No pós-guerra pode-se
dizer que o feminismo engatinhava timidamente e George Cukor deu uma monumental
contribuição para o avanço dos direitos da mulher com este filme bem sucedido
comercial e artisticamente. E nem poderia ser diferente com um elenco que reúne
Kate-Tracy coadjuvados por Judy Holliday, Jean Hagen e Tom Ewell num triângulo
amoroso que termina em atrapalhada tentativa de assassinato pela enciumada
esposa. Tracy é o promotor que deve condenar Judy e Hepburn é a advogada que
quer que a Lei veja homens e mulheres do mesmo modo, direitos iguais. O
espectador fica em dúvida se Kate e Spencer estão atuando ou vivendo o
inusitado dia-a-dia do romance que viveram por décadas, tão perfeitos eles são.
E ela ainda muito bonita. David Wayne excessivo parodiando Cole Porter de quem
se ouve no filme “Farewell, Amanda”. 10/10
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
A GUERRA DOS MUNDOS (The war of the Worlds), 1953
No início dos anos 50 a
ficção-científica tomou de assalto as telas dos cinemas com um grande número de
produções ‘B’, quase todas chamadas ‘Second Feature’. Era esse tipo de filme
destinado a complementar programas duplos e um deles, “A Guerra dos Mundos”, de
Byron Haskin, tornou-se um clássico do gênero. Com roteiro baseado no livro de
H.G. Wells, que Orson Welles também aproveitou para aterrorizar os Estados
Unidos em 1938 com seu programa de rádio, a Paramount caprichou na produção
quanto aos efeitos especiais (Oscar) e som. Los Angeles é o primeiro alvo da
invasão de marcianos que chegam à Terra em meteoros e são aparentemente
inexpugnáveis às armas dos terráqueos. Gene Barry é o cientista que enfrenta um
marciano quase num corpo a corpo e que em meio à invasão que se espalha pelo
resto do mundo encontra tempo para namorar Ann Robinson. Esta sci-fi realizada
em tempo de guerra fria tem, como não poderia deixar de ser, um viés político e
demonstra o medo dos norte-americanos ante o poderio comunista. Um final piegas
compromete a trama que é desenvolvida com bom ritmo por Haskin, um homem que
fez de tudo no cinema. O ainda desconhecido Gene Barry exibe sua canastrice que
renderia muito melhor como Bat Masterson. 7/10
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
O PROFESSOR ALOPRADO (The Nutty Professor), 1963
Maior que o talento de
Jerry Lewis apenas seu ego. Em diversos filmes o fantástico cômico tentou
mostrar facetas diferentes dos idiotizados personagens que tanto sucesso
fizeram, sozinhos ou em dupla com Dean Martin. Jerry queria mostrar que sabia
dançar e cantar sem deixar de ser engraçado, ele que já dominava como poucos
também as artes de escrever para cinema e dirigir filmes. A história de Robert
Louis Stevenson com Dr. Jekyll transformando-se em Mr. Hyde possibilitava uma
adaptação ideal para Jerry mostrar diferentes facetas, ainda que alguns vejam
em ‘Buddy Love’ uma vingativa caricatura de Dean Martin. Seja isso ou não, são
os textos em que Jerry encarna o magnético Buddy Love o ápice de “O Professor Aloprado”,
com diálogos excepcionais, dignos da verve de Billy Wilder. Jerry é um
professor feio, atrapalhado e com voz esganiçada que cria em laboratório uma
bebida que faz dele um irresistível sedutor com talento musical e bela voz. Com
isso conquista a encantadora aluna Stella Stevens, numa excelente comédia, não
perfeita por alguns excessos de Jerry. Mais uma vez ele faz uso de deliciosos
standards da melhor canção norte-americana com a presença da orquestra de Les Brown.
O melhor filme de Jerry. – 8/10
CINDERELO SEM SAPATO (Cinderfella), 1960
Jerry Lewis marcava cada um
de seus filmes com sequências antológicas, como nesta comédia dirigida por
Frank Tashlin, quando Jerry acende o cigarro de Henry Silva. Momento tão
hilariante quanto todos aqueles que Jerry desenvolve mesmo sozinho em cena.
