terça-feira, 30 de julho de 2019

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (It’s a Wonderful Life), 1946


É chamado de ‘Americana’ aquele padrão de filmes que aborda a vida dos estadunideneses nas pequenas cidades. John Ford e Frank Capra eram especialistas neste tipo de trabalho e é de Capra um dos clássicos da ‘Americana’ produzida por Hollywood. A história se passa em Bedford Hills onde vive George Bailey (James Stewart) dono de uma financeira que generosamente e sem visar lucro faz com que os pobre da cidade consigam sua casa própria. Mr. Potter (Lionel Barrymore) é um poderoso financista que quer ver o fim de Bailey e de seu projeto. Potter consegue arruinar Bailey que vê no suicídio sua única saída, mas não contava ele com o aparecimento do anjo Clarence que o faz ver como seria o mundo seu suas tantas boas ações. Toda a cidade então ajuda Bailey que é salvo da bancarrota e descobre que sua vida é maravilhosa demais para ser desperdiçada. Capra era o mestre do otimismo dosando seus filmes com humor e sentimentalismo. Neste “A Felicidade Não se Compra” o humor não funciona, assim como quase nada na primeira metade da película. Quando o drama de Bailey se torna mais intenso o filme cresce e é impossível não se emocionar até porque James Stewart tem a melhor atuação de sua carreira. Donna Reed enternece como a esposa sofrida e Gloria Grahame, Ward Bond e Thomas Mitchell são parte de um grande elenco. Um dos filmes mais amados e assistidos pelos norte-americanos. 9/10




segunda-feira, 29 de julho de 2019

LARANJA MECÂNICA (A Clockwork Orange), 1971


Nenhum outro cineasta criou cenários tão impressionantes quanto Stanley Kubrick para sua fantasia futurística baseada no livro de Anthony Burgess escrito em 1959. Para seu tempo esta obra de Kubrick foi considerada ultraviolenta sendo que, ainda hoje choca pela brutalidade. A selvageria exposta na tela ganha contornos de maior crueldade com a música (Beethoven, Rossini) e a câmara inquieta sempre em busca de ângulos inusitados. Por momentos Kubrick dá a impressão de haver reinventado o cinema tal o deslumbramento que provoca com este filme excepcionalmente original. “Laranja Mecânica”, estranhíssimo título que a rigor nada significa, conta como Alex de Large (Malcolm McDowell), líder de uma gang, comete um assassinato, é preso e para poder sair da prisão aceita ser voluntário num programa de reabilitação. O programa ao qual é submetido o torna um ser com total aversão à violência, programa que visa reduzir a população carcerária com fins políticos. Kubrick é lembrado por ser o mais meticuloso dos cineastas e isso é notório na notável composição cinematográfica que obtém. Difícil então entender como esse diretor permitiu interpretações pavorosas como as do escritor, do oficial chefe da prisão e do inspetor correcional, todas em muito ultrapassando o ridículo. Há muito sexo e sadismo, mas é a inesquecível criação de Malcolm McDowell que torna obrigatório este filme imperfeito. 8/10.


quinta-feira, 25 de julho de 2019

UM CORPO QUE CAI (Vertigo), 1958


Alguns clássicos precisam ser revistos de tempos em tempos; uns melhoram a cada revisão, outros não e este é o caso do tão aclamado “Vertigo”. Este Hitchcock passou da categoria de ‘cult’ (deixou de ser exibido por mais de 20 anos) para ser considerado o melhor filme de todos os tempos na enquete decenal da revista Sight & Sound de 2012 desbancando “Cidadão Kane” que desde 1962 ocupava essa posição. Porém “Vertigo” é hoje um filme superestimado. Possui qualidades mas seus muitos furos o comprometem, mais ainda quando se sabe que foi um dos filmes mais ‘caprichados’ de Hitchcock. O Mestre do suspense costumava dizer: “Quem quiser plausibilidade, não vá ao cinema”, mas o que não falta em “Vertigo’ são implausibilidades, da primeira à última sequência. Sem suspense e sem a mínima dose de humor, esta película só começa realmente, pouco depois da metade, após ser desvendado o mistério da morte de Carlotta Valdez, para tristeza dos fascinados por Psicologia. É quando o detetive aposentado (James Stewart) apaixonado pela jovem Judy (Kim Novak), a transforma em Carlotta para tudo terminar com uma malfeita queda do alto da missão e a inexplicável cura da acrofobia. Além da excelente atuação de Stewart, a música de Bernard Herrman e a fotografia de Robert Burks enriquecem “Vertigo”, no qual Hitchcock faz milagre conseguindo uma interpretação razoável da inexpressiva Kim Novak. 7/10