Wim Wenders diz que Yasujiro
Ozu é seu único mestre, considerando o cinema do diretor japonês “um tesouro
sagrado”. Wenders descobriu Ozu em 1973, mas antes disso o falecido crítico
Ronaldo Monteiro (“Correio da Manhã”/RJ), já chamava a atenção para o particularíssimo
estilo de Ozu, praticamente desconhecido no Ocidente. Sua obra-prima é “Contos
de Tóquio”, também conhecida por “Viagem a Tóquio” ou “Era Uma Vez em Tóquio”,
hoje reconhecido quase unanimemente como um dos melhores filmes de todos os
tempos. Falando da velhice de um casal e do descaso dos filhos, esta é uma película
que penetra tristemente na alma de quem o assiste. “Contos de Tóquio” é de uma
singular simplicidade marcada essencialmente pela câmara estática sempre rente
ao chão e a concisão de movimentos e diálogos. Quase uma crônica observando os
comportamentos dos personagens, predominam o silêncio e a melancolia mesmo que
Ozu jamais dramatize o sofrimento e a fatalidade. As atrizes Setsuko Hara e
Haruko Sugimura são os destaques maiores do elenco perfeito deste notável
filme. Possivelmente inspirado em “A Cruz dos Anos” (1937) de Leo McCarey,
certamente motivou “Em Família” (1971), o doloroso drama familiar de Paulo
Porto com Fernanda Montenegro e Odete Lara. 9/10
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