Assim como Fred Astaire era transformava qualquer objeto em partner de danças
maravilhosas, Jerry é capaz de brincar com qualquer coisa, sempre de forma irresistivelmente
engraçada. “Cinderelo Sem sapato” é mais lembrado justamente pelos formidáveis
números de dança do Rei da Comédia. E ao som extraordinário de Count Basie os
divertidos passos que Jerry inventa se tornam ainda mais impressionantes
perfeitamente sincronizados com a música encantadora do band-leader. “Cinderelo
Sem sapato” inverte a clássica história de Cinderela com Jerry sendo o irmão
maltratado pela madrasta e pelos irmãos. Judith Anderson, Henry Silva e Robert
Hutton formam o trio cruel enquanto Ed Wynn é o fado-padrinho que transforma Jerry
num elegante pretendente da princesa Anna Maria Alberghetti. Comédia imperdível
da parceria Jerry Lewis-Frank Tashlin com o ator se metamorfoseando, o que
também aconteceria na sua obra-prima “O Professor Aloprado”. - 7/10
A FILHA DE RYAN (Ryan's Daughter), 1970
Entre os épicos filmados
por David Lean este foi o menos bem sucedido comercialmente e execrado pela
maior parte da crítica. Lean filmou a história escrita por Robert Bolt, e que
lembra “Madame Bovary”, ambientada na Irlanda durante a I Grande Guerra e deu
dimensão gigantesca a um triângulo banal. As imagens da pequena vila construída
para o filme e especialmente as deslumbrantes tomadas feitas na praia
impressionam bastante e amenizam a trama que se arrasta interminavelmente.
Seria mesmo necessário fazer um filme tão longo ou Lean desaprendeu na ‘fase
épica’ como encantar o público como o fez com “Desencanto” em seus meros 86
minutos? Só John Mills com seu grotesco personagem do bobo da aldeia permanece
esse tempo na tela. Sarah Miles é fraca para interpretar uma personagem como a
filha de Ryan, mas nada que se compare com o insípido Christopher Jones,
escolhido talvez por lembrar Alain Delon. Brilha intensamente Trevor Howard
como o compreensivo padre e, como não poderia deixar de ser, Robert Mitchum.
Sempre vemos Mitchum compondo tipos fortes e desta vez como o marido sofrido
ele nos mostra o excepcional ator que era. Acredite quem quiser: a terrível
trilha musical é assinada por Maurice Jarre. 6/10
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
PÔQUER DE SANGUE (5 Card Stud), 1968
Um ano antes de dirigir John
Wayne no sucesso que foi “Bravura Indômita”, Henry Hathaway realizou este faroeste
que poderia ser classificado como western-mistério. Após um jogo de pôquer
ocorre um linchamento e um a um os jogadores daquela rodada fatal são mortos
por estrangulamento. Quem será o assassino? Robert Mitchum relembrando o
pregador de “Mensageiro do Diabo” ou o quase afeminado Roddy McDowall? Esta
duvida não perdura mais que uma sequência. Bastante movimentado, com lutas
corporais violentas e diversas disputas a bala, “Pôquer de Sangue” não conta
com muito empenho de Robert Mitchum e menos ainda de Dean Martin, os astros que
dão maior importância a este faroeste. Inger Stevens em seu último filme (antes
de cometer suicídio) interpreta uma prostituta que disputa Dean Martin com
Katherine Justice, ambas dispensáveis na trama. O ator negro Yaphet Kotto e a
veterana Ruth Springford têm boas participações e uma lista de bons coadjuvantes
e alguns stutmen completam o elenco. Dean Martin canta a canção-título de
autoria de Ned Washington e Maurice Jarre, música que toca incidentalmente
durante todo o filme. Tanto Hathaway quanto Bob Mitchum e Dean Martin tiveram
dias melhores em outros westerns. 6/10
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
A ESTRADA DOS HOMENS SEM LEI (The Racket), 1951
A RKO estava sob o comando
de Howard Hughes que fazia o que podia para quebrar o estúdio no tempo em que
este policial noir foi produzido e alcançou relativo sucesso. E poderia ter
sido um filme muito melhor caso a história original fosse respeitada com Robert
Ryan como o gângster sádico e Robert Mitchum como policial corrupto. Se Ryan
está excelente, Mitchum pouco se interessa por personagens certinhos como o
dedicado chefe de polícia empenhado em colocar fim ao crime organizado e à
corrupção política que andam juntos. A história se passa numa cidade não
identificada assim como o principal membro da organização não aparece e é misteriosamente
chamado apenas como ‘Velho’. Não falta a cantora de night-club ligada aos gângsteres
(Lizabeth Scott) e um sargento corrupto (William Conrad), a exceção pois
William Talman representa exemplarmente o policial honesto que perde a vida na
luta contra o crime. A direção foi creditada a John Cromwell, embora se saiba
que Nicholas Ray dirigiu várias sequências. Alguns bons momentos de ação neste policial
noir com trama sempre previsível. 6/10
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