Qual a melhor interpretação
de Anthony Quinn no cinema? Difícil responder entre tantos excepcionais
trabalhos, mas, como ‘Mountain Rivera’, Quinn teve atuação extraordinária. Escrito
como teleplay por Rod Serling e exibido na TV em 1956 (com Jack Palance como
Rivera), este filme de apenas 85 minutos narra a decadência de um pugilista e
como funciona o submundo da chamada ‘Nobre Arte’. Após 17 anos enfrentando
pesos-pesados, Mountain Rivera luta contra o jovem Cassius Clay (Mohamad Ali, ele
mesmo) e um golpe em seu olho encerra sua carreira. O grandalhão Rivera tem o
rosto desfigurado, sua fala não tem articulação normal e ele tenta, sem
sucesso, outra atividade. Seu empresário (Jackie Gleason) está encrencado com
mafiosos e para salvá-lo Rivera termina envergonhado como índio num ringue de
luta-livre. Próximo da força do clássico “Punhos de Campeão”, de Robert Wise, o
maior problema desta estreia de Ralph Nelson no cinema é a inconvincente
presença da assistente social tentando ajudar Rivera. Além da notável atuação de
Anthony Quinn, o filme tem as ótimas presenças de Gleason, Mickey Rooney e da
sempre brilhante Julie Harris. Quinn trabalhou neste filme num intervalo de
dois meses das filmagens de “Lawrence da Arábia”. – 8/10
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
sábado, 8 de fevereiro de 2020
ULYSSES (Ulisse), 1954
Kirk Douglas exultou quando
foi convidado para filmar na Itália uma aventura de capa-e-espada, gênero no
qual seu amigo (e rival como astro) Burt Lancaster fazia muito sucesso. Mais ainda
porque a história seria baseada na Antiguidade Clássica, mais precisamente na “Odisséia”,
o poema escrito por Homero e ele Kirk interpretaria Ulysses, o herói grego.
Nada menos que sete roteiristas trabalharam na adaptação para contar como Penélope
(Silvana Mangano) passou dez anos esperando pelo marido Ulysses que, desde a
guerra de Tróia, não mais retornou para Ítaca, onde era rei. Ulysses enfrentou
tempestades, canto de sereia, o gigante Polifemo (cíclope de um só olho), um
campeão de luta grega, caiu nos braços da bruxa Circe, se enamorou de uma princesa,
perdeu a memória e enquanto isso vários pretendentes queriam desposar Penélope,
entre eles Telêmaco (Anthony Quinn). No dia do casamento de Penélope com
Telêmaco, Ulysses reaparece e toma seu lugar. “Ulysses” é um dos precursores do
‘Peplum’, gênero que dominaria o cinema italiano de 1958 a 1964 e Kirk Douglas
parece ser o único a levar o filme a sério com uma interpretação transbordando
de energia e vibração. Silvana Mangano interpreta dois papeis, ambos com a
mesma expressão apática. Anthony Quinn aparece por minutos, infelizmente. 6/10
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
O NONO MANDAMENTO (Strangers When We Meet), 1960
História bastante ousada
para o fim da década de 50, tempos em que o cinema ainda não discutia
abertamente o tema ‘adultério’. Larry Coe (Kirk Douglas) é um arquiteto que se
apaixona por Margareth ‘Maggie’ Gault (Kim Novak). Ambos são casados e têm
filhos mas o casamento dela vai mal, enquanto ele se deixa levar pela paixão
que logo também domina Maggie. A ação se passa num subúrbio de classe média de
Los Angeles e Coe está construindo uma casa para um escritor bem sucedido
(Ernie Kovacs) em Bel-Air, onde moram os milionários. À medida que a casa toma
forma aumenta o amor adúltero entre o arquiteto e Maggie. Eve (Barbara Rush), a
esposa de Coe, descobre a traição e ele se vê diante do dilema de manter o
casamento ou tentar uma nova vida com Maggie. Os melodramas atraíam multidões
nos anos 50 e Douglas Sirk era cultuado como mestre do gênero. Estranhamente
este excelente filme coproduzido pela Bryna de Kirk Douglas e dirigido por
Richard Quine foi mal recebido pela crítica e é um dos menos conhecidos do grande
ator. No entanto a história é bem narrada e envolve inteiramente o espectador crescendo
magnificamente em seu final. Kirk Douglas intenso como de hábito, Kim Novak com
boa atuação dentro de seus limites artísticos e Barbara Rush é quem brilha como
a esposa enganada. Ninguém faz melhor um tipo canalha que o ótimo Walter
Matthau. 8/10
domingo, 2 de fevereiro de 2020
DÁ-ME UM BEIJO (Kiss me Kate), 1953
Poucos são os filmes dos
quais podem ser listadas dez razões para serem assistidos. “Dá-me um Beijo”,
musical dirigido por George Sidney é um deles. Eis dez motivos: 1) É uma peça
clássica de Shakespeare transformada em musical. 2) As canções são todas do
genial Cole Porter. 3) Ann Miller está mais esfuziante e bonita que nunca (ah,
que pernas!). 4) A simpatia e o vozeirão de Howard Keel. 5) A graça e a bela
voz de Kathryn Grayson. 6) James Whitmore e Keenan Wynn impagáveis como gângsteres.
7) O jovem Bob Fosse apresentando seu talento a Hollywood. 8) Carol Haney
dançando com Bob Fosse. 9) Os magníficos cenários medievais da peça. 10) É um
musical da Metro. E ainda há a interessante trama: Cole Porter escreve um
musical baseado em “A Megera Domada” e quem vai interpretar ‘Petruccio’ é Fred Graham
(Howard Keel) enquanto ‘Katherine’ é Lilli Vanessi (Kathryn Grayson). Fred e
Lilli são divorciados e a apresentação os reaproxima mesmo transferindo suas animosidades
pessoais para os personagens. Canções inspiradíssimas de Cole Porter e
coreografia admirável de Hermes Pan transmitem irresistível alegria. Além do
talento do grande elenco que sabe cantar e dançar há um número engraçadíssimo
com James Whitmore e Keenan Wynn. “Dá-me um Beijo” é desses filmes que nos
deixa tristes quando termina, mais ainda porque esse gênero maravilhoso estava
com os dias contados. 10/10
